...e depois, com bigodes de leite, pedem mais paciência e esforço ao povo, que a "vaca 'tá seca".

quarta-feira, 18 de maio de 2011

CONVERSAS DA TRETA


Numa linha de produção, entre o tagarelar das máquinas, as conversas são como as cerejas.
Hoje, de Fátima (é um milagre, Mila, é um milagre!) e do Strauss-Khan passou-se para as novas oportunidades, daí para o aborto, depois as touradas, a pesca, o trabalho e o país.

O meu companheiro de labuta resolveu dizer achava mal que a IVG não pagasse taxa moderadora, ao contrário duma perna partida, e que era contra o aborto. É tema para usar pinças, cada qual tem a sua opinião e pronto. Apenas me meti com ele, "isso não é coisa que diga um Homem de esquerda".
Retorquiu que era contra tirar qualquer vida.
- Então também é contra a tourada. [escapatória para mudar de assunto]
- Não.
- E contra a caça?
- Isso não conta, é para comer.
- Comer é um efeito secundário, a caça é para sair cedo de casa com os amigos, falar de mulheres, cravejar animais de chumbo, mandar os cães apanharem os bichos e voltar para casa com os coelhos pendurados no atrelado da toyota, para mostrar aos outros, tipo a minha-pilinha-é-maior-que-a-tua.

Bem sei que é uma descrição redutora, mas não é factualmente falsa.
Voltámos ao Sócrates (recorrente), a obrigações e deveres, e veio uma reclamação, a sua mulher professora gasta o papel e a impressora de casa, porque a escola não tem "consumíveis", blábláblá, e saiu-se com "eu não devo nada ao Estado, o Estado é que me deve a mim".
Tive então uma epifania, a frase resume a "Portugalidade": eu não devo (e só se for tolinho é que dou, se não for obrigado), o Estado é que (me) deve.
Se um político ousasse repetir Kennedy e dissesse "não perguntem o que o vosso país pode fazer por vocês, mas o que vocês podem fazer pelo vosso país", era vaiado.
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1 comentário:

  1. Diálogo diplomático e argumento astuto sobre a caça (a minha pilinha é a maior que a tua - ponto alto!).
    Tenho a mesma situação em casa sobre os tinteiros gastos para a escola: neste caso, tenho outro credor - a União Europeia - devido aos cursos financiados pelo fundo de coesão para o programa Novas Oportunidades que o Sócrates usa como propaganda.

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