...e depois, com bigodes de leite, pedem mais paciência e esforço ao povo, que a "vaca 'tá seca".

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

ISTO PROMETE!!!


20 meses após os únicos aumentos reais da função pública da última década e da descida do IVA em 1%, 1 ano após capitular nas avaliações/progressões dos professores, semanas depois do Tribunal de Contas explicar como o Estado esbanja metodicamente milhões nos contratos com privados, 1 semana após descongelar as progressões dos polícias, apenas 1 dia após o ministro da Economia insistir que o TGV avança daqui a meses… porrada da grossa - à hora de jantar, refeição estragada - em aviso a duas vozes, Sócrates responde e passa a palavra a Teixeira.
Curiosamente, hoje joga o Benfica na Champions, e o último grande aumento de impostos foi anunciado no dia em que essa gente ganhou o campeonato.
A avaliação do Jerónimo podia adivinhar-se, “uma brutal ofensiva sobre os trabalhadores”.

Vamos por partes. Melhoria na receita (eufemismo para assalto fiscal): aumento do IVA em 2% para 23% (era 17% há 7 anos, alguém se lembra?), aumento das taxas na justiça (que justiça!) e na administração interna, aumento em 1% nos descontos para a Caixa Geral de Aposentações, um imposto especial para a banca – a única medida consensual, a ver se é verdade… - corte nos benefícios fiscais (em particular no IRC, disseram). Teixeira dos Santos acrescentou a transferência do fundo de pensões da PT, com 2100 milhões de euros, para pagar os 2 submarinos contratados em 2004 – esqueceu-se é de dizer que o concurso dos submergíveis é do tempo do Guterres, e que esse fundo não é um presente, é um depósito que obriga a dividendos nas próximas décadas…
Diminuição na despesa: diminuição de contratados pelo Estado, na comparticipação de medicamentos e exames médicos, no ADSE, na despesa com ajudas de custo e horas extraordinárias; proibição de acumulação de salários e pensões (vá lá), corte de 5% na massa salarial (entre 3.5 e 10%, para os afortunados que ganham mais de 1500€ brutos), congelamento dos investimentos públicos em 2010, pensões e progressões nas carreiras, eliminação dos 4º e 5º abono de família.

Conclusões:
1. Sou rico. Porque eu a a Susana ganhamos juntos mais de 629€, adeus abono de família.
2. Sou sortudo. Funcionário público, vou receber menos, descontar mais, ter menos comparticipações e pagar mais impostos e portagens. Isto depois de, há 3 meses, já ter passado a pagar mais IVA e IRS.
3. Sou ingrato. Almeida Santos disse “feliz é o país que tem um governo capaz de tomar medidas impopularíssimas como estas”.
Pois.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

NA MESMA COMO A LESMA


Quando o poeta António Nobre foi ao consulado de Paris e se confrontou com o preço duma certidão, o cônsul Eça de Queirós (sim, o que inventou o Conselheiro Acácio) referiu-se assim ao Estado que representava “Este Estado é um ladrão! Vamos a ver se posso torcer-lhe o artigo (da lei), aplicando-lhe outro mais em conta”.

Por essa altura, em 1892, o ministro da Fazenda Oliveira Martins agravou impostos, cortou admissões na FP e reduziu os salários dos funcionários (até 20%), sem protestos. Dixit “Isto nem forças tem para se sublevar. O cáustico dos impostos e deduções quase que foi recebido com bênçãos. Somos um povo excelente cujo fundo é a fraqueza bondosa e uma grande passividade.”

2 pequenas histórias sobre Portugal. A mesma opinião sobre o Estado, ao mesmo tempo que lhe "damos a volta". A mesma apatia com que apertamos o cinto.
Tudo muda para tudo ficar na mesma, não é?

terça-feira, 21 de setembro de 2010

FALTA-ME QUALQUER COISA



Talvez tenha deixado de fumar hoje.
Eu e a Susana fomos a uma clínica numa vivenda incógnita no Porto. Como o tratamento passa por hipnose, ela ‘tava com medo de dizer baboseiras na consulta. Como íamos os 2 parar no mesmo dia, eu receava que o stress a dobrar acabasse numa “Guerra das Rosas”, lembram-se do filme?
É suposto uma hipnose ligeira (grau 3 em 10, ouvimos e lembramos tudo) conseguir que os cigarros nos saibam mal e substituir a vontade de fumar por beber água – a ser verdade, vou rebentar, água já eu bebo aos litros.
Não sei se estive semi-hipnotizado. Abri os olhos antes do tempo, sem deixar o psicólogo completar a frase “vai abrir os olhos..... quando disser 3”, mas voltei a fechá-los sem que o senhor desse por nada, e fui muito obediente até ao fim. O nome também não ajudou, o Doc ia-me tratando por Dr-António-Luís e não há uma alminha que me trate assim, como é que o Id vai ligar?
Estávamos autorizados a divagar sobre o que nos desse na gama enquanto o Inconsciente – ou O Encoberto, como D. Sebastião – assimilaria as suas vagarosas palavras. Mas eu não deixei a mente correr, ouvi com fervorosa atenção tudo o que o Doutor disse, fazendo figas que conseguisse “dobrar” o Id, porque o consciente não estava convencido dos resultados duma terapia em que se ouve, sussurra e pausadamente, “não vais vencer porque tu és apenas um rolinho de erva embrulhado em papel, é o que tu és".
Depois, mea culpa, falar em alcatrão a depositar-se no fígado não impressiona quem examina diariamente entranhas a animais, qual oráculo romano, e visualizar a imagem do “fumo espesso” do cigarro até é uma imagem atractiva.

Esta é a minha terceira – e última, qualquer que seja o desfecho – tentativa para deixar de fumar. À primeira, na Nãofumomais, comprei 3 frasquinhos de gotas e choques eléctricos nas orelhas (que melhor exemplo para os meus gaiatos, sobre o malefício do tabaco, pagar para ser electrocutado!!!) por 300€. 10 meses livre – atípicamente, pouco engordei, não senti mais energia e fôlego, nem melhorei o paladar ou o faro –, capital amortizado. E num fatídico sábado de manhã, praia de Varzim, Expresso, café... e 1 cigarro. Era só 1, claro.
A segunda, com comprimidos Champix, estava a correr bem até ter uma avaria muito improvável na minha vida, que mui me irritou, e a caixa ficou a meio. Todas as pessoas que conheço deixaram de fumar com esse tratamento, à excepção da minha mãe – “a vontade de fumar não passou”, não contava que tivesse que fazer por isso.

P.S.: À hora em que escrevo, não estou com a boca pastosa, sonolento, mais paciente ou sem preocupações (tábemtá!), nem tenho sede, como prometeu o Freud da Rua da Constituição. Mas não fumo enquanto me lembrar que paguei. E beyond, espero.

sábado, 18 de setembro de 2010

UM HÓSPEDE DE LUXO

Em 1534, o reino unido mudou de religião, porque Henrique viii quis divorciar-se e trocar uma católica por uma protestante, cortar-lhe a cabeça e voltar atrás, até à última das 6 mulheres o fazer outra vez mudar de crença. Isto tudo, deixando milhares de corpos pelo caminho. Por causa da volubilidade passional dum homem, passou a haver outra “fé”, termo agora usado por Isabel ii.
Esta é a primeira visita oficial dum papa ao país, desde então. O governo inglês aceitou pagar metade da visita de Estado. Ao todo, por uns 3 dias, 14 milhões de euros!!!! Uma pregação bem cara, não acham?

É legítimo que a igreja tenha, expresse e pugne pelas posições sócio-morais que julga correctas, o seu azar é que cada vez menos gente lhe liga.
Há dias, o Santo Padre voltou a afirmar que a Igreja não aceitará as novas formas de família, if you know what I mean. E, volta não volta, reduz-se o sexo à procriação – tirando uns padres (não representativos da organização, enfatizo) que adoram meninos com cara de anjo – e lá vem a cruzada contra o aborto. Se calhar é por isso tudo que o papa me faz sempre lembrar a música antiguinha dos Monty Python intitulada “every sperm is sacred".

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

AINDA NÃO!!!



Tá tudo a bater nos quarenta. Taça-taca-taca, uns atrás dos outros. Às dezenas, neste ano e no próximo, a sair dos trinta, em que somos só “crescidinhos”, uns pós-jovens a quem se ainda desculpam os disparates. O que vale é que vamos acompanhados.
Na verdade, tem a mesma importância da passagem do ano, é só mais um dia: não acordamos com “cruzes” ou cãs. Mas não deixa de ser um selo (de lacre, digo eu), uma passagem, um número sonante – é um número demasiado drástico para a idade que eu tenho...
Aos 40, é oficial e irreversível: somos senhores – embora não o sintamos ou ainda não nos apeteça sê-lo. Devo dizer que, assim de repente, não sei onde estará a ternura dos quarenta: mais uns pozinhos e metade já cá canta, ou adaptando Mário de Andrade, temos tanto passado* quanto futuro. E menos tonicidade cutânea, já agora.
E não venham com a história da sabedoria, razão tem Tom Sheppard, “penso que a idade é um preço muito alto que temos que pagar pela maturidade”.
E dadas tantas as decisões que já tomámos – a dedicação na escola (a primeira e mais importante escolha), aquele curso, aquele primeiro emprego (ou a recusa dum outro), viver naquela terra, casar naquela altura com aquela pessoa, ter filhos –, é caso para dizer alea jacta est, os dados foram lançados! E fica sempre o SE, pois apenas uma pequena mudança na rota podia ter resultados irreconhecíveis, um professor obeso de Viseu podia ser hoje um espadaúdo médico na Somália. Quem viu os filmes “O efeito borboleta” ou “Duas vidas” compreende o que quero dizer.
Enfim, dá para perceber que não me está nada a apetecer. Há dias esteve cá em casa um miúdo que suspirava “faço anos em Novembro, falta tanto…” e eu respondi “eu faço 40 daqui a um ano e falta tão pouco, deixa o tempo correr devagarinho”. Ninguém tá bem com a sorte que tem.

* Quantas vezes dizemos entre amigos “não te lembras de…” e é algo com quase um quarto de século, uma boa talhada de tempo?

A GERAÇÃO SEGUINTE



Não a despropósito, “Uma no bravo e outra da ditadura” é o novel documentário-filme de André Valentim Almeida, sobre a geração nascida por alturas do 25 de Abril. Uns 4-5 anos mais nova que nós, que “já estávamos em algum lugar no 25 de Abril”, como diria o herman.
Também eles são do tempo em que havia menos de tudo: estradas, marcas, canais de tv, jogos, até restaurantes étnicos. Eles foram os últimos a entrar mais ou menos rapidamente no mercado de trabalho, os últimos que “cresceram a ver as mesmas coisas”: havia 1 canal e ½ e a televisão era o centro da casa (com dias e horas, o telejornal demorava 30 minutos, dava a novela e o filme começava às 9.30 – uma horário de jeito), todos viam o mcgyver e aquele carro comandado por um piroso que dizia kit-te-necessito, todos assistiam à votação de Faro no festival das canção. Enfim, todos partilhavam um “património de referências comuns” – nesse aspecto, era uma geração monolítica.
Padecendo de saudosismo precoce, são os últimos que se lembram vagamente de antiguidades como o beta e o vhs, os telefonemas na cabine, as calças boca-de-sino, o calcanhar do Madger: “Passaram da idade da pedra para a supermodernidade"* disse Hugo Mãe, e nem o mais crente acreditava que todos teriam pc e que todos os computadores iam estar ligados - "é uma geração que não é completamente antiga, mas também não é completamente moderna, como aqueles cidadãos sem-pátria” definiu Pedro Mexia.
A geração pisang ambom, como lhe chama Pedro Ribeiro (pois esse tantum verde era a bebida mais radical que havia), a quem foi permitido ser infantil até muito tarde, teve mais anos de escola para tentar chegar a ter tanto como os pais, privatizou a felicidade e substituiu as grandes aspirações e causas da democracia e liberdade (a maioria dos pais não as tinha, mas isso é outro rosário…), por problemas banais da vidinha de cada um – mas isso é bom!, é sinal que os grandes problemas estão resolvidos, acha João Pereira Coutinho.
Bem, é 1 hora de película. Vá, abdiquem dum episódio de novela ou do CSI.

* O sentimento não é original. O escritor Ramalho Ortigão sentiu o corte com o passado, em 1887: “Dir-se-ia que os nossos pais morreram para nós muito mais completamente do que morreram para eles os seus avós e os seus bisavós, levando consigo, ao desaparecerem, tudo quanto os rodeava na vida: a casa, o jardim, a rua que habitavam.”

terça-feira, 14 de setembro de 2010

A JESSICA ISABEL E A CONSTANÇA


Hoje foi o 1º dia de escola do meu mai’ novo, ontem foi a apresentação. Naturalmente, o que o pai espera é que a turma seja homogénea, para que eles aprendam o mais possível. Não é.
A escola pública é de facto um nivelador social, uma bimby que mistura pobres e ricos, filhos de iletrados e infantes de doutorados, bairros sociais e condomínios privados, C&A versus D&G. No “meu” 1º D, uma feirante queria saber como podia impedir a mãe da criança de levá-la à saída, pois o companheiro tem a guarda da petiza, e uma executiva queria saber se podia ser a ama (presente na reunião) da Constança a levá-la para casa…
Aliás, os papás desta futura debutante devem ter saído a correr à procura de vaga no Luso-Francês, depois de verificarem que a sua asséptica donzela, de trança irrepreensível, terá 4 ou 5 parceiros ciganos.
O que deixou os pais todos de queixo caído foi saberem que o 1ºD também é 4ºD: além dos 16 caloiros, há 8 miúdos do 4º ano, que “não estão ao mesmo nível” dos outros, eufemismo para deviam-chumbar-mas-é-muito-complicado. Conforme a versão, as profs das 4as classes borregaram à última hora ou o Sr. Director Regional de Educação não aceitou turmas pequenas e, em vez de repetirem o 3º, vão para o 1º. A lei permite turmas mistas, mas isto não serve a ninguém, nem aos iniciados, nem ao professor, nem aos humilhados “finalistas”. O prof recomendou que não levassem lápis do mickey&Ca para os miúdos não se distrairem, mas dar 2 matérias à vez já não dispersa!
E a escola? Bem, a escola está incluída no grande investimento público da renovação do parque escolar, abre daqui a ano e meio. Por ora, a escola é um grupo de contentores encavalitados num gaveto emprestado pelo Belmiro.

Antes isso que fechar, como uma das 700 encerradas este ano (à Jogos sem Fronteiras, Lamego lidera com 21). Candidatas a ganhar pó ou a serem reconvertidas em restaurantes (Milfontes), juntas de freguesia (Paredes), jardins-de-infância (Lamego), centros de dia para idosos (Chaves), ranchos de folclore, clubes de caçadores, igrejas (Odemira), museus (Caldas da Rainha), centros de Novas Oportunidades, ou habitação (Amarante). Casas giras!!!
Parece-me é que ninguém quer viver onde não trabalha e onde os filhos não estudam, o interior continuará a definhar. Acho.
A medida talvez acabe por ser positiva, faz-me é alguma confusão que uma hora diária de autocarro a milhares de crianças com 6 anos seja menos importante que o stress causado a uma loba e 3 crias perante a visão de torres eólicas e cabos de alta tensão – parando há quase 2 anos um investimento de 600M€ da Ventinvest (consórcio liderado pela Galp) entre Armamar e Moimenta da Beira, a aguardar autorização do Ministério do Ambiente. Ironicamente, prós lados de Lamego.

sábado, 11 de setembro de 2010

PÕE NA CONTA!!!


Desde o início do ano, a dívida pública aumentou 2,67 milhões de euros à hora (o ritmo cresceu para 5 milhões/hora em Julho). A esta velocidade, a autorização parlamentar para aumentar este ano a dívida em 17.400 milhões de euros esgotou-se a 1 de Setembro.
Estamos alegremente a acelerar para o desfiladeiro. E, no estio, o povo não liga, quase assobia a cantilena “sr. Condutor, se bater não faz mal, vamos todos para o hospital…”
A pessoa a quem, indignado, li os números, não levantou os olhos do seu livro. Talvez pense que não há nada a fazer, e o que não tem remédio remediado está, ou pense “enquanto o pau vai e vem, folgam as costas”, até ao próximo apertar de cinto, aumento de impostos, taxação de SCUT. Que sera sera!
Esta notícia recordou-me a Ferreira Leite, que nos alertou para a deriva do Estado, qual Cassandra – embora a senhora esteja longe da imagem da grega, com longos cabelos enovelados e seios sensuais, vestindo uma toga e com pulseiras nos antebraços nus.

Nas previsões do World Economic Outlook, publicado pelo FMI em Abril, espera-se que o PIB português seja ultrapassado em 2015 por 11 países: Egipto, Nigéria, Malásia, República Checa, Roménia, Hong Kong, Chile, Israel, Irlanda, Filipinas e Singapura. Vá, alguns desses países têm muita gente, mas e a Roménia?
Também há previsões para o PIB per capita, que anula as diferenças populacionais. Aí são 6 os países que passam à nossa frente: a mesma República Checa (com população semelhante), Coreia do Sul, Taiwan, Bahrein e Omã. Asiáticos, ou petróleo, tá explicado. Não há que ter vergonha.
Ah, esquecia-me dum país. Porque raio é que vamos ser ultrapassados por Trinidad e Tobago?

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

STAY CALM!!!


31/08/2010
Situação: explode um dos motores num avião australiano, ardendo durante 20 minutos. Passageiros assistem em pânico, quem acredita (e quem não acredita lá muito, mas vale tudo) reza.
Ao fim de algum tempo, ouve-se a voz do comandante "Senhores passageiros, como calculam, temos estado atarefados aqui na cabina. Mantenham-se tranquilos, estamos preparados para resolver o problema. Claro que já lidámos com uma situação destas, mas foi em simuladores".
Não será a melhor forma de acalmar o povo, dizer que já resolveram casos destes, mas era a brincar...