quarta-feira, 23 de março de 2011

A MINHA VIDA NÃO É ISTO - 2

Há tempos, eu e um colega recordámos um senhor, já reformado, que raramente víramos a trabalhar (aliás, nem sei bem qual era a sua função, apenas que quase fulminava algum utente que precisava da sua atenção).
Entrava todos os dias com o jornal debaixo do braço, sentava-se à secretária e perscrutava o periódico de forma metódica, laboriosa e compassada. Fio a pavio. Com tempo! No final da jorna, voltava a colocar o jornal debaixo do braço e lá ia ele. À sua vida.
Um outro colega entrou no gabinete a meio da conversa e descobriu logo quem era o objecto das memórias, "Estão a falar do sôr engenheiro tantos e tantos? Esse é o das perdizes." E explicou.
O sôr engenheiro, antes de ir de "férias grandes", ainda passara por outro Serviço. Certa vez, um amigo do nosso colega teve a ideia de criar perdizes na sua quinta, e pediu-lhe para saber que papeis eram precisos. Ele foi, e encontrou lá o sôr engenheiro, como sempre pouco ocupado, diplomaticamente incomodado com o distúrbio da sua rotina.
- Ouça lá, quantas perdizes são?
- Acho que são 200.
- Oh, ele deve fazer o projecto é para 500.
- ...
- Sim, dessa forma a exploração pode aumentar e já está autorizada.
- Não sei, aquilo é mais uma brincadeira.
- Olhe que depois dá mais trabalho. Dê-lhe um toque.
O nosso colega assim fez. O amigo disse que a intenção era ter poucas aves, um entretém, mas quem sabe, talvez o filho até pegasse nisso anos mais tarde.
- Pronto, falei com o meu amigo, ele diz que está bem. Então que papeis é preciso entregar?
- Para 500 perdizes, é aqui no gabinete ao lado!!!
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