...e depois, com bigodes de leite, pedem mais paciência e esforço ao povo, que a "vaca 'tá seca".

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

OS SINÓNIMOS NÃO SÃO IGUAIS

 

Liguei hoje a um amigo, 'olha, o zé acabou de me dizer que o teu pai morreu ontem, quis dar-te um abraço'. Ainda não tinha acabado o curto telefonema, tipo toca-e-foge (que mais há a dizer?), e pensei na minha escolha vocabular: falecer e morrer são sinónimos, mas têm cargas distintas, a primeira palavra é mais romba e segunda é mais afiada, embora ambas 'cortem' (até foneticamente, o 'ele' embala, enquanto o 'duplo erre' corrói).
Pois, funeral e enterro, luto e nojo, ou mudando de agulha, vencido e derrotado, ignorante ou néscio, têm o mesmo significado e não querem dizer a mesma coisa.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

ALIENADOS


Há poucos dias, Pires de Lima pediu desculpa aos colegas de governo - falara demais em Londres, ao afirmar, frente a um microfone, que o programa cautelar seria programado no início de 2014. Ainda não estava formatado para omitir, dissimular ou mentir, como compete a qualquer governante com quilometragem.
Pois bem, já lhe fizeram o reset, era uma questão de tempo: Pires de Lima disse hoje, convicto, que o ajustamento está a resultar ao nível do défice e que a economia nacional vive um milagre económico, atribuível às empresas e às exportações.
Ora, sem ser muito exaustivo, só a recessão destes 3 anos vai demorar mais de 10 a recuperar, o desemprego está em alta (metade dos 'ungidos' não recebe qualquer subsídio), o rendimento da generalidade dos portugueses está em baixa, a dívida continua a opar, 120.000 pessoas emigraram só em 2012 (a maioria qualificada). Resultado do triunfal ajustamento, o défice nem sequer se mexeu, apesar do enorme aumento de impostos deste ano.
É oficial: numa palavra, alienou. 

sábado, 26 de outubro de 2013

OLHÓ JORNAL


Há muitas razões para frequentarmos um café, ser perto, ser a escolha de amigos, ter pouco barulho, ter (ou não) espaço de fumadores, ter jornais. 
A minha eleição é um café próximo de casa, grande, onde posso sentar-me longe dos outros clientes, evitando o tac-tac de conversas alheias, e ler o jornal. A maioria dos cafés da região tem o JN, mas este também tem o CM, o Público e, aos sábados, o Expresso. A variedade evita que fiquemos em 'lista de espera' e, sorte a minha, os jornais mais procurados são o JN e o Correio da Manhã, pelo que costumo encontrar o Público (e o Expresso) no escaparate.
A fidelidade ao estabelecimento tem a desvantagem dos outros clientes habituais tomarem a liberdade de fazer conversa, quando estamos (dado o tempo limitado da estada) totalmente embrenhados no scan da gazeta. Mas uma das últimas abordagens permitiu validar a minha explicação para as diferentes tiragens.
Disse o senhor, com aquele ritmo paciente de reformado, cabelo cinza alcatroado com brilhantina, dedos amarelecidos a escorar uma beata 'no casco':
- Não tem aí o correio da manhã, não?... É o meu preferido... Os outros trazem muito paleio, este traz é coscuvilhices, dá para animar.

                                                           Circulação 3º bimestre 2013, média por edição (dados APCT)
                                                           CM - 114.750
                                                           DN - 24.833
                                                           Expresso- 93.519
                                                           I - 5.514
                                                           JN - 70.005
                                                           Público - 29.074
                                                           Sábado - 64.014
                                                           Sol - 25.193
                                                           Visão - 85.023

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

ACHAM QUE À TERCEIRA É DE VEZ?

 
A propósito de mais um OE, será que, no nosso almoxarifado,
ninguém ouviu falar naquela frase atribuída a Alfred Einstein,
'Insanidade é repetir a mesma coisa vezes sem conta
e esperar resultados diferentes.'
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terça-feira, 22 de outubro de 2013

E É PARA QUEM QUER


'Oferta de emprego na clínica XPTO:
* Medico/a-Veterinário/a com menos de 30 anos de idade
* Com pelo menos 3 anos de experiência em Clínica de Animais de Companhia
* Tenha realizado estágio no estrangeiro e em Hospital Veterinário Português
* Disponibilidade para horário completo, rotativo e com urgências
* Viatura própria e residência na região
* Domínio em processador de texto e folha de cálculo
* Elegível para estágio profissional.
Envio de curriculum para geral@clivetxpto.com'


A - Ora bem, tem que ser muito novo, ter já uma experiência invejável, imensa disponibilidade e aceitar ser estagiário. O salário logo se vê. Sinal dos tempos.
B - Não. Sinal de falta de tempo para ter vergonha na cara.
A - Não é questão de vergonha, mas quando a lei da oferta e da procura pende para o lado do empregador, há quem queira 'o rabinho lavado com água de rosas'.
B - Não tenhamos medo das palavras. Sou a favor da economia de mercado. O conceito de procura abundante versus oferta medíocre não me é estranho. Não conheço as pessoas em questão. Não conheço as suas circunstâncias. Talvez não deva julgar. Mas trata-se aqui de um enorme enema rectal de essência de rosas!
C - Se alguém faz essa oferta é porque sabe que vai encontrar candidatos com esses requisitos: não preciso de pagar 2000€ a uma pessoa que não faz urgências, nem trabalha ao fim-de-semana, se posso pagar 1500€ a outro que se desunha. O mal foi terem aberto tantas faculdades, há veterinários a mais e depois têm que aceitar o que houver.

No fundo, os 3 veterinários têm razão, mesmo C, que (adivinharam) é dono duma clínica.  

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

SERÁ FADO?


   'O Governo português anda mendigando em Londres um novo empréstimo.
   Os nossos charlatães financeiros não sabem senão estes dois método de governo:
- Empréstimos e impostos.
   Por um lado, o governo mandou para as cortes um carregação de propostas tendentes todas a aumentar de tributos; por outro lado, o governo vai negociar um empréstimo no estrangeiro.
   É dinheiro emprestado e dinheiro espoliado.
   Pede-se dinheiro aos agiotas para pagar às camarilhas; depois tira-se ao povo para pagar as agiotas!
   E ao passo que se trata de um empréstimo em Londres, negoceia-se outro empréstimo com os bancos nacionais.
   Este tem carácter de dívida flutuante* interna e é para pagamento da dívida consolidada** externa!
   Este empréstimo que nos está às costas para pagamento no fim de três meses, sai na razão de 13/2%!
   E no fim não é dinheiro aplicado em nenhum melhoramento público; é só dinheiro para pagar juros da dívida!
   É a dívida a endividar-nos cada vez mais! É a dívida a crescer para pagar as sinecuras do estado! É a dívida a multiplicar-se para não faltarem à corte banquetes, festas, caçadas, folias!
   Esta situação é terrível e tanto mais que ela exige para não se agravar, de sacrifícios que o país não pode e que de mais não deve fazer, quando eles são apenas destinados às extravagâncias da corte e ao devorismo do poder, no qual se inscreve agora o novo subsidio aos pais da pátria!'
em A Lanterna, 17.12.1870
Fica a pergunta, não se aprendeu nada?

* dívida pública a curto prazo; ** dívida pública sem prazo de reembolso

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

EU VEJO A LUZ


O governo vê sinais positivos na conjuntura.
É uma questão de dioptrias: eu também vejo uma luz ao fundo do túnel, mas não sei o que é: será uma fogueira dantesca, um TGV a vir contra o que resta de nós, um néon a dizer 'beco' ou '(à cautela) siga para o próximo túnel'?
Quando lá chegarmos, a rastejar, logo veremos.
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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

MAO MAO MARIA



'- Citavam o Mestre. Quem quer que tentasse formular as suas próprias frases era imediatamente acusado de uso burguês da linguagem. A única exceção era «Morte aos fascistas da Associação Comunista de Marxistas-Leninistas».
- Mas eles não eram comunistas também?
- Claro que eram. Mas nada irritava mais os rebeldes do que aqueles que pensavem quase como eles. O Torbjörn Säfve, que escreveu um livro brilhante sobre o movimento dos rebeldes, chamou-lhe «insatisfação paranóica». O tipo de cartazes que as pessoas afixavam nas paredes constituía para eles uma questão importante. Se alguém tivesse um cartaz do Lenine que fosse maior do que a fotografia de Mao, isso era visto como contrarrevolucionário. Se a parte de cima de uma fotografia de Mao estivesse abaixo do nível superior de uma fotografia de Lenine ou de Marx, isso bastava para que alguém fosse acusado de falta de convicção.'
 
O trecho, do romance Lobo Vermelho (Liza Marklund), retrata os maoístas suecos, em finais de 60, mas poderia ser um polaróide do MRPP, não?
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A 2ª GUERRA MUNDIAL ANIMADA'


sábado, 5 de outubro de 2013

OLHE QUE NÃO

Auto-retrato 'Le désespéré', Gustave Courbet
 
'Se nos sentarmos tempo suficiente junto ao rio, veremos os corpos dos nossos inimigos levados pelas águas', diz o ditado chinês.
É mais um adágio que advoga a paciência e, qual consolo, ensina que o tempo se encarrega de fazer justiça.
Mas este encerra um paradoxo: partindo do princípio que somos inimigos dos nossos inimigos, podemos ser nós a ir na corrente.
 

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

GANDHI E O PROFESSOR PETERS

 
Enquanto Gandhi estudava Direito no Colégio Universitário de Londres, um professor de nome Peters tinha-lhe aversão, mas o estudante nunca baixou a cabeça e os seus 'encontrões' eram frequentes.
Um dia, Peters estava a almoçar na sala de jantar da Universidade, o aluno vem com a bandeja e senta-se ao lado do professor. O Professor, altivo, disse "Sr. Gandhi, você não entende... Um porco e um pássaro não se sentam juntos para comer.", ao que Gandhi respondeu "Fique o professor tranquilo... Eu vou voando", e mudou-se para outra mesa.

Peters ficou cheio de raiva e decidiu vingar-se no teste seguinte, mas o aluno respondeu de forma brilhante a cada pergunta. Então o professor fez mais uma pergunta: "Mr. Gandhi, você está a andar na rua e encontra um saco, dentro dele está a sabedoria e uma grande quantidade de dinheiro, qual dos dois tira?"
Gandhi respondeu sem hesitar: - "É claro, professor, que tiro o dinheiro!"
O Professor, sorrindo, retorquiu "Eu, ao contrário, tinha agarrado a sabedoria, você não acha?". "Cada um tira o que não tem", respondeu o aluno.
Peters ficou histérico e escreveu no papel da pergunta: "Idiota!"
O jovem Gandhi recebeu a folha e leu atentamente. Depois de alguns minutos, dirigiu-se ao professor e disse "Mr. Peters, reparo que assinou a minha folha, mas não colocou a nota".