quarta-feira, 30 de março de 2011

Ó HERESIA!!!

Premio Lácteo a San Bernardo (1646-50), Museo del Prado
Alonso Cano (1601-67)
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NOTAS DE PRÉ-PRÉ-CAMPANHA


PS: altamente profissional a passar uma mensagem, depois de ter esticado a corda (com um pec prometido em Bruxelas sem informação ao parlamento ou ao PR), de forma a provocar eleições - o que conseguiu.
Slogans ad nauseam: “Estávamos a defender Portugal e a oposição destruiu o esforço para não recorrermos ao FEEF”, quando a ajuda estava iminente, perante o repetido falhanço e a maquilhagem do controlo do défice, como o “esquecimento” do buraco do BPN, que uns bisbilhoteiros da UE descobriram; “O PSD é um papão que irá destruir o Estado Social”, como se o PS não tivesse cortado nos apoios sociais, salários, comparticipações em medicamentos, aumentado to-dos os impostos, taxas judiciais, taxas moderadoras, portagens... e acordasse agora diminuir as indemnizações por despedimento.

PSD: trapalhão, ingenuamente sincero e cacofónico. Há demasiada gente a falar, a dar ideias descoordenadas para arrecadar receitas (vender a CGD, que dá gordos dividendos anuais, para quê? Daaa!). A mensagem que passou foi o aumento de IVA (ninguém disse isso, mas que tal era preferível a congelar pensões de sobrevivência de 240€). Não aprenderam que falar verdade não compensa?

O primeiro arrisca-se a ganhar e o segundo habilita-se a perder: a cabeça do povo exige a verdade (não a promessa de êxito da consolidação orçamental na véspera de cada machadada e/ou de cada buraco nas contas), o coração foge a más notícias. E quem pode prometer algo nesta altura? Ninguém. Só, como prometeu Churchill na 2ª G.M., sangue, suor e lágrimas.

Passos tem uma vantagem: não está provado o que ele vale, mas está provado à saciedade que o PS falhou, o que lhe confere um tantinho mais de credibilidade. Mesmo que a sua receita não seja muito distinta. Mas parece que a maioria não quer o PSD com maioria absoluta: é como a brigada de trânsito, devem andar sempre 2 agentes juntos, assim vigiam-se.

Nas extremas, o CDS faz (como sempre) uma prova de vida, tentando sedimentar os 2 dígitos, e volta o slogan "o CDS tem que ficar à frente da esquerda radical", numa espécie de 2ª divisão - o que também dá prémio!
Já o PCP e o BE têm um dilema bem posto por Daniel Oliveira: ou tentar um entendimento mínimo com o PS, com cedências mútuas, ou limitar-se a crescer "à custa da desgraça das pessoas" (eixo do mal 26.03.11).

terça-feira, 29 de março de 2011

segunda-feira, 28 de março de 2011




Um santo é um pecador
morto, revisto e corrigido.
 Ambrose Pierce

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Brueghel 1559, Carnival and Lent

Só se vive uma vez, e se for da maneira certa, uma vez chega.
Mae West
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domingo, 27 de março de 2011

JERÓÓÓNIMO

Não há história da arquitectura e engenharia, ou da literatura e filosofia, sem a igreja. O mesmo se passa com a pintura.
São Jerónimo (séc. IV), doutor da igreja, padroeiro dos biblitecários e tradutores (traduziu a bíblia do grego e hebraico para latim) e patrono das secretárias, mereceu a atenção de muitos pintores, quase como uma prova de maturidade. Em comum, aparecem caveiras (sinal da mortalidade), a visão de Deus (que lhe puxou as orelhas porque prestava mais atenção à literatura romana que à bíblia), ou o leão, a quem tratou a pata, recolheu no convento e protegeu de calúnias.

Van Eyck
Bosch
Leonardo da Vinci
 Albrecht Dürer 1514
Albrecht Durer 1521, Museu N. Arte Antiga
Domenico Ghirlandaio
Andrea Mantegna
Caravaggio
Caravaggio
Caravaggio
Ticiano
Tintoretto
Ribera
Rembrandt
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UM ALUCINADO

Hieronymus Bosch (ou Jeroen van Aeken, como lhes chamaram os pais) foi o primeiro surrealista, meio milénio antes de nascer esse termo. O holandês viveu entre 1450 e 1516, o que foi demasiado cedo: a sua mania pela alquimia não caíu muito bem na inquisição. Curiosamente um dos seus maiores fãs foi Filipe II de Espanha, o super-religioso neto dos reis católicos, preocupado com o destino das almas.
Os seus quadros (bidimensionais, numa altura em que o renascimento italiano já recorria à perspectiva), geralmente com temática religiosa, aludem à luta entre o bem e o mal e fazem uma crítica aos costumes sociais e fraquezas humanas, à devassidão, cobiça e loucura - alguns podiam ser o cenário dos Autos de Gil Vicente. Um deles, a nave dos loucos (ou nau dos insensatos), poderá ter sido inspirado numa sátira de Sebastian Brant, onde a partes tantas se escreve "é melhor seguir sendo laico do que comportar-se mal dentro das ordens".
Vi algumas das suas peças no Museo del Prado, em Madrid, onde está a maioria das melhores obras do pintor (e 3 dos apenas 7 quadros com autoria confirmada; há cerca de outros 20 suspeitos). Como aquela gente traduz tudo, lá conhecem-no por El Bosco.
Fui sozinho, o que tornou possível "estacionar" em frente a cada quadro: somos quase obrigados a fazer um scaner milimétrico, dada a quantidade de pormenores (dá para aumentar as imagens seguintes).

As Tentações de Santo Antão, Museu Nacional de Arte Antiga
A Morte e o Avarento, Galeria Nacional de Arte, Washington
O Carro de Feno, Prado
A Nau dos Insensatos, Louvre
O Jardim das Delícias, Prado
Idem, painel esquerdo, O Céu
Idem, painel central
Idem, painel direito, O Inferno
Idem, pormenor do painel direito, o diabo

quinta-feira, 24 de março de 2011



CONSCIÊNCIA É A VOZ INTERIOR
QUE NOS DIZ QUE
ALGUÉM PODE ESTAR A OLHAR.

H.L.MENCHEN
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O RAIO DO SOL

 
 Bank of the Seine, 1887
Field with Flowers near Arles, 1888

Andaram a bisbilhotar uns tubos de tinta guardados desde que Van Gogh cortou a orelha, e dois quadros seus (ver acima), com um raio x microscópico supermega-sensível. Conclusão, o Sol provoca uma reacção química qualquer, com redução do crómio na camada superficial de tinta que contacta com o verniz dos quadros – resultado, o amarelo passa a castanho.

Então se os compostos químicos contiverem bário e sulfato, o escurecimento acelera. Diz o estudo que a técnica de Van Gogh de misturar pintura branca e amarela pode ser a causa do escurecimento dos seus amarelos. O pintor, parece, começou a usar cores mais brilhantes e intensas depois de se mudar para França, onde partilhou ideias com outros artistas, como Gauguin.

Se o homem sonhasse, não perdia o tempo a pintar girassóis amarelos, que murcham com o tempo, pintava cravos.
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quarta-feira, 23 de março de 2011

ELIZABETH TAYLOR HAS LEFT THE BUILDING


Volta não volta, recebo notícias do Público no telemóvel, ontem foi a da morte do Artur Agostinho, hoje foi a da Liz Taylor (17/2/1932-23/3/2011) – espero não ter que pagar o obituário -, a mulher com lábios delineados, sobrancelhas azeviche e com os olhos violeta mais bonitos do mundo.
A geração seguinte já só conhece uma senhora idosa, sempre ornada com enormes jóias, que coleccionou em quantidade e qualidade, pelas suas ocasionais aparições, pelo combate à SIDA (que ganhou visibilidade quando lhe levou um grande amigo, Rock Hudson) ou pela amizade com o Michael Jackson.
Eu lembro mais, uma actriz sensual, uma diva cabeça-de-cartaz de muitos dos melhores filmes das décadas de 50 e 60: começou a filmar aos 10 anos, fez os primeiros filmes da Lassie, Quo Vadis (um pequeno papel de prisioneira cristã na arena), Ivanhoe, A rapariga que tinha tudo, O Gigante (com James Dean), gata em Telhado de Zinco Quente, Quem tem medo de Virgínia Woolf? (pelo qual recebeu um de 3 óscares), Cleópatra (tendo sido a primeira mulher a receber 1M.USD por uma película). E, muito mais tarde, já com passe sénior para a carris, os Flinstones.
Curiosamente, a imagem que tenho dos seus papéis, sempre histérico-descompensados (mas eram todos um tanto teatrais, nesse tempo), é doutra actriz, Vivien Leigh, em E Tudo o Vento Levou.
Fora de cena, ficam na história os seus 8-oito-8 casamentos, 2 deles com Richard Burton, e o quadro de Andy Warhol tipo latas-campbell (não lhe faz justiça!), que foi a leilão no final de 2010: o preço previsto era de 8-10 M.USD, mas subiu até aos 50 milhões.
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AFINAL, O PSD ESTÁ PRONTO PARA IR AO POTE.

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A MINHA VIDA NÃO É ISTO - 2

Há tempos, eu e um colega recordámos um senhor, já reformado, que raramente víramos a trabalhar (aliás, nem sei bem qual era a sua função, apenas que quase fulminava algum utente que precisava da sua atenção).
Entrava todos os dias com o jornal debaixo do braço, sentava-se à secretária e perscrutava o periódico de forma metódica, laboriosa e compassada. Fio a pavio. Com tempo! No final da jorna, voltava a colocar o jornal debaixo do braço e lá ia ele. À sua vida.
Um outro colega entrou no gabinete a meio da conversa e descobriu logo quem era o objecto das memórias, "Estão a falar do sôr engenheiro tantos e tantos? Esse é o das perdizes." E explicou.
O sôr engenheiro, antes de ir de "férias grandes", ainda passara por outro Serviço. Certa vez, um amigo do nosso colega teve a ideia de criar perdizes na sua quinta, e pediu-lhe para saber que papeis eram precisos. Ele foi, e encontrou lá o sôr engenheiro, como sempre pouco ocupado, diplomaticamente incomodado com o distúrbio da sua rotina.
- Ouça lá, quantas perdizes são?
- Acho que são 200.
- Oh, ele deve fazer o projecto é para 500.
- ...
- Sim, dessa forma a exploração pode aumentar e já está autorizada.
- Não sei, aquilo é mais uma brincadeira.
- Olhe que depois dá mais trabalho. Dê-lhe um toque.
O nosso colega assim fez. O amigo disse que a intenção era ter poucas aves, um entretém, mas quem sabe, talvez o filho até pegasse nisso anos mais tarde.
- Pronto, falei com o meu amigo, ele diz que está bem. Então que papeis é preciso entregar?
- Para 500 perdizes, é aqui no gabinete ao lado!!!
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terça-feira, 22 de março de 2011

LIÇÃO Nº 5: COMO SE FAZ UM PARTIDO


De cada vez que Sá carneiro retomou a liderança, saíu o líder que lhe ficara com o seu lugar, e uma talhada do partido.
Primeiro, em Dezembro de 1975, foi Emídio Guerreiro: 4 membros do governo (Sá Borges, Carlos Macedo, Vasco Graça Moura e Artur Santos Silva), 21 dos 81 deputados (Emídio Guerreiro, Mota Pinto, Júlio Castro Caldas), militantes conhecidos como Leonor Beleza... e José Sócrates.
Depois, em Abril de 1978, foi Sousa Franco: 37 dos 73 deputados (António Rebelo de Sousa, Cunha Leal,  Sérvulo Correia, o militante nº 2 Magalhães Mota), Jorge Miranda, Rui Machete, Êrnani Lopes, António Leite de Castro e 65 jotas. A caminho da ASDI.
Foi a dissidência a responsável pela sigla que hoje conhecemos.

A 6 de Maio de 1974, Sá Carneiro ia anunciar na RTP a fundação dum Partido Social Democrata. Mas, na véspera, outro grupo fora a Belém informar Spínola do nascimento do Partido Cristão Social-Democrata. Menos de 1 hora antes do comunicado, ao fim de vários nomes, Balsemão, Magalhães Mota e Marcelo (na redacção do Expresso) e Sá Carneiro (ao telefone do Porto) aceitaram a sugestão do escritor Ruben Andersen Leitão, que entrara no gabinete da redacção. O PCSD desapareceu ao fim de algumas semanas, mas já não havia volta, a sigla PPD era oficial.

Em 1976, a 1ª dissidência criou o Movimento Social Democrata e começou a recolher assinaturas para se transformar em PSD. Por isso, porque em todo o mundo os partidos populares eram de direita, e porque haveria indicações de que o PS iria trocar o social-marxismo pela social-democracia - Sá Carneiro propôs, numa reunião meia-vazia a 2.10.1976, trocar PPD por PSD, ou no mínimo juntar as duas siglas (na altura, António Capucho desenhou o símbolo que conhecemos).
Problema, não estariam presentes 76 membros do Conselho Nacional, limite estatutário. Nada que não se ultrapasse. Porém, contas demasiado complicadas para tão poucos votantes fizeram alguns desconfiar. Um conselheiro do fundo da sala insistiu numa recontagem; no começo a Mesa ignorou-o e simulou dificuldades de audição (Peço desculpa, não ouço o que o senhor está a dizer), mas berros repetidos impediram a manobra de distracção. Depois foi a matemática: votação para saber se o Conselho tinha legitimidade para mudar o nome do partido, 69 votos (abaixo do quórum); contagem de presenças, 77; recontagem de presenças, 76; escrutínio da proposta, 71 votos; recontagem do escrutínio, com aumento milagroso de 5 abstenções, 76 votos. À risca. Entre berros e acusações de fraude, Sá carneiro era finalmente presidente dum partido social democrata.
adaptado de Miguel Pinheiro, Sá Carneiro, pp. 474-477
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segunda-feira, 21 de março de 2011

LIÇÃO Nº 4: COMO SE FAZ UM PARTIDO


Mário Soares convidou aqueles que chamava de "meus amigos do grupo dos nove" para negociarem o nome do candidato presidencial a apresentar pelo Conselho da Revolução. O método sugerido foi aceite: Soares entregava-lhes uma lista de 4 propostas e os militares escolhiam uma - Costa Brás, Firmino Miguel, Pires Veloso ou Ramalho Eanes.
Pouco depois, nove homens juntaram-se para tomar a decisão final. Um deles, Pires Veloso, depois de ouvir que o motivo do encontro daquele grupo restrito era escolher o candidato que inevitavelmente vencaria as eleições presidenciais, perguntara, de forma retórica, "Que democracia é esta?". Eanes teve sete votos e Costa Brás teve 2, de Vasco Lourenço e de Eanes. Estava assim decidido quem seria o 1º presidente da república eleito na nova democracia. As eleições contariam pouco, uma vez que os principais partidos reconheciam que teriam de apoiar a escolha do Conselho da Revolução. Aliás, do Conselho de Revolução, não: os representantes da Força aérea e da Marinha não tinham sido convidados. Nem se deram ao trabalho de arranjar um papel, uma caneta e uma urna - a votação foi feita de braço no ar.

Rui Vilar cruzou-se na rua com Marcelo Rebelo de Sousa e confidenciou-lhe "Olhe que o PS vai apoiar o Eanes amanhã ou depois. Foi a escolha dos militares..." Marcelo avisou rapidamente Sá Carneiro, que informou os dirigentes do PSD e propôs-lhes uma jogada de antecipação. Mesmo não sentindo especial simpatia por Eanes, mais tarde ou mais cedo o partido teria que o apoiar. Portanto, era melhor fazê-lo imediatamente, nesse minuto - e, assim, ser o primeiro a aparecer à frente do vencedor. Ainda de madrugada Sá Carneiro enviou um comunicado à ANOP, que o colocou em todas as redacções do país.
O líder do PS ficou furioso. E Ramalho Eanes também. Temendo uma conspiração, Soares perguntou-lhe directamente se tinha falado com Sá Carneiro. Ele disse que não: o seu "compromisso" era com o grupo dos nove e com os socialistas. Mais: prometeu logo que, caso fosse eleito, o convidaria para primeiro-ministro.
O que cumpriu, nomeando um governo minoritário só com os socialistas.
adaptado de Miguel Pinheiro, Sá Carneiro, pp. 469-473
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LIÇÃO Nº 3: COMO SE FAZ UM PARTIDO


Em 1974, os bancos foram essenciais para o PPD arranjar fundos, especialmente as famílias Mello e Espírito Santo. Mas os dirigentes precisavam de ter cuidado, porque o PCP estava a utilizar os trabalhadores bancários para tentar monitorizar os movimentos. Muitas vezes, esses meios financeiros não apareciam em cheques, mas em malas.
Logo a seguir à revolução, os pequenos empresários também ajudaram. As entregas eram feitas com a máxima discrição - sempre em dinheiro, para não deixar rasto, muitas vezes de madrugada ou no meio de pinhais no Norte do país. Na sede em Lisboa havia um cofre de um metro e meio de altura onde eram guardadas todas as notas que entravam.
Quando a situação se tornava dramática, era preciso sair de Portugal para arranjar financiamento. Jorge Sá Borges chegou a ir ao Brasil pedir dinheiro a um familiar. E Fernando Albuquerque, que emprestou 1000 contos da sua conta pessoal, foi a Paris falar com António Champalimaud. O empresário passou um cheque de 200 contos, mas fez questão de mostrar o seu cepticismo:
- Sabes, não tenho a menor confiança nesse Sá Carneiro nem nesse partido, mas conheço muito bem o teu pai e a tua mãe e gosto muito de ti.
Miguel Pinheiro, Sá Carneiro, pp. 321-323

(Emídeo Gerreiro) perante as ameaças, usava o humor. Quando Cunhal prometeu "partir os dentes à reacção", respondeu: "O problema económico ficaria completamente resolvido. Portugal tem necessidade de importar para alimentação mais de metade das suas necessidades. Com o programa apresentado por Cunhal, as pessoas, sem dentes, já não poderiam comer".
No começo de 1975, o partido recebeu a informação de que a sede do Porto iria ser invadida por militantes comunistas às 11h da noite. Emídeo Guerreiro foi jantar calmamente e, depois, convocou uns "rapazes corajosos" da JSD para o ajudarem a preparar a defesa do edifício. Ao fim de algumas horas, como não aparecia ninguém, pegou no telefone e ligou directamente para a sede do PCP na cidade:
- Então, não vêm? Estamos à vossa espera!
Perante a incredulidade do outro lado, insistiu:
Nós estamos preparados porque nos disseram que vinham cá, vocês e os esquerdistas...
O militante comunistas tentou acalmá-lo:
- Dos esquerdistas não sabemos nada, mas nós não...
Furioso, Guerreiro ainda respondeu, antes de desligar o telefone:
- Ao menos podiam ter avisado.
Miguel Pinheiro, Sá Carneiro, pp. 368-369
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domingo, 20 de março de 2011

A MINHA VIDA NÃO É ISTO


A Inês fez há tempos uma mini-prova de equitação. Não ligou aos repetidos avisos da assistência para por os pés nos estribos, o cavalo virou e ela foi em frente. Caiu. As dores nas costas e no pescoço aumentaram no dia seguinte e, por descargo da consciência, levei-a à clínica.
Fomos atendidos por uma médica entradota, presumo que reformada a fazer um biscate "para ter para os alfinetes", loura platinada e cujo baton já não alinha com os lábios, tipo mariana-do-circo.
A meio da consulta, atendeu a empregada, com quem discutiu uma fuga de óleo do carro e a quem pediu para cozer o frango (sem sal) para o cãozinho. Foi o mote para o monólogo: cão idoso, idas ao veterinário (uns ricos!, não saáa do hospital sem lá deixar mais de 200€, agora arranjei uma clínica ao pé da farmácia não-sei-quantos que me leva 8€). Quando respondi que era veterinário, mas não era rico, aproveitou para perguntar sobre raças de cães para fazer companhia ao seu geriátrico canídeo.
Depois a razão da consulta desviou-a para os equídeos: um colega cirurgião estético ia todas as semanas à Holanda ver os cavalos que lá tem - esses são outros que ganham rios de dinheiro, agora todas querem por botox!
Prescreveu radiografias, a tirar no piso inferior: "eu até sei ver, mas peça ao radiologista para dar uma olhada, eles querem é fazer pouco".
O interessante da história é que a "physica" nunca tocou na paciente.
Minto, tocou para lhe dar um beijo à saída, recomendando mais cuidado no cavalo: "Oh amorzinho, não te esqueças de por os pés nos PEDAIS".