...e depois, com bigodes de leite, pedem mais paciência e esforço ao povo, que a "vaca 'tá seca".

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

OS NEOLIBERAIS SÃO ULTRACONSERVADORES

Na verdade, não são neo nem são ultra. São de espécie anfíbia “liberal na conomia, conservadora nos costumes” Mas nem são asim tão liberais na economia. Nem assim tão conservadores nos costumes. São assim-assim. Mar chão. Afinal, a falta de convicção pode passar por temperança. E fazer um referendo pode passar por democracia.
O referendo foi feito para nem se fazer. Não há tempo, não há dinheiro, não há perguntas e não há pachorra. O Presidente da República poderá arquivar a intenção. Fará bem. O que não se arquiva é a manha institucional. PSD e CDS não querem a coadoção. Inventaram um expediente. A JSD serviu de barriga de aluguer, o PSD adotou e o CDS coadotou uma construção política de destruição legislativa. Quem quis? Quem impôs? Quem disciplinou? As “bases".
As bases. As bases não são o povo, são os eleitores dentro dos partidos. E os eleitores e Passos Coelho no PSD andam há muito insatisfeitos com os custos políticos da austeridade. Foram elas, as bases, que impuseram este desfecho que envergonha até deputados que ontem cumpriram a religião continente de votar como lhes mandam. A demissão de Teresa Leal Coelho não basta para ser indignação, mas chega para ser dignidade. Que dizer dos deputados que votaram contra a sua consciência? Que não a têm? Que dela abdicaram? Declarações de voto não valem um voto. A objeção ou é um exercício ou não é objeção, é plasticina. A disciplina de voto pode fazer sentido, mas não neste caso. Mas serve de capote para acomodar a cobardia política sentada no Parlamento. A disciplina de voto tornou-se a disciplina de veto. Veto à própria Assembleia, que aprovara o processo legislativo, precisamente porque então houvera liberdade de voto. Ontem não houve liberdade. Escreveu-se torto por linhas tortas. Foi tudo triste. Tudo triste.

Mais importante do que o Direito são os direitos. Mais importante do que o golpe do referendo é a lei da coadoção. A esquerda deixou-nos o desastre nas finanças públicas que continua a desmentir, msd foi sempre ela que promoveu os avanços (sim, avanços) no casamento homossexual, na união de facto, na interrupção voluntária da gravidez, na discriminilização do consumo de droga. A direita, chegada ao poder, não desfez nenhum desses dipomas. Ainda bem. Mas não tolerou que, na sua vigência, o país avançasse (sim, avançasse) na coadoção de crianças por casais homossexuais. Mais tarde ou mais cedo, esse é o curso imparável das coisas, a coadoção será legalizada. Já há crianças entregues a casais do mesmo sexo por decisão de juízes.

Olhe para a fotografia de hoje na primeira página do Expresso. A mãe, Fabíola Cardoso, lésbica, doente de cancro, levou os seus dois filhos ao Parlamento para assistirem ao debate sobre o seu próprio direito a teremo que têm: duas mães. Alexandre e Maira nunca tinham ido à “casa da democracia”. Viram a casa mas não viram democracia. Viram um golpe baço. Viram uma vergonha.»

Pedro Santos Guerreiro, Expresso 18-01-2014

Se não houvesse outras, eis uma boa razão para as pessoas serem pagas para escrever a opinião: PSG falou bem como o diabo, sem uma palavra a mais ou a menos. Talvez só lhe mudasse o título para 'Nu integral', tal a forma como o jornalista expõe as vergonhas desse partido.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

PRETÉRITO IMPERFEITO


Os partidos são uma maçada e ser militante dum partido é uma grande maçada. Os quadros dos partidos, normalmente são muito, muito medíocres, são pessoas muito medíocres, não têm mais nada que fazer na vida, ou que acham que aquela é a forma principal de subir na vida. Os partidos dispensam o mérito.
É uma coisa que eu decidi na minha cabeça, se há coisas definitivas na minha cabeça, uma delas é essa [não entrar na política].
Alguém disse isso, e eu subscrevo integralmente: nunca me passou pela cabeça (mais que 3 segundos) filiar-me num partido.   
 
Isso não impede o hábito de votar no mesmo partido, um pequenino - em quase tudo, costumo torcer pelo underdog -, com poucas hipóteses de chegar ao poder. Trocando a palavra amigo por partido, estou como esse alguém, o poder é a  pior coisa que há, eu sou geneticamente contra o poder, seja ele de quem for. No dia que algum amigo meu lá chegar, eu passo-me para a oposição e deixo de ser amigo dele.
Sim, o problema é quando esse partido lá chega: o governo de 2002-2005 já não era de boa memória, mas esta 'presença' está a ser um desvario - admito, este governo, que acha que cortar é diferente de reformar, mas tem uma tesoura endiabrada, está particularmente a apertar-me os calos (como João Pereira Coutinho, se há coisa que me dói profundamente, são sapatos apertados) em duas rubricas algo sensíveis do meu orçamento, a receita e a despesa. Em doses sucessivas.
Já se sabe que governo nenhum cumpre tudo o que prometeu, mas há limites: como bem disse alguém, não se pode sacrificar a identidade ao acesso ao poder. Pois onde está o partido dos contribuintes, o provedor dos idosos e das famílias (todas as medidas teriam um visto familiar, asseguraram)? Não foi nisto que votei e não vislumbro as 'bandeiras' do CDS - para o distraídos, era no CDS que eu votava (literalmente, no pretérito imperfeito) -, vejo apenas umas bandeirolas de arraial, agitadas freneticamente, depois duma crise em que o CDS não ganhou peso no governo, foi Coelho que deu um abraço de urso a Portas.
Há uma terceira coisa tão certa como a morte e os impostos: as sessões parlamentares seriam memoráveis se o CDS estivesse na oposição, com o tribuno Paulo Portas a esfrangalhar o governo.

É, Portas está a exagerar nas artes circenses: primeiro, era o acrobata com as suas metamorfoses de eurocéptico para europrudente, e de liberal para popular e mais tarde para democrata-cristão; depois, é o trapezista no bamboleante arame, com as suas linhas vermelhas; agora é o mimo, com a mudez esfíngica.
A prometida justificação sobre a sua demissão do governo, reservada para o congresso ('a sua gente'), resumiu-se à negação dum capricho ou enfado, que 'o que teve de ser teve muita força, a crise foi superada e, a meu ver, o governo está mais forte' e que 'O partido deve apenas saber que actuei em último e exclusivamente em último recurso, por entender que se nada fosse feito a coligação poderia deteriorar-se e isso poria em risco aquilo que é um bem essencial para todos: termos governo que chegue para vencer o resgate'.
Embora a acrítica assembleia tenha ficado satisfeita, parece-me que não chega. Portas terá tido alguma razão: por Passos decidir reiteradamente contra a sua opinião, Portas quis sair e Cavaco demoveu-o, quis sair 2ª vez e o partido não deixou e, quando pediu ao PM para esperar o seu regresso ao país para substituir Gaspar, e Passos enviou-lhe um sms informando estar a caminho de Belém para dar o nome da nova ministra das Finanças, Portas resolveu não avisar ninguém. Mas, para um decano da política, não ter arranjado uma escapatória na sua carta, para poder voltar atrás, foi uma inépcia imperdoável. Como disse alguém sobre Lucas Pires, o brilho não faz uma carreira política, mas o disparate pode desfazê-la irremediavelmente.

Tal como as famílias (com o seu primo ignorante, a tia desbocada, o neto malandro ou a cunhada que só diz asneiras, mas que a parentela desculpa porque tem síndrome de Tourette), todos os partidos têm alguns militantes com os quais não queremos aparecer na fotografia.
A Gente do CDS inclui a direita dos costumes, que pretende ter parecer vinculativo sobre as escolhas privadas alheias, e a direita social, com 2 espécimes bem representados na agremiação, as saudosas septuagenárias com estolas de pele, cachuchos nos dedos e cabelo armado à Tatcher, e os copinhos de leite (como lhes chamou  Avelino Ferreira Torres, outra companhia recomendável) de blaser e gel no cabelo.
O excesso de etiqueta das avós é compensado em falta de Educação  dos netos (nas palavras de Pedro Marques Lopes, 'parece mesmo que há gente a quem falta um pedaço, o mais importante pedaço'), porque é disso que se trata, como se viu neste 25º congresso: a ideia esdrúxula de diminuir a escolaridade de 12 para 9 anos - subscrita pelo líder da JP e apoiada por 5 secretários de Estado, porque 'a liberdade de aprender (…) é um direito fundamental de cada pessoa' - é absolutamente simiesca, numa perspectiva darwinista. Não estamos a falar de conservadores que pragmaticamente duvidam de mudanças mal fundamentadas, mas de reacionários que querem voltar para trás. E eu não me apetece nada estar associado a trogloditas, nem pela coincidência de uma cruzinha.
Eis algumas razões porque, sem entusiasmo, passo a votante em branco de longa duração: como disse alguém, é irrevogável, obedeço à minha consciência e mais não posso fazer.

post-scriptum: o outro é, obviamente, Paulo Portas

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

FALÁCIAS E MENTIRAS SOBRE PENSÕES

Henricartoon * sapo.pt 10/01/2014

Escreveu Jean Cocteau: “Uma garrafa de vinho meio vazia está meio cheia. Mas uma meia mentira nunca será uma meia verdade”. Veio-me à memória esta frase a propósito das meias mentiras e falácias que o tema pensões alimenta. Eis (apenas) algumas:
1. “As pensões e salários pagos pelo Estado ultrapassam os 70% da despesa pública, logo é aí que se tem que cortar”. O número está, desde logo, errado: são 42,2% (OE 2014). Quanto às pensões, quem assim faz as contas esquece-se que ao seu valor bruto há que descontar a parte das contribuições que só existem por causa daquelas. Ou seja, em vez de quase 24.000 M€ de pensões pagas (CGA + SS) há que abater a parte que financia a sua componente contributiva (cerca de 2/3 da TSU). Assim sendo, o valor que sobra representa 8,1% da despesa das Administrações Públicas.

2. Ou seja, nada de diferente do que o Estado faz quando transforma as SCUT em auto-estradas com portagens, ao deduzi-las ao seu custo futuro. Como à despesa bruta das universidades se devem deduzir as propinas. E tantos outros casos…

3. Curiosamente ninguém fala do que aconteceu antes: quando entravam mais contribuições do que se pagava em pensões. Aí o Estado não se queixava de aproveitar fundos para cobrir outros défices.

4. Outra falácia: “o sistema público de pensões é insustentável”. Verdade seja dita que esse risco é cada vez mais consequência do efeito duplo do desemprego (menos pagadores/mais recebedores) e - muito menos do que se pensa - da demografia, em parte já compensada pelo aumento gradual da idade de reforma (f. de sustentabilidade). Mas porque é que tantos “sábios de ouvido” falam da insustentabilidade das pensões públicas e nada dizem sobre a insustentabilidade da saúde ou da educação também pelas mesmas razões económicas e demográficas? Ou das rodovias? Ou do sistema de justiça? Ou das Forças Armadas? Etc. Será que só para as pensões o pagador dos défices tem que ser o seu pseudo “causador”, quase numa generalização do princípio do poluidor/pagador?

5. “A CES não é um imposto”, dizem. Então façam o favor de explicar o que é? Basta de logro intelectual. E de “inovações” pelas quais a CES (imagine-se!) é considerada em contabilidade nacional como “dedução a prestações sociais” (p. 38 da Síntese de Execução Orçamental de Novembro, DGO).

6. “95% dos pensionistas da SS escapam à CES”, diz-se com cândido rubor social. Nem se dá conta que é pela pior razão, ou seja por 90% das pensões estarem abaixo dos 500 €. Seria, como num país de 50% de pobres, dizer que muita gente é poupada aos impostos. Os pobres agradecem tal desvelo.

7. A CES, além de um imposto duplo sobre o rendimento, trata de igual modo pensões contributivas e pensões-bónus sem base de descontos, não diferencia careiras longas e nem sequer distingue idades (diminuindo o agravamento para os mais velhos) como até o fazia a convergência (chumbada) das pensões da CGA.

8. “As pensões podem ser cortadas”, sentenciam os mais afoitos. Então o crédito dos detentores da dívida pública é intocável e os créditos dos reformados podem ser sujeitos a todas as arbitrariedades?

9. “Os pensionistas têm tido menos cortes do que os outros”. Além da CES, ter-se-ão esquecido do seu (maior) aumento do IRS por fortíssima redução da dedução específica?

10. Caminhamos a passos largos para a versão refundida e dissimulada do famigerado aumento de 7% na TSU por troca com a descida da TSU das empresas. Do lado dos custos já está praticamente esgotado o mesmo efeito por via laboral e pensional, do lado dos proveitos o IRC foi já um passo significativo.

11. Com os dados com que o Governo informou o país sobre a “calibrada” CES, as contas são simples de fazer. O buraco era de 388 M€. Descontado o montante previsto para a ADSE, ficam por compensar 228 M€ através da CES. Considerando um valor médio de pensão dos novos atingidos (1175€ brutos), chegamos a um valor de 63 M€ tendo em conta o número – 140.000 pessoas - que o Governo indicou (parece-me inflacionado…). Mesmo juntando mais alguns milhões de receitas por via do agravamento dos escalões para as pensões mais elevadas, dificilmente se ultrapassam os 80 M€. Faltam 148 M, quase 0,1% do PIB (dos 0,25% que o Governo entendeu não renegociar com a troika, lembram-se?). Milagre? “Descalibração”? Só para troika ver?

12. A apelidada “TSU dos pensionistas” prevista na carta que o PM enviou a Barroso, Draghi e Lagarde em 3/5/13 e que tinha o nome de “contribuição de sustentabilidade do sistema de pensões” valia 436 M€. Ora a CES terá rendido no ano que acabou cerca de 530 M€. Se acrescentarmos o que ora foi anunciado, chegaremos, em 2014, a mais de 600 M€ de CES. Afinal não nos estamos a aproximar da “TSU dos pensionistas”, mas a … afastarmo-nos. Já vai em mais 40%!

13. A ideologia punitiva sobre os mais velhos prossegue entre um muro de indiferença, um biombo de manipulação, uma ausência de reflexão colectiva e uma tecnocracia gélida. Neste momento, comparo o fácies da ministra das Finanças a anunciar estes agravamentos e as lágrimas incontidas da ministra dos Assuntos Sociais do Governo Monti em Itália quando se viu forçada a anunciar cortes sociais. A política, mesmo que dolorosa, também precisa de ter uma perspectiva afectiva para os atingidos. Já agora onde pára o ministro das pensões?

P.S. Uma nota de ironia simbólica (admito que demagógica): no Governo há “assessores de aviário”, jovens promissores de 20 e poucos anos a vencer 3.000€ mensais. Expliquem-nos a razão por que um pensionista paga CES e IRS e estes jovens só pagam IRS! Ética social da austeridade?


António Bagão Félix, Economista, ex-ministro das Finanças * Público 13/01/2014

sábado, 11 de janeiro de 2014

AMNÉSIA

COMO SABEM, EU SOU DE FICAR,
NÃO SOU DE ABANDONAR.
Paulo Portas, discurso de
abertura do 25º congresso do CDS
 
E a vereação em Lisboa? Não recuemos tanto,
e a (ir)revogável demissão do governo, há apenas 5 meses?
Tome Memofante, dizem que resulta.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

TEMPUS FUGIT






Hoje, uma arquitecta contou-me que lhe ligaram duma repartição - além das 2 cópias dum documento, já entregues, precisavam que enviasse uma terceira, pois não havia papel de impressão!
O que vale é que já falta pouco para tudo melhorar...

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

FILHOS E CADILHOS

Ter um filho ingrato é mais doloroso
do que a mordedura de uma serpente!
William Shakespeare, Rei Lear 

Volta-não-volta, digo aos meus herdeiros pedinchões 'Tanta coisa e, no fim, pões-me num lar'. Na brincadeira (espero), mas há quem se queixe de ingratidão e, entre eles, a quem saiu A fava.
Cruzei-me há dias com um senhor que tem 5 filhos. Perguntei-lhe por um deles, que já não via há meses:
- Ah, esse não tem estado por aqui, só vem buscar o ordenado. Ele e a irmã são uns bandidos, roubaram-me uns milhares largos - uma pessoa cria os filhos e depois é assim que eles agradecem. O único que presta é o mais velho.
- Mas não foi esse que, há uns anos, lhe quis bater?
- Foi, tentou-me [es]faquear. Mas a gente perdoa tudo aos filhos...
A esse filho pródigo, ouvi eu tratar o pai por 'o velho', com um esgar nada carinhoso. Há pouco tempo.
Parece estória de novela, mas tristemente não é.
Alguém imagina, quando vê um bebé indefeso pela primeira vez, ou uma criança a aninhar-se no seu colo, com medo do escuro, que a vida seja uma implacável betoneira e esse filho se torne num bandido - como uma folha alva e imaculada que começa a ser preenchida com um b-a-ba ternurento e certinho e acaba cheia de gatafunhos furiosos.
Acresce, o que não é de somenos, a dilacerante dúvida do desafortunado progenitor - se, por erro ou omissão, no todo ou em parte, contribuiu para essa metamorfose.

domingo, 5 de janeiro de 2014

CROMOS


A esplanada estava quase vazia (a suspensão da chuva fora tão clemente quanto inesperada), apenas eu e, duas mesas adiante, 3 homens - um deles, com um bigode mal semeado, a disfarçar a tenra idade, e 2 mais velhos, que se revelaram tão síncronos como as pernas dum CR7 sonâmbulo.
- Então, o natal foi bom?, perguntaram ao mais novo.
- Foi na Lixa, com a família toda. O meu tio Mário ensinou-me mais um ditado, daqueles que só ele conhece, 'Dos outros, diz bem ou nada'.
- Ora aí está um provérbio que ninguém consegue cumprir, retorquiu um dos outros. Algum tempo nesta empresa e vais ver que, numa equipa tão grande, inevitavelmente quase toda a gente tem algo a apontar a quase toda a gente, mesmo que no geral as pessoas sejam catitas. E então, começou a contar pelos dedos:
- Além do engraxador e o informador...
- Ele quer dizer delator, meteu uma bucha o outro, pelos visto não tão aborto com o seu ipad.
- ... que não contam, são espécimes à parte, há o que chega atrasado e o que tem pressa para zarpar, o desleixado e o stressado, o desconfiado controlador, o que se julga mais sério que os outros...
- Mas haverá alguém que não se julgue sério?
- ... o picuinhas e o porreiro (o que nem sempre é bem uma qualidade, depende da função), o simpático-pouco-profissional e o seu negativo, o que se faz de coitadinho. Mais, hum..., o nómada que trota dum lado para o outro sem fazer nada, ou o sedentário que magnetiza em cadeiras e deixa a labuta para os outros...
- Em zoologia, a borboleta e ostra.
- ... o que 'delega' só até à parte da assinatura, o moralista com cúpula vítrea, o desbocadamente sarcástico, com uma subtileza de paquiderme, ou o outro com a avareza intelectual do conselheiro Gama Torres.
- Cá faltava um bocadito de erudição, não baralhes o rapaz. É uma pessoa que guarda as suas sábias opiniões, porque as não tem. 
- Depois há os que acumulam, ou que têm facetas tão exacerbadas que mais parecem personagens de ficção ou caricaturas do Bordalo - uns cromos.
Enquanto os ouvia, iam-me passando caras conhecidas pela cabeça, tão estereotipado era o catálogo.
O mais engraçado é que ninguém se enxerga (incluindo este que te fala), às vezes são os atrasados crónicos os mais atentos à pontualidade alheia. Bem, falta-me alguém no retrato de família?, perguntou o predicante.
- Tu.
- Bem, nas costas dos outros, vês as tuas, e com ce'teza também falam de mim, que estou longe do nirvana... Na melhor das hipóteses, eu e aqui o Zé somos umas velhas carcaças insurrectas e maledicentes, assim como o Statler e o Waldorf dos marretas...
- Fala por ti.
- ... ahã. As outras hipóteses, prefiro não saber, por razões de sanidade mental. Este é um dos casos em que a ignorância é antidepressiva.
- Imagina, uma terapia de grupo com pentotal sódico... seria o armagedão.
Eu (vai-se a ver, também um cromo), que de popular só tenho (tinha) o partido, acenei mentalmente: livra...

sábado, 4 de janeiro de 2014

UM PEQUENO LAPSO

 
Podia ser conhecido como Fidalgo Cavaleiro da Casa Real, Moço Honorário da Real Câmara Municipal do Porto, Comendador das Ordens de Cristo e da Rosa (do Brasil), Presidente da Associação Comercial do Porto, Presidente da Associação Comercial de Beneficência, fundador do Club Portuense.
Podia estar associado à construção do Palácio de Cristal. Podia ser lembrado pelas festas opulentas dadas no seu palacete na Invicta, pela sua riqueza acumulada no Brasil, onde viveu até aos 30 anos, ou pelas suas ações beneméritas.
Não, Guilherme Augusto Machado Pereira (1822-68) ficou conhecido por um erro: no diploma em que Pedro V lhe atribuiu um grau nobiliárquico, em 1861 - talvez o apogeu da sua existência -, trocaram-lhe a ordem dos apelidos, e o 1º Visconde de Pereira Machado passou a ser o 'visconde de trás para diante'.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

INGRES, UM NEOCLÁSSICO

'Vagueou pelas salas [do Louvre], desertas àquela hora do dia, passando pelas grandes máquinas dissonantes dos Românticos, até chegar àquelas presenças cheias de autoridade sem esforço: Mme. Rivière, reclinada obesamente nas almofadas de veludo azul, Mme. Pancouke no seu vestido de cetim branco, Mme. Marcotte, num castanho que não a favorecia, com os seus grandes olhos tristes que falavam de um desconforto mais físico que metafísico. Porque era impossível pensar em metafísica perante uma realidade corporal tão avassaladora. (...) Lembrou-se da observação de Baudelaire de que tinha dificuldade em respirar quando confrontado com um retrato pintado por Ingres*: sentia-se como se o oxigénio tivesse sido aspirado da atmosfera. Os olhos ovais cândidos eram tão insistentes que quase podia sentir o processo que se desenrolava por detrás deles: balbúcios e meneios discretos naqueles corpos perfeitos e, nos espíritos, um conhecimento sexual quase inocente. Quase inocente...'
em Fraude, de Anita Brookner

* Jean-Auguste Dominique Ingres (Montauban, 1780-Paris, 1867)

Torse masculin. 1800
Musée des Beaux Arts, Nantes

Étude pour torse masculin (97.5x80.6cm). 1801
Musée National, Varsovie

Autoportrait à l'âge de 24 ans (77x64cm). 1804
Musée Condé, Chantilly

Napoléon Bonaparte en premier cônsul (227x147cm). 1804
Musée des Beaux-Arts, Liège

 La famille Forestier. 1806
Musée du Louvre, Paris

Monsieur Rivière (116x89cm). 1805
Musée du Louvre, Paris

Madame Philibert Rivière, née Marie-Francoise-Jacquette-Bibiane Blot de Beauregard (117x82cm). 1806
Musée du Louvre, Paris

Mademoiselle Caroline Rivière (100x70cm). 1806
Musée du Louvre, Paris

Napoléon Ier sur le trône impérial. 1806 (259x162cm)
Musée de l'Armée, Paris

Madame Antonia Devaucay de Nittis (76x59cm). 1807
Musée Condée, Chantilly

Jupiter et Thetis (320x260cm). 1811
Musée Granet, Aix-en-Provence

Madame Panckoucke, née Cecile Bochet (93x68cm). 1811
Musée du Louvre, Paris

La Grande Odalisque (91x162cm).1814
Musée du Louvre, Paris

Lord Granham, Thomas Philip Robinson. 1816
collection privée

Madame Jacques Louis Leblanc, née Françoise Poncelle. 1822
Musée du Louvre, Paris

Madame Jacques Louis Leblanc, née Francoise Poncelle (119.4x92.7cm). 1823
Metropolitan Museum of Art, New York

Autoportrait. 1823
collection privée

Madame Marie Marcotte de Sainte Marie, née Suzanne-Clarisse de Salvaing de Boissieu (93x74cm). 1826
Musée du Louvre, Paris

L' Apotheosis de Homer (386x512cm). 1827
Musée du Louvre, Paris

Madame Clément Boulanger, née Marie-Élizabeth Blavot, depuis Madame Edmond Cavé (40.6x32.7cm). 1830
Metropolitan Museum of Art, New York
 
Étude pour 'Martyre de Saint Symphorien' II. 1833


Monsieur Louis François Bertin (116x95cm). 1832
Musée du Louvre, Paris

Madame Louis-François Bertin, née Geneviève-Aimée-Victoire Boutard (30.5x23.5cm). 1834
Musée du Louvre, Paris

Vicomtesse Othenin d'Haussonville, née Louise-Albertine de Broglie étude. 1842
Musée Duplessis, Carpentras

Vicomtesse Othenin d'Haussonville, née Louise-Albertine de Broglie (132x92cm). 1845
The Frick collection, New York


Baronne James de Rothschild, née Betty von Rothschild (141x101cm).1848
collection Guy de Rothschild, Paris

1851. Madame Paul Sigisbert Moitessier, née Marie-Clotilde-Inès de Foucauld (148x101.6cm). 1851
The National Gallery of Art, Washington DC

Madame Paul Sigisbert Moitessier. 1851
collection privée

Madame Paul Sigisbert Moitessier, née Marie Clotilde Inès de Foucauld (120x92cm). 1856
National Gallery, Londres

Princesse Albert de Broglie, née Josephine-Eleonore-Marie-Pauline de Galard de Brassac de Bearn (121x91cm). 1851-3
Metropolitan Museum of Art, New York

Jeanne d'Arc au sacre du roi Charles VII dans la cathédrale de Reims (240x178cm). 1854
Musée du Louvre, Paris

La source. c.1820-1856 (163x80cm)
Musée D'Orsay, Paris

Madame Jean Auguste Dominique Ingres, née Delphine Ramel (53x65cm). 1859
collection Oskar Reinhart am Römerholz, Winterthour, Suísse

L'âge d'or, les mains et les pieds, étude. 1862
Fogg Art Museum, Cambridge, Massachusetts

Para bisbilhotar:
http://lusile17.centerblog.net/rub-peintre-celebre-j-a-dominique-ingres-.HTML
http://www.sightswithin.com/Jean.Auguste_Dominique.Ingres/Page_1/
http://hoocher.com/Ingres/Jean_Auguste_Dominique_Ingres.htm
http://www.jeanaugustedominiqueingres.org/