...e depois, com bigodes de leite, pedem mais paciência e esforço ao povo, que a "vaca 'tá seca".

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

É MENTIRA


Jesus não nasceu a 25/12 do ano 1. Nasceu no reinado de Herodes magno (que morreu em Abril de 4 a.c.), durante o recenseamento do governador da Síria Quirino (em 7-6 a.c.) ou do legado imperial na Palestina Sentius Saturninus (8-6 a.c). De acordo com outros dados, o nosso menino pode ter nascido entre 13 e 3 a.c. Que feio, a roubar na idade…
Quanto ao dia do ano, apenas se sabe quando não foi: haveria pastores nas redondezas e a pastorícia decorria entre Março e Novembro, i.e., o miúdo não nasceu em Dezembro.
A estrela de Belém pode ser a estrela de Kepler, conjunção astral que ocorre a cada 794 anos e apareceu 3 vezes a 7 a.c. (29/5, 1/10 e 5/12), ou o cometa que passou entre 13 e 27 de Abril de 5 a.c.
Nos primórdios, o Natal celebrou-se em Maio (20), Abril (19 ou 20) e Janeiro. Até que, em 354 d.c., os cristãos parasitaram uma festa pagã romana dedicada ao regresso do sol (dies natalis solis invicti, depois do solstício de Inverno, quando os dias voltam a crescer), para a celebração não dar nas vistas ou para ocupar uma data já conhecida.

E os magos (não reis, mas homens sábios ou astrónomos), entre 2 e 12, conheceram Jesus já a caminho dos 2 anos, depois da sua apresentação no templo. Lá se vai o dia de reis, quando os espanhóis distribuem as prendas.
Os nomes dos ditos só apareceram uns 700 anos depois da babyparty, mas já com pormenor: diz S. Beda que Melchior tinha 70 anos e vinha do Iraque (ofereceu ouro, símbolo da realeza), Gaspar tinha 20 anos, era robusto e vinha do Mar Cáspio (incenso, fé ou divindade) e Baltazar era mouro do Golfo Pérsico, tinha 40 anos e barba cerrada (mirra, resina antiséptica usada no embalsamento, morte ou humanidade). Quem conta um conto, aumenta um ponto, parece.

É compreensível a confusão*, os 4 evangelhos canónicos não batem totalmente certo entre si: o evangelho mais antigo data de 70 d.c. e o (talvez) autor Marcos apenas escreveu o que ouviu de Pedro, como bem mais tarde Lucas fez com Paulo, i.e., diz que disse; Mateus e João eram apóstolos, mas os seus livros datam de 80 e 100 d.c. (décadas depois da morte de Jesus), a memória do velho cobrador de impostos e do pescador já não ‘tavam frescas, pela certa. E há mais centenas de evangelhos apócrifos (censurados pela igreja primitiva, como os de Filipe, Tomé, Pedro, Judas e Maria Madalena) que ajudam à cacofonia.
Vai-se a ver e a única verdade é que o pai Natal existe.

* Há versões para todos os gostos, até para cépticos. O livro judeu Talmud refere Jesus como ben Pantera, ou filho de Pantera, e Celso escreveu em Contra os Cristãos: "Começaste por fabricar uma filiação fabulosa, pretendendo que devias o teu nascimento a uma virgem. Na realidade, és originário de um lugarejo da Judeia, filho de uma pobre campónia que vivia do seu trabalho. Esta, culpada de adultério com um soldado, Pantero, foi expulsa por seu marido, carpinteiro de profissão. Expulsa assim e errando aqui e além ignominiosamente, ela deu-te à luz em segredo. Mais tarde, constrangida pela miséria a expatriar-se, foste para o Egipto; aí aprendeste alguns desses poderes mágicos de que os Egípcios se gabam, voltaste ao teu país e, inchado com os efeitos maravilhosos que sabias provocar, proclamaste-te Deus."
Um caluniador, este Celso. Não entra no céu nem com uma máquina Nespresso.

Sem comentários:

Enviar um comentário