...e depois, com bigodes de leite, pedem mais paciência e esforço ao povo, que a "vaca 'tá seca".

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

1/2. A CASA DAS HISTÓRIAS

Aos 17, vivi 1 ano às Janelas Verdes, e nunca entrei na porta do museu da arte antiga. Para meu remorso.
Mas há oportunidades que não se podem perder. Pois onde estava eu a 9/9/9? A Susana ficou literalmente retida 4 horas e meia, no que pode ser o melhor parque para miúdos do país, por estes dias (Kidzania, recomendo). Embora solidário, aproveitei a espera para visitar a Casa das histórias da Paula Rego.
Enganei-me e entrei pelo fim, mas resolvi continuar ao contrário, foi uma maneira diferente de ver a exposição, com a artista e rejuvenescer: vê-se como progrediu com a idade.
A fase do pastel, com as telas melhores e o traço inconfundível das mulheres parecidas, tipo beirã de pele curtida na lavoura, quase com buço, umas D. Marias de Santa Comba; até as meninas têm caras adultas. E o divã castanho, onde as mulheres posam sempre; as memórias de hábitos antigos, como crianças e vinho, a bota cardada, o castigo, a costura do hímen; as cenas bíblicas com as suas mulheres com roupa d’há 40 anos e poses provocantes (o Sampaio arranjou um tesouro para o Estado, ao adquirir uma série dessas sobre a Nossa Senhora, para a capela do Palácio de Belém).
Antes de 94-95, houve a fase do acrílico, menos apurada, com os mesmos temas, mas pior material. Mas a viragem ocorreu em 1987, quando o marido morreu, pois as pinturas anteriores não têm nada a haver. A minha visita acabou no início, na fase de colagens. Deu para ver que a Paula Rego é como o vinho do Porto, melhorou bastante com o tempo.
Paula Rego é alucinada, mas de forma divertida e interessante, é assumidamente medrosa e não tem manias sobre a sua genialidade. Quando lhe perguntam se a mãe era a modista num dos quadros, respondeu “olhe, pode ser”. Quando lhe perguntaram se o que queria dizer era blablabla (os jornalistas também inventam…), respondeu “não sei, o que é que acha que pode ser?”.
Quanto ao sítio, é perto da cidadela de Cascais. Uma das terras mais aprazíveis do rectângulo, com as suas ruinhas empredradas, os jardins, os restaurantes em pátios e becos. A Casa é um projecto bem giro, a esplanada é óptima e o jardim quase zen. Entrada gratuita.
´Tá feito o convite.

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