...e depois, com bigodes de leite, pedem mais paciência e esforço ao povo, que a "vaca 'tá seca".

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

POSTAIS ANTIGOS (I) - A COLECÇÃO

Há 30 anos, a minha bisavó deu-me os brincos que lhe puseram à nascença, e à minha irmã deu a colecção de 1022 postais (aprendi, há pouco tempo ela herdou umas pratitas e eu pedi apenas papeis velhos).
Pedi agora os postais emprestados e vi-os todos. Comecei a digitalizar os mais giros, ou com textos curiosos, e repetiu-se o que me acontece em turismo (já que aqui estamos, vamos ver aquilo também), acabei em 650. Agora também são meus e, aos poucos, de quem aqui aparecer.    
O marido (n.1894) trocou postais com coleccionadores estrangeiros, entre 1910 e 1912 - vejamos, que outra forma havia na altura de conhecer Genebra, Roma e Versailles, ou ver os quadros do Louvre? A partir daí, foi acumulando postais de muitas terras portuguesas e a correspondência particular dos dois e duma cunhada.
Os postais falam duma vida corriqueira: mensagens de parabéns, as idas ao retrato ('vai ficar obra-prima'), os desejos de melhoras e as estadas no sanatório da Guarda ('aqui, neste degredo'), a aula de chimica, ensaios de teatro e lições de piano, os boatos dum aumento no final do ano da cunhada tesoureira na... PIDE.
Uma única vez se anuncia um nascimento. Não se fala em morte, e houve muitas - o mais próximo foi uma referência à ida “aos Prazeres, para o papá ver um jazigo que quer comprar” -, nem de casamentos ou, explicitamente, de paixões.
E não se fala na história colectiva. No primeiro quartel de 1900s, houve um regicídio, uma revolução, inúmeros golpes de Estado, uma guerra mundial. Há duas alusões à esperança em ficar isento do serviço militar, em 1914 - ficou, e não rumou no CEP para as trincheiras de França.
Dá-se conta do fim da monarquia apenas pela mudança de destinatários (a Ill.ª e Exc.ª Mademoiselle Anna passa a ser a Ilustre Cidadã Ana), pelos selos e pelos coleccionadores estrangeiros, que dias depois do 5 de Outubro pedem postais do novo governo e selos com Manuel II ou comemorativos do 1º ano da república, e que informam que a imprensa francesa diz ser a situação nacional pouco tranquila. O Estado Novo é reconhecido pela propaganda filatélica.
Provavelmente, nesse aspecto, os postais enviados por José Jacintho Rocha seriam mais interessantes que os recebidos, poderiam contar novidades sobre o que se passava no país. Mas desconfio que, em 1910, estaria mais interessado nas fotos de pin-ups que lhe enviavam de Paris.

1907
1908
1910
1911
1911
1910-10-13
1910-10-15
1914-7-10
1931
1931

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