...e depois, com bigodes de leite, pedem mais paciência e esforço ao povo, que a "vaca 'tá seca".

terça-feira, 31 de maio de 2011

PRIMAVERA DE PRAGA

 Casa Municipal
 Igreja Nª Sra. de Tyn
 Relógio astronómico - Câmara da cidade velha

 Casa dos minutos (1 morada de Kafka)
 Ponte Carlos (10x520m)
 Palácio real (o maior da Europa, 72.500 m2) e catedral de S. Vito

Praça pequena
Fizemos o “czech in” a 23/5. A primeira impressão teve a ver com a língua: as tabuletas são ilegíveis – quem entende uma palavra com 2 vogais, 6 consoantes e 3 acentos, incluindo circunflexos invertidos? – e os sons incompreensíveis: a gravação com os nomes das paragens do autocarro lembrava um campeonato de ginástica rítmica em Bucareste, quando davam as pontuações, 9.1, 9.4, 9.0.
E o povo, pá? Veste tão ‘bem’ e é tão ‘bonito’ como nós: há muitas Svetlanas como a Joana Amaral Dias, quantas Natalyas como a Odete Santos, parece que a idade é madrasta. Os louros são apenas uma (grande) minoria, mas olhos claros são quase metade. Existe ainda um grupo numeroso, muito gregário, de baixotes de cabelo escuro liso e olhos rasgados, que parece ligado ao sector da fotografia.
Têm, porém, uma característica que nos envergonha: durante toda a semana, as igrejas e salas de espectáculo enchem antes de jantar, com os indígenas bem vestidos para o teatro e música clássica.
Custo de vida: as coisas custam sensivelmente o mesmo que cá (25 coroas=1€), a cerveja é mais barata, mas existe um senão: paga-se 0.2€ eliminar os resíduos, incluindo na WC da McDonald (equivale a ¼ dum cheeseburguer). Claro que a parte nobre duma capital não vale pelo país, mas a quantidade de RR, maybach, maserattis, bentleys, porches, mercedes e bmw topo-de-gama devem dizer algo sobre a economia checa.
Sinal de atraso para quem não é adicto, como este escriba, pode fumar-se na maioria dos restaurantes - como na (recomenda-se) cervejaria da cave da Câmara Municipal, ao som do acordeão dum velhote mascarado de alpino. A propósito, os pratos nacionais incluem goulash, umas bolas de farinha e joelho de porco, mas os mais sensíveis têm comida internacional, significa italiano ou chinês.
Para ver, há imenso: os subúrbios são incaracterísticos como Lisboa, mas o centro da cidade é poesia. E lembra muitos outros lugares: o barroco de Salsburgo, com cúpulas pretas ou verde-taxi, as cervejarias bávaras, as paredes e tectos com pintura grosseira tipo mexicano, as quadrigas no topo dos prédios qual Gran Via madrilena, o stucco florentino, ou os quarteirões Arte Nova à Paris, com os seus florões e bustos de estuque ou os ferros forjados. Aliás, é um checo que ombreia com Toulouse-Lautrec como o principal ilustrador de cartazes publicitários arte nova, Alphonse Mucha.
Praga acumula estilos arquitectónicos, mas o que vemos são, em boa parte, réplicas ou reconstruções – muitos edifícios não sobreviveram à passagem dos séculos e à sorte das guerras (incluindo os finados da 2ª guerra mundial, quando os alemães não quiseram levar as munições na retirada, e morteiraram a cidade). Fez-nos lembrar a leva de restauros dos monumentos, obrigatoriamente ‘criativos’, que Salazar implementou nos anos 40. E restauro é uma palavra prudente, alguns foram erguidos do chão.
Mas encontramos também diferentes estilos nas mesmas construções, que se arrastaram como obras de santa Engrácia: a catedral do castelo (de S. Vito, S. Venceslau e St. Adalberto) foi lançada em 1344 e só ficou pronta em 1929, possibilitando-nos ver vitrais arte nova numa igreja gótica.
Vá lá, tirando alguns prédios bem dissimulados, os comunistas não plantaram na Praga antiga os típicos blocos espartanos ao estilo modernista soviete. E a maior estátua de Estaline do mundo, com 14.000 toneladas, foi arrasada há muito.
O museu do castelo constitui um problema: mostra roupas (a maioria cópia, os originais estão guardados), sapatos, jóias, moedas, cartas de outorga, espadas e selos reais com 600-900 anos, o que obriga a uma visita atenta, mas há pessoas, e não vou citar nomes, com menos paciência porque, dizem, não gostam de ver cacos.
Finalmente, a quem quiser visitar Praga enquanto não tiver euros, cuidado com os cambistas: confirmem primeiro o câmbio, ou trocam o vosso dinheiro pelo limite mínimo – e depois, subitamente, eles deixam de perceber inglês.
P.S.: tirando o mural de John Lennon, vimos apenas uma parede ‘espichada’. Em português.
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UM BOLETIM DE VOTO TEM
MAIS FORÇA QUE UMA ESPINGARDA

Abraham Lincoln
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segunda-feira, 30 de maio de 2011

É MUITO ESTILO

BB, foto de Avedon

Gunther Sachs, herdeiro, industrial, investidor, coleccionador de arte, fotógrafo e desportista, suicidou-se a 7 de Maio no seu luxuoso chalé em Gstaad. Pobre fim para um dos mais célebres playboys do século passado, nascido no germânico palácio de Mainberg.
Uma das suas histórias mais conhecidas prova como viveu: conquistou a sua mulher em Saint Tropez, dias depois de conhecê-la, mandando atirar milhares de rosas dum helicóptero, sobre a piscina da mansão da nobre dulcineia. A sua graça, Brigitte Bardot.
O casamento não durou muito (um ano com BB são 10 anos com qualquer outra mulher, disse ele... já casado com a sua 2ª mulher, uma modelo sueca), mas existe romantismo maior? Claro, os bolsos atulhados facilitam a criatividade.

Não sei como morreu, mas deve ter sido duma forma pragmática. Morte com estilo, não há como a de Petrónio. Aristocrata abastado, foi governador e cônsul da Bitínia (na Turquia) e chegou a conselheiro de Nero, que o nomeou árbitro da elegância (arbiter elegantiae) em 63. A roda da fortuna mexeu, Petrónio foi acusado de traição e escolheu morrer com finèsse.
Conta-nos Tácito, na sua obra Anais:

Petrônio consagrava o dia ao sono, e a noite aos deveres e aos prazeres. Se outros chegam à fama pelo trabalho, ele adquiriu-a pela sua vida descuidada. Não tinha a reputação de dissoluto ou de pródigo, como a maioria dos dissipadores, mas a de um voluptuoso refinado em sua arte. A própria incúria, o abandono que se notava nas suas ações e nas suas palavras, davam-lhe um ar de simplicidade, emprestando-lhe um valor novo. Contudo, procônsul na Bitinia e depois cônsul, deu prova de vigor e de capacidade. Voltando aos seus vícios ou à imitação calculada dos vícios, foi admitido entre os poucos íntimos de Nero e tornou-se na corte o árbitro do bom gosto: nada mais delicado, nada mais agradável do que aquilo que o sufrágio de Petrônio recomendava ao príncipe, sempre embaraçado na escolha.

Nasceu daí a inveja de Tigelino, o prefeito do pretório e poderoso conselheiro de Nero, que receava um concorrente mais hábil do que ele na ciência da volúpia. Conhecendo a crueldade do imperador, sua qualidade dominante, insinuou que Petrônio era amigo do conjurado Flávio Scevino; em seguida comprou um delator entre os escravos do acusado, sendo-lhe vedada qualquer defesa e mandando prender membros da sua família. O imperador encontrava-se então na Campânia e Petrônio tinha-o acompanhado até Cumes, onde recebeu ordem de ficar. Ele, sabendo que o seu destino já estava marcado, repeliu tanto o temor quanto a esperança, mas não quis se afastar bruscamente da vida. Abriu as veias, fechou-as depois, abrindo-as novamente ao sabor da sua fantasia, falando aos amigos e ouvindo por sua vez, mas nada havia de grave nas suas palavras, nenhuma ostentação de coragem; não quis ouvir reflexões sobre a imortalidade da alma, nem sobre as máximas dos filósofos: pediu que lhe lessem somente versos zombeteiros e poesias ligeiras. Recompensou alguns escravos e mandou castigar outros; chegou a passear, entregou-se ao sono a fim de que sua morte, ainda que provocada, parecesse natural.
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Em teoria, não há diferença
entre teoria e prática.
Na prática, há.

Yogi Berra ou Jan L. A. van de Snepscheut?
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domingo, 29 de maio de 2011

NÚMEROS DE POLÍCIA

A República Checa não existe assim há tanto tempo, data de 1918, e ainda assim misturada com a Eslováquia durante quase 3/4 do século XX.
Houve períodos em que mandava a casa de Luxemburgo, os reis boémios, também da Hungria e da Polónia, imperadores do sacro-império e, a certa altura, os imperadores austro-húngaros. Incluindo a Marie Térèse.
Foi esta senhora que trouxe em 1770 uma "invenção" de Viena, provavelmente vista pelos autóctones como um imbecil sinal de imperialismo: numerar as casas. Mas ainda resistiram, em Praga, muitos símbolos alegóricos (alquímicos ou ligados aos ofícios dos locatários) colocados acima das portas, que identificavam as casas.
A maioria concentra-se na rua Nerudova, na margem oeste do rio Moldava, em Mála strana.




















e na margem leste, em Staré Mesto
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sábado, 28 de maio de 2011

DITADURA DO PROLETARIADO

No centro de Praga (Na Prikope 10), numa rua com lojas internacionais, por cima do McDonald e ao lado dum casino - tripla ironia - há o Museu do Comunismo, para que ninguém esqueça os cerca de 44 anos de 'tá caladinho, a gente sabe o que é melhor para ti'.
Pequeno, com memorabilia da época (incluindo estátuas que perderam o lugar nas praças, cartazes, fardas, a réplica duma sala de interrogatório e uma arca frigorífica vazia, em honra aos tempos de abastança), algo kitsch e simplista, tem uma loja com artigos bem humorados, incluindo esta colecção de postais.
Curiosamente, logo à esquina é a Praça Venceslau, onde foi declarada por Vaclav Havel e Dubcec a vitória da Revolução de Veludo, que acabou com décadas de comunismo. Lá existe um memorial às vítimas do comunismo, difícil de encontrar: um arbusto com as fotografias de 2 rapazes mortos na primavera de 68.   


















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