...e depois, com bigodes de leite, pedem mais paciência e esforço ao povo, que a "vaca 'tá seca".

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

CAEM QUE NEM TORDOS



Não imaginam a trabalheira que foi conseguir que a minha filha seja do Sporting, vivendo a passos do Porto. Amor não correspondido pelo clube, o dito está em auto-gestão (sem presidente e sem treinador) e há sete jogos sem ganhar (4 empates e 3 derrotas), basta mais um mau resultado para igualar a pior série de resultados de sempre (em tempos do Marinho Peres, descobri). Curioso é haver 4 candidatos à presidência para governar uma casa sem craques, sem ânimo e, principalmente, sem dinheiro. Mas cheios de promessas.
Resolvi googlar, que de futebol não arquivo informação, e dá para ver o sucesso dos clubes pelo número de presidentes. Pinto do Costa foi eleito em 1982 (pouco menos que mubarak...), compare-se com os outros 2 grandes:
O Benfica teve 7 presidentes, mas o último é o mais longevo, 8 anos: Fernando Martins (81-87), João Santos (87-92), Jorge de Brito (92-94), Manuel Damásio (94-97), João vale e Azevedo (97-2000), Manuel Vilarinho (2000-2003), Luís Filipe Vieira (2003-).
O Sporting vai para o décimo: João Rocha (82-86), Amado de Freitas (86-88), Jorge Alegre Gonçalves (88-89), José de Sousa Cintra (89-95), Pedro Santana Lopes (95-96), José Haltreman Roquete (96-2000), António Dias da Cunha (2000-2005), Filipe Soares Franco (2005-2009), José Eduardo Bettencourt (2009-2011).
Para clube aristocrata, há demasiada consulta popular. Hum.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

FAZ RIR, MAS É DRAMÁTICO *


"Como pode um líder sujeitar seu próprio povo a uma chuva de metralhadoras, tanques e bombas? COMO PODE UM LÍDER BOMBARDEAR SEU PRÓPRIO POVO, e depois dizer ‘matarei qualquer um que diga qualquer coisa?’. (...). Eu seriamente quero que todos os chefes de Estado prestem atenção a seu povo e cooperem, sentem e conversem, e ouçam a suas palavras. Por que eles agem tão mal que seu povo precisa recorrer à pressão por reformar?"
Ahmadinejad, Irão, sobre a violência nos países árabes com revoltas

"É UM LÍDER CARISMÁTICO"
Sócrates, Portugal, sobre Kadhafi

"ISTO É UMA OBSCENIDADE."
Berlusconi, Itália, sobre a acusação de prostituição de menores

* Frase atribuída a il Cavalieri

FOI NOTÍCIA

JOSHUA BENOLIEL (1873-1932) foi talvez o primeiro fotojornalista português. Em 1898 publica as suas primeiras fotografias como amador e, aos 30 anos, é repórter fotográfico do jornal O Século (até 1918 no celebérrimo suplemento Illustração Portugueza) e, um ano depois, correspondente do ABC espanhol. Talvez “prós alfinetes”, também foi despachante alfandegário e relações públicas dos hotéis Alexandre de Almeida.
Esteve em quase todas: a vida social da Casa Real, a visita do rei espanhol Afonso XIII e do presidente francês Emile Loubet, o regicídio, a viagem de D. Manuel pela Europa, a implnatação da República, a primeira guerra mundial (quer nos preparativos da expedição, quer acompanhando Bernardino Machado na visita às tropas, em França), o golpe de Estado de Sidónio, a visita do presidente Carmona a Espanha.
Digo quase todas porque falhou os assassinatos de Sidónio Pais e de D. Carlos – fotografou a sua chegada de comboio de Vila Viçosa, e correu para o Palácio das Necessidades para fotografar a recepção oficial. Que nunca aconteceu, o rei morreu no caminho.

Greve das varinas, 1900
Comício republicano, Avenida D. Amélia 1906
"A mais extraordinária fotografia do Rei Dom Carlos é provavelmente esta, tirada por Joshua Benoliel durante um torneio de florete presidido pelo Rei, na Tapada da Ajuda, em 1907. O Rei muito mais informal, traja casaco sem bandas e colete de gola, calça pie-de poule e chapéu mole. Pela primeira vez e talvez única vez, o fotógrafo apanhou um sorriso rasgado, revelando dois dentes nitidamente tortos. Não se preocupa sequer, em esconder o curativo que lhe protege o dedo queimado do calor do charuto. A imagem foi considerada tão excepcional que vários editores de postais ilustrados a reproduziram. S.M. El-Rei Dom Carlos, está acompanhado pelo Seu irmão, Sua Alteza O Infante Dom Afonso de Bragança, Duque do Porto." Site da Família Real


A minutos do regicídio, 1.2.1908
O regicida Manuel Buiça, 1908
Construção duma das urnas do rei (a 1ª era muito pequena)
Revolucionários na Rotunda, Outubro 1910
Proclamação da Repúbica, 5.10.1910
Governador Eusébio Leão pede calma, 5.10.1910
Primeira bandeira da República, 5.11.1910
Grevistas da CUF, 1911
Chegada de Afonso Costa a Lisboa, 1912
21.10.1913 (a photo minha preferida**)
Partida de Bernardino Machado para o exílio, 1917
Preparativos do Corpo Expedicionário Português
Embarque do CEP para a Flandres, Sta. Apolónia 1917

** para mais informação sobre o assalto ao jornal do Partido Legitimista, ver http://www.centenariodarepublica.org/centenario/2009/09/10/jornais-assaltados-e-%E2%80%9Cempastelados%E2%80%9D/)

ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA

Joshua Benoliel não capturou apenas momentos políticos, imortalizou a história de Lisboa do primeiro quartel do séc. XX: as profissões desaparecidas, as avenidas e as praças (é engraçado ver a evolução da cidade, comparando as imagens com as do seu filho Judah, também ele fotógrafo), o quotidiano de há cem anos. Deliciosa obra.
 a corrida
 Avenida da Liberdade 1900-1910 (autoria não confirmada)
 Lavadeiras, início do séc. XX
 Praça Camões, início do séc. XX
O talho da Praça da Figueira, 1908
 O ardina e o vendedor de capilé, 1908
Vendedor ambulante de confecções, Agosto de 1908
Praça Camões, 1908
Ciganos na Praça Marquês de Pombal, 1909
Praça Saldanha, 1909
A venda do leite perigoso, 1910
Os Benoliel, lanche no jardim da sinagoga, 1910
Aguadeiros, 1912
Bebedouro da Praça do Comércio, 1912
Duelo entre Celestino Henriques e Henrique Vital, 1915
Forças policiais em exercícios, Ill. Port. 16.9.1918
Pastelaria Foz, 1920
Praça Marquês de Pombal, 14.5.1926
Os pobres cobiçam...
...e os ricos compram.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A SENHORA MARQUESA

Pietro Mocenigo, Doge de Veneza (1406-76)

Sabe, as pessoas acreditam viver uma vida, mas o que acontece é que vivemos várias.
Olga Cadaval

Luís Osório escreveu no Sol um texto muito bonito sobre Olga Maria Nicolis di Robilant, Marquesa de Cadaval (1903-1996), pessoa para quem eu só encontro um adjectivo, uma Senhora.
O relato baseia-se no único encontro entre ambos, no seu palacete, gasto (perdão, ganho) com fotografias e histórias passadas.
Vida rica, lá estavam fotos com Coco Chanel, André Malraux, Cole Porter, Stravisnky, Graham Greene. Vida cheia, recordaram-se histórias como aquela nos anos 20, em que recebeu 2 amigos por uns dias, apenas Rubinstein e Ravel, os próprios.
Uma vida de meter inveja.
É um facto que se tem várias vidas, em particular se a vida é longa: bébé em Turim, menina em Florença e Veneza, enfermeira da Cruz Vermelha na 1ª guerra mundial, marquesa em Colares, viúva aos 39, presidente da Sociedade de Concertos, mecenas da cultura.*

Com sangue austríaco, checo e russo (como mandam as alianças entre nobres), descendente de Catarina da Rússia, Frederico II da Prússia (patrocinador de Bach) e de 7 Doges de Veneza (um deles patrono de Monteverdi), Olga casou à altura com D. António Caetano Álvares Pereira de Melo, descendente dum Restaurador e de Pedro Álvares Cabral - um orgulho, digo eu.

* Haverá vidas com menos vidas (passe o paradoxo), com um epitáfio tipo "simão josé, nasceu, trabalhou e morreu em Vale da Mula".

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

HISTÓRIA AO VIVO


Nos primeiros dias, a polícia empilhou corpos para impressioná-los, mas eles continuaram. Eles querem acabar com isso de uma vez por todas, eles sabem que o regime cai nesta semana ou nunca”.
Gerard Buffett, médico francês que afirmou ter visto mais de 2000 mortos em Benghasi

Dá a impressão que estamos a assistir a dias históricos no mundo árabe, com updates diários.
Ao fim de 6 dias de turbulência, o Líder Fraternal e Guia da Revolução (desde 1969) da Grande Jamahiriya Árabe Líbia Popular e Socialista (ufa!) finca o pé: ontem, afirmou que vai lutar até à última gota de sangue, chamou ratos e drogados aos insurgentes e apelou aos comités revolucionários que defendam na rua o regime. Contratou mercenários (rumor, do Chade, Burkina-Faso, Niger e Nigéria, a 1000 dólares/dia) e mandou aviões e blindados atirarem a matar. Resultado, várias centenas de mortos - há mesmo quem avance 10000.
O filho declarou hoje que já se está a trabalhar numa nova constituição e que o pai espera ser o conselheiro em qualquer novo regime, como "um pai que aconselha". Vai tarde!!!

A tinta dascasca: os embaixadores na ONU, EUA, India e Malásia passaram para o lado dos manifestantes, o ministro do interior renuncia e apela à tropa para aderir à revolução, o ministro da Justiça e um general demitem-se e vão para Benghasi, a 2ª cidade líbia e bastião dos insurrectos, vários destacamentos militares apoiam agora os anseios dos líbios, que já dominam o leste do país e a fronteira com o Egipto, 2 pilotos recusam bombardear Benghasi e ejectam-se. Obama discursou há pouco, prometendo falar com os aliados sobre o que fazer, a ONU quer um inquérito sobre a violação dos direitos humanos e crime contra a humanidade, a França ameaça cortar relações comerciais, a UE pondera sanções, a Itália (principal aliado ocidental) começa a descolar...
Todos sem excepção sabiam quem era Khadafi, mas o homem tem as estacas da sua beduína tenda assentes na maior reserva de petróleo de África e vende 2% da produção mundial, só quando ele está a vacilar é que lhe dão um empurrão: meses depois da visita de Sócrates à tenda do amigo Khadafi, para uns contratos, o MNE Amado diz que o seu regime está ultrapassado e deve dar lugar à mudança.

p.s.: o pai do socialismo árabe e do pan-arabismo é autor de muitas pérolas, como "é anti-democrático um parlamento ter poderes para fazer as leis".

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

CÁ SE FAZEM, CÁ SE PAGAM?


Tenho uma colega que acredita num efeito-boomerang universal e que todas as pessoas pagam em vida as suas acções. Eu costumo dizer-lhe que espero que haja Deus, para fazer as contas, pois a justiça terrena tarda e falha. Há muitos exemplos disso: Estaline, Mao, Salazar e Franco morreram de velhos, o inquisidor-mor Tomás de Torquemada, o martelo dos hereges, teve o mesmo fim – o roubo e incineração da sua ossada ao fim de 334 anos não lhe doeu nada. Há mais exemplos de torcionários que nunca penaram, ou pagaram um preço pequeno para as suas maldades:

Idi Amin 1925-2003 (Uganda 71-79). Auto-intitulado “conquistador do império britânico de África em geral e do Uganda em particular” e rei da Escócia, é responsável por 300 a 500 mil mortos. Acusam-no de canibalismo, desmembramento duma consorte, atirar cadáveres a crocodilos e ter cabeças decepadas na geleira. Exílio na Líbia e depois na Arábia Saudita.
Mobutu Sese Seko 1930-97 (Zaire 65-97). Exílio de meses em Marrocos, até morrer.
Mengistu Mariam 1937- (Etiópia 74-91). Exílio no Zimbabué, onde é consultor de Mugabe. Condenado à morte à revelia por genocídio de dezenas de milhares de etíopes, incluindo milhares de crianças.
Ferdinand Marcos 1917-89 (Filipinas 65-86). Exílio no Havai. A mulher Imelda regressou, perdeu a corrida a presidente, mas entrou no congresso.
Fulgêncio Batista 1901-73 (Cuba 33-44, 52-59). Exílio dourado no Estoril e Marbella, até 73.
Jean-Claude Duvalier 1951- (Haiti 71-86). Matou e vendeu órgãos de milhares de opositores. Exílio em França, até acabarem os milhões roubados que não estão congelados na Suíça, voltou agora a casa, onde foi acusado de corrupção e peculato.
Jean-bédel Bokassa 1921-96 (República Centro-Africana 66-79), auto-proclamado imperador, numa cerimónia que custou ¼ da riqueza anual do país, e 13º apóstolo de Cristo. Matou e comeu (ou os crocodilos na piscina) algumas das suas vítimas. Exílio em França, mas ainda voltou à terra e ficou preso durante 5 anos – não paga os milhares de mortos, alguns às suas mãos. É agora reconhecido como um grande líder.
Ben Ali 1936- (Tunísia 1987-2011). Exílio na Arábia Saudita.
Hosni Mubarak 1928- (1981-2011). Exílio em…
Augusto Pinochet 1925-2006 (Chile 73-90). 50000 mortos e desaparecidos, começando pelo presidente Allende. Perdido o plebescito, nomeou-se senador vitalício. Esteve 503 dias em prisão domiciliária em Londres, mas foi dado como incapaz para fugir ao mandato do Juiz Baltazar Garzon, regressou a casa e passou incólume a centenas de queixas e 10 processos judiciais.
Pol Pot 1928-98 (Cambodja). Entre 75 e 79 foram mortos 2 milhões de pessoas, um quarto da população. Foi condenado a prisão domiciliária perpétua em 97, por um general dos “seus” khmer vermelhos, morrendo meses depois.
Vá, a Lei de Talião (olho por olho, dente por dente) é exagero, mas parece-me que a "Justiça" é muito frouxa!!!

 bokassa no trono de 3 toneladas de ouro


sábado, 19 de fevereiro de 2011

DIZ PARATE

Não fosse o ministro Lacão o ter lembrado, o líder da bancada do BE, José Manuel Pureza “esquecia-se” de agendar a moção de censura do BE, a que serve apenas para descolar do parceiro da coligação Alegre. Mais nada.
A fundamentação da censura, hoje divulgada, não menciona o PSD, mas “de boca” é um dos alvos da censura, pelo que não há hipótese de aprovação - razão tinha o CDS, para a esquerda e direita se juntarem, é necessária uma moção sumária, mesmo com uma só linha, “este governo não serve”.
Uma vez sem excepção, concordo com Daniel Oliveira, para quem a moção é absurda, um disparate, e revela impreparação táctica, calculismo inconsequente e falta de solidez estratégica.
A entrevista de Pureza ao Sol é confrangedora - o facto da direita não aprovar uma moção que a critica foi “preferir dar-nos razão, não se cobrindo de ridículo” - e fez-me lembrar aquela rábula dos gato fedorento, com a posição do Marcelo sobre o aborto. Não é preciso inventar muito:
P: Um moção serve para derrubar o Governo?
R: Sim, queremos que a democracia decida.
P: E se a direita chega ao poder?
R: Não estamos aqui para estender a passadeira a políticas ainda mais extremistas do ponto de vista liberal!
P: Para passar no parlamento, é preciso que o PSD a aprove?
R: Sim, mas só se se cobrissem de ridículo.
P: Então não vai passar?
R: Não.
P: Se vai chumbar, porque tem utilidade prática?
R: Porque é nossa.
P: E a do PCP, que desprezaram?
R: Essa não tinha a data de 10 de Março (n.r.: não tinha data nenhuma), depois do PR tomar posse e o governo poder cair.
P: Querem novas eleições?
R: Claro.
P: Se a direita apresentar uma moção, aprovam-na?
R: Nunca.
P: Assim, a legislatura vai até ao fim?
R: Só por cima do nosso cadáver.


CASTELLO-LOPES

Para falar verdade, não sabia que havia um castello-lopes fotógrafo. Houve.
Gerard Castello-Lopes (Vichy 1925-Paris 12.2.2011), filho do fundador da homónima distribuidora de filmes, foi economista, diplomata, assistente de realização, crítico, gerente duma empresa de audio-visual, fundador do Centro Português do Cinema e Consultor da Culturgest, presidente do IPC. Mas a sua paixão era a fotografia, a partir de 1956. Auto-didacta, a primeira de muitas exposições só aconteceu em 82. A sua referência era Cartier-Bresson, mas recusava comparações com o mestre, seria "comparar o sol com a luz duma vela". "Nunca achei que era excepcional ou muito bom fotógrafo", disse (Público, 16.1.2004).
Não sei se era genial, mas algumas fotografias são testemunhos históricos engraçados.

Lisboa 1956

Lisboa 1957

Lisboa 1957
 
Portimão 1957
Lisboa 1957

Lisboa 1957
 
Nazaré 1958

Paris 1958



Roma, 1958


 "Uma fotografia é um instante de vida capturado para a eternidade."
Jules Renard