...e depois, com bigodes de leite, pedem mais paciência e esforço ao povo, que a "vaca 'tá seca".

terça-feira, 13 de abril de 2010

CONCURSOS PRÓ-FORMA



Caríssimo:
Não imaginas quem tenho visto, o Rodrigo. Está na mesma, tenho é dificuldade em acompanhar a sua saga laboral: foi sub-director regional da saúde, ainda há meses era director-geral das pescas e agora vai para um instituto qualquer com uma sigla enorme que nunca ouvi falar. É obra, para um engenheiro de minas.
Se não ‘tás a ver quem é, talvez a alcunha te diga alguma coisa, o “copo-de-3”. Nunca lhe associei uma densidade intelectual que lhe augurasse um futuro tão perto do sol, o que recordo é como o gajo culpava sempre o último copo que o estragava, “cheirava a rolha”. Se calhar essa era uma faculdade premonitória da sua apetência para a política, sacudir a água da samarra. E a mãe, ‘tadinha, acolhia-o sempre o etilizado rebento com um ternurento “Por Santa Maria de Cárquere, o que é que os teus amigos te fizeram?”, como se o benjamim fosse eternamente um caloiro praxado.
Mas antes a ele que a outro qualquer, não achas?

A propósito, vi há tempos uma entrevista ao dono da Jerónimo Martins na SICN. Soares dos Santos disse 2 coisas engraçadas:

1. As pessoas estão sentadas 10-15 minutos antes das reuniões da sua empresa começarem, dando tempo para a conversa de ocasião, porque a hora marcada é para começar a trabalhar.
2. Os gestores públicos devem ser seleccionados de acordo com o perfil determinado para a função, e geralmente é uma pessoa da estrutura – escolhe-se a pessoa certa para o cargo, não o cargo certo para a pessoa. Exactamente o contrário de pegar em pessoas do partido e arranjar-lhes um “poiso”. É que nem sempre os bons e os lugares bons se encontram.

Ai coisa e tal, é um escândalo que o Estado faça concursos de empreitadas, à medida de quem quer escolher.

Pois é, mas o problema não é só nos grandes concursos, é em quase todos, só varia a dimensão: como uso dizer, o presidente do instituto rouba no cartão de crédito e usa o carro para ir ao spa, o porteiro (que chama gatuno ao chefe) rouba os clips e usa o telefone para ligar ao primo do Canadá, é uma questão de oportunidade.
Depois do Inverno cavaquista, o Guterres arejou a casa. Uma das suas leis pretendia que, tirando dirigentes máximos de nomeação, todos os restantes cargos fossem preenchidos por concurso, para despartidarizar a administração pública. Não passou de boas intenções.

Há um ano, resolvi participar num concurso para uma câmara municipal, mesmo que a
vox populi assegurasse que o lugar já estava atribuído. Guardo carinhosamente um mail enviado pelo director municipal a la Sampaio – num palavreado jurídico e hermético, nem percebi o que queria dizer, excepto a conclusão, negativa claro.

Há umas semanas, fui informado que iria abrir um concurso para chefe de divisão noutra câmara. Não cheguei a concorrer, pois soubera antes que o lugar tinha sido prometido a um colega; o único ignorante foi um professor convidado para júri, de forma a dar credibilidade à farsa.
A questão foi-me resumida de forma cristalina por um autarca: “na maioria dos casos, o concurso é para formalizar situações”. O concurso, que não era para ninguém saber, teve excesso de candidatos e foi anulado – e o “ungido” vai tomar posse na mesma.

Mas também já me calhou a mim ser convidado para um cargo de chefia (em Lisboa, como sempre!, pelo que recusei).
Toma-se posse, uns meses (ou anos) mais tarde é aberto o concurso obrigatório e fica o “artista convidado”, que já tem experiência e gavetas ocupadas.
É a vida, diria um tal Guterres.

Uma palmada nesses costados. Até.

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