...e depois, com bigodes de leite, pedem mais paciência e esforço ao povo, que a "vaca 'tá seca".

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

NÃO PAGAAAMOS, NÃO PAGAAAMOS...


ENQUANTO A MAIORIA DOS NORTE-AMERICANOS
LUTA PARA PAGAR AS DESPESAS,
NÓS, MEGA-RICOS, CONTINUAMOS COM
AS NOSSAS EXTRAORDINÁRIAS ISENÇÕES FISCAIS.

Assim escreveu Warren Buffett, o 3º mais rico do mundo (50 biliões?), atrás de Carlos Slim e Bill Gates, num artigo de opinião do NYT - criticando a resistência do congresso e à hesitação de Obama em retroceder na baixa fiscal aos mais ricos, oferecida em 2001 pelo Jonh W. Bush para galvanizar a economia (o Junior conseguiu foi galvanizar o défice e evaporar o supervavit deixado pelo Clinton, esse ganda maluco).
Buffett lembrou, no texto "parem de mimar os super-ricos", que pagou 17.4% em impostos (ainda assim, 7 milhões de dólares) no ano passado, e os seus empregados entre 33 e 41%.
Em 2006, o investidor (é isso que faz, compra e vende) filantropo - vai doando grande parte da fortuna e legou 87% da herança a instituições/fundações - escreveu
"há guerra de classes, com certeza, mas é a minha classe, a classe rica, que está a fazer a guerra, e estamos a ganhá-la".
No ano seguinte, lembrou os 'colegas' que, se tinham "a sorte de pertencer à fina camada de 1% dos mais ricos à face da terra, devem-no aos outros 99% da humanidade". Nem mais.

A propósito, diz-vos alguma coisa os seguintes nomes, Bernard Arnault (França), Larry Ellison (EUA), Lakshmi Mittal (Índia), Amancio Ortega (Espanha), Eike Batista (Brasil), Mukesh Ambani (Índia), Christy Walton (EUA), Li Ka-shing (Hong Kong), Karl Albrecht (Alemanha), Stefan Persson (Suécia), Vladimir Lisin (Rússia) e Liliane Bettencourt (França)? Tirando a última, cuja filha a quer dar como doida por esbaratar a guita, os ilustres desconhecidos são os números 4 a 15 da lista Forbes.
Devo dizer que só reconheci o George Soros (46º), o gajo do facebook (52º) e o Abramovich (53º) nos cem mais ricos.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

VERGONHA É ROUBAR


Há uns dias, assaltaram a casa da Amy Winehouse e roubaram umas letras inéditas e umas guitarras. A jornalista adjectivou a notícia: vergonhoso.
Soube agora que o cemitério da minha terra já não tem coveiro-barra-guarda, e depenaram a campa do avô duma amiga: parece que levaram uns obuses, umas correntes, umas espadas e um capacete de bronze (deve ter dado trabalho) que ornamentavam a campa do herói de guerra, uma homenagem da terra.
Em particular no primeiro caso, é possível dizer que roubar é feio e errado, ponto parágrafo, e ao mesmo tempo achar que é menos grave roubar a casa dum morto rico que a de um vivo necessitado?

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A MÃE É QUE SABE... POR ENQUANTO


Ó MÃE, DÁ-ME A TUA OPINIÃO:
EU GOSTO MAIS DE ISCAS OU DE PERÚ?

Ouvi isto há dias, da boca duma menina de 9 anos. Haverá confiança maior?
Pena que seja provisório, presumo que daqui a uns 5 anos a palavra de mãe não tenha (a mesma) sabedoria.

AVEIRO DE ARTE NOVA

Resolvi ir a Aveiro ver azulejos de arte nova (produzidos entre 1900 a 1920), em exposição no Museu da Cidade de Aveiro. Não vi: fui parar ao Museu de Aveiro, e só depois de pagar as entradas descobri que havia dois museus com o mesmo nome.
Depois dessa visita, lá encontrámos o dito (passáramos à porta), mas não pudemos entrar: de acordo com a menina do posto de turismo, "eles têm uns horários suis generis, fecham quando querem".
Foi o dia do "não vi em Aveiro", porque o Museu Arte Nova ou Casa Major (Mário Belmonte) Pessoa, com frente para o rossio e traseiras para a praça do mercado, só abre com marcação... Viva o turismo português.
Mas vá, a câmara comprou essa casa degradada em 2004 e recuperou-a para o público - a pedido!
De qualquer forma, ia desconfiado que a auto-denominação de capital da arte nova era presunção da terra, mas encontram-se, aqui e ali, alguns exemplos do estilo. 
É só passear pelas ruas.  

Museu da Cidade de Aveiro e Posto de Turismo



Casa Major Pessoa
arqu. Silva Rocha e Ernesto Korrodi, 1904-09
adquirida degradada pela CMA em 2004



traseiras






e outras coisas

AVEIRO CONVENTUAL

Por engano, pois queria ver a arte nova em Aveiro, fui parar ao convento de Jesus, criado no século XIV por D. Brites Leitão e D. Mécia Pereira.
Lá está o monumental túmulo da Santa Joana, um bocadinho exagerado para quem queria uma campa rasa. Não sabia "de quem era filha" (como se diz na minha terra) esta padroeira da cidade, e a coincidência foi engraçada - acabara de ler na véspera uma biografia de D. Manuel I, que sucedeu ao primo D. João II graças à morte do único herdeiro e dos irmão mais velhos de Manuel... e porque a única irmã de João se enclausurou em Aveiro, recusando os pedidos deste para casar (3 cabeças coroadas propuseram-no) e ter descendência.
Parte da exposição roda à volta da vida da princesa no convento - incluindo um quadro seu, da autoria de Nuno Gonçalves, o alegado pintor dos painéis de S. Vicente -, e há uma grande colecção de arte sacra, particularmente barroca e rococó, recolhida em vários conventos da cidade.
Gostei particularmente da sagrada família da Machado de Castro: alguém imagina Maria, José e Jesus de tricórnio?

armário-farmácia
túmulo da santa joana princesa


coro alto
capela no coro alto
claustros
lavatório
refeitório
Santa Joana, por Nuno Gonçalves (1472)
sala dos lavores
Sagrada família por Joaquim Machado de Castro (1770-80)

terça-feira, 9 de agosto de 2011

PÂNICO NO AEROPLANO


A Europa é um Boeing 747
a voar sem ninguém no cockpit.
Terá sido qualquer coisa parecida que Durão Barroso disse numa conferência em Julho de 2002, conta Luís Menezes Leitão no i de 9/8/2011.
Que diria ele hoje, à frente duma Europa a cair aos bocados? "Bom dia, fala o vosso Comandante, Zé Manuel Durão, espera-nos um voo com alguma turbulência financeira, troveja em Bruxelas. Podem consultar a revista de vendas a bordo, para adquirirem as nossas dívidas soberanas, duty free. Tenham uma boa viagem."

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

ANDAR SOBRE AS BRASAS


Como eleitor de 1/4 deste governo, é com alguma expectativa que aguardo para ver, mas de braços cruzados, que os psicólogos dizem ser uma posição defensiva e desconfiada.
O que é que já deu para ver? Roupa casual num ministério, mudança de logotipos, injecção de (+) 500 milhões no BPN para vendê-lo por 40, veto pela maioria da audição do ministro das finanças numa comissão, 7 secretárias e 11 motoristas no gabinete do PM, 7 para 11 administradores na CGD (Passos disse que bastavam 3 em cada empresa pública), férias ao fim de 2 meses no cargo, depois da intenção de manter a AR aberta em Agosto.
E, primeiro aumenta-se a receita (1/28 do rendimento anual e aumento dos transportes),  quanto à redução da despesa ou às almofadas sociais (abono dos transportes dos mais necessitados), ainda estão a tratar disso...

As minhas costelas cépticas estão a dar sinal, e isto pode dar para o torto, se a austeridade não resultar - lembra-me aquela estória do cavalo que morreu e o dono lastimou "logo agora que não comia quase nada".
Logo a seguir vem-me à tola a peça com a Dona Amélia Rey Colaço, que ela acaba abrindo os braços e exclamando "que morra de pé, como as árvores". Palmas.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

DEIXA-OS ANDAR...

Não sei quem foi o pintor, mas o estupor pintou bem...

Na primeira noite eles se aproximam,
roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão, 
e não dizemos nada.
Até que um dia
o mais frágil deles 
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo o nosso medo
arranca-nos a voz da garganta.
E já não dizemos nada.

Este poema, que tem um gêmeo (uma coisa no género: primeiro apanham um vizinho, não o defendes, depois outro, idem, depois levam-te a ti e não sobrou ninguém para te defender...), foi atribuído a Vladimir Maiakovsky, mas o seu justo autor foi o brasileiro Eduardo Alves da Costa, em 1964.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

UMA VIDA BOA


Maria José Nogueira Pinto escreveu, na sua última crónica, que "uma boa vida não é uma vida boa".
Alguém (um brasileiro chamado Nemo Nox, mas quem ficou com a fama foi Fernando Pessoa) acabou um poema com "Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo".
Eu cá não concordo, prescindia bem das pedradas: como o ferro, vamos sendo temperados e mais resilientes como o aço, mas passava bem sem esse "tempêro".
Bem diz o MEC, "as decisões fúteis, quando a cabeça é desocupada daquilo que a preocupa, para se ocupar de uma ninharia como escolher entre a pera-pérola e a carapinheira, são um indício seguro da felicidade".
É, feliz daquele cujos problemas sejam a escolha entre um Callabriga Reserva 2005 ou um Quinta do Crasto VMT 2007, e grande provação seja experimentar um Château Mouton-Rothscchild 1982.

Certo, certo é que os escolhos nos mostram a fisiopatologia da natureza humana: a ambição, a solidariedade, a lisonja, a generosidade e o egoísmo, a cobardia ou a resistência, a delação, a maldade, a prepotência, a inveja, o conformismo, o alheamento face à injustiça, a amizade.*  
Apesar de nos considerarmos evoluídos e civilizados, nada mais natural e primitivo. E começa e acaba tudo na mesma coisa, a procura de segurança e o instinto de sobrevivência, que assegurou a manutenção e a prosperidade da espécie.
São tudo estratégias - ora de união, ora de competição -, para sobreviver e garantir a segurança do grupo contra os predadores, a gruta, uma pele mais quente, a parceira com o maior quadril (e o status confere o poder de escolha), o lombo do dente-de-sabre, a proximidade do (ou o próprio) comando da tribo, a cercania da fogueira. Subam 2 parágrafos p.f. e confirmam em cada 'característica' uma destas preocupações 'antigas'.
Há até  uma expressão popular, usada nas progressões profissionais, com muita serventia, "quem está mais perto da fogueira, aquece-se melhor". Milénios de distância, os mesmos fins.

* Hannah Arendt (autora de A Condição Humana, As Origens do Totalitarismo, Eichmann em Jerusalém,...) dissecou bem algumas destas 'características' sociais, crismando a expressão "banalização do mal" e explicando como homens horrivelmente normais cumprem ordens dum malvado paranóico.
Quanto à passividade dos restantes, bem falou Eduardo Alves da Costa
.