Foi hoje apresentada a imagem oficial da visita de bento XVI a Portugal, a usar em camisolas, bandeiras, pendões, medalhas, lenços, envelopes - para criar uma unidade visual, justifica o Bispo Carlos Azevedo.
O projecto é altamente profissional e, por acaso, até gosto do resultado do designer Xavier Neves (vejam a norma gráfica no site oficial da visita). É sinal que a Igreja se tenta adaptar aos tempos modernos.Mas cheirou-me a merchandising. E, sem outra razão que não seja a minha esclerose, veio-me à cabeça uma história e um poema. Episódio, os vendilhões do templo.
"Chegaram pois a Jerusalém. E havendo entrado no templo começou a lançar fora os que vendiam e compravam no templo: e derrubou as mesas dos banqueiros e as cadeiras dos que vendiam pombas. (...) E Ele os ensinava dizendo-lhes: Porventura não está escrito que a minha casa será chamada casa de oração entre todas as gentes? E vós tendes feito dela covil de ladrões". Evangelho de Mateus, 21:12-13
"E, feito um açoite de cordéis, lançou fora do templo, também os bois e as ovelhas, espalhou o dinheiro dos mercadores e derrubou as mesas". Evangelho de João, 2:15
Moral da história: Jesus, ao expulsar do Templo os comerciantes que ali vendiam mercadorias utilizadas nos cultos, expressou a sua fúria por ver desvirtuado o destino próprio do lugar de oração e encontro com Deus, pois o Templo deixara de ser o local sagrado para se tornar num lugar de comércio e exploração.
No dicionário Aurélio, vendilhão significa (figuradamente) aquele que trafica coisas de ordem moral - e o comércio no Templo simboliza o tráfico moral, a transfiguração do propósito da igreja.
(...)
Quem desmente, por exemplo,
Tudo o que Cristo ensinou.
São os vendilhões do templo
Que do templo ele expulsou.
E o povo nada conhece...
Obedece ao seu vigário,
Porque julga que obedece
A Cristo — o bom doutrinário.
António Aleixo, "Este Livro que Vos Deixo..."
Calhei de vir cá parar. Mas chamar vendilhões por causa de um cheiro...
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