...e depois, com bigodes de leite, pedem mais paciência e esforço ao povo, que a "vaca 'tá seca".

domingo, 6 de fevereiro de 2011

REAGAN, O COWBOY AMERICANO

Ronald Reagan faria hoje cem anos. Actor, presidente do respectivo sindicato, 33º governador da califórnia (1966-74) e 40º presidente americano (1980-88), é considerado o 2º presidente mais popular da história, a seguir a Kennedy. Face do liberalismo, a par de Tatcher, foi responsável pela controversa reagonomics, assente no estímulo à oferta, diminuição de impostos (mais tarde subiu-os) e desregulamentação. Esta política levou a uma recessão durante 2 anos, seguida por 96 meses de crescimento, a maior expansão em tempo de paz. No seu mandato, o rendimento médio dos americanos subiu 15%, foram criados 20 milhões de empregos e a dívida pública triplicou. Adepto dum Estado pequeno, porque "o governo não é a solução, mas o problema", deixou-o maior do que encontrou. No plano externo, a doutrina "paz pela força", com o forte investimento na defesa (a "guerra nas estrelas" inflacionou o orçamento da defesa em 50%), levou a URSS ao tapete, sem dinheiro para bancar, ao mesmo tempo que teve a sorte de encontrar como interlocutor Gorbachov, com quem criou uma relação cordial e assinou um tratado de redução de armas nucleares. 20 anos depois de kennedy dizer na berlim ocidental "somos todos berlinenses", Reagan foi lá exigir "Sr. Gorbachov, deite abaixo este muro" - o que aconteceu no final da década. No reverso, os EUA venderam secretamente armas ao Irão (em troca da libertação de reféns no Líbano) e financiaram ilegalmente os contras da Nicarágua. Anticomunista primário, apoiou ditadores como o filipino Ferdinand Marcos. Saiu aos 51 anos dum partido democrata esquerdizado, 2 anos depois fez um brilharete numa convenção republicana, 2 anos depois era eleito na califórnia, perdeu 2 primárias para presidente e foi ungido presidente aos 69 anos. Com fama de conservador, era sobretudo prático e preocupado com soluções e resultados, não desdenhando compromissos com os democratas. Conquistou o povo estimulando o orgulho da grande nação, com discursos tipo "nós vamos vencer este desafio, porque, afinal, somos (os) americanos". Nada como dizer aos americanos que são os melhores, pois então. Carismático e caloroso, Reagan é lembrado por algumas gaffes (como brindar ao povo da bolívia, no Brazil), mas essencialmente por piadas inesperadas. Quando perguntado sobre como seria enquanto governador, o candidato-actor respondeu "não sei, nunca fiz o papel de nenhum"; noutra ocasião, afirmou não estar preocupado com o défice, "ele é grande o suficiente para de cuidar a si mesmo". Para a história fica o susto, quando resolveu dizer antes duma emissão radiofónica, pensando que o microfone estava desligado, "meus compatriotas americanos, acabo de assinar a legislação que acaba com a rússia para sempre, o bombardeio começa em 5 minutos". Eis algumas das suas pérolas, algumas a gozar consigo próprio: Um comunista é alguém que leu marx e lenine, um anti-comunista é alguém que compreende marx e lenine. Se na URSS fosse permitido outro partido, continuava a ser um país de partido único, todos se mudavam para esse. Dei ordens para ser acordado em caso de emergência nacional, mesmo se estiver numa reunião de gabinete. Há vantagens em ter sido eleito presidente, no dia seguinte as minhas notas de liceu foram classificadas secretas. Nunca tomo café ao almoço, mantém-me acordado à tarde.
Dizem que trabalho duro não faz mal, mas não arrisquei. A visão do Estado sobre a economia resume-se a umas frases: se mexe, taxa; se continua a mexer, regulamenta; se deixa de mexer, subsidia. O primeiro dever do Estado é ajudar as pessoas, não gerir-lhes a vida. O governo não tende a resolver problemas, mas a rearranjá-los. O governo é como um bebé, um canal alimentar com um apetite enorme numa ponta e nenhuma noção de responsabilidade na outra. Dizem que a política é a segunda profissão mais velha do mundo, parece-me muito parecida com a primeira. Como seriam hoje os 10 mandamentos, se Moisés tivesse que os submeter ao congresso? Mas a minha preferida é sobre o Alzheimer, de que padeceu, "a vantagem desta doença é que conheço pessoas novas todos os dias". Sempre a olhar para o lado luminoso da vida, diriam os Monty Phyton.

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