"Para certos republicanos a República tem sido um pé de cabra com que vêem aumentando os seus haveres." Senador João de Freitas, histórico republicano, in Boletim parlamentar do Senado, 11-06-1913
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terça-feira, 22 de março de 2011
LIÇÃO Nº 5: COMO SE FAZ UM PARTIDO
De cada vez que Sá carneiro retomou a liderança, saíu o líder que lhe ficara com o seu lugar, e uma talhada do partido.
Primeiro, em Dezembro de 1975, foi Emídio Guerreiro: 4 membros do governo (Sá Borges, Carlos Macedo, Vasco Graça Moura e Artur Santos Silva), 21 dos 81 deputados (Emídio Guerreiro, Mota Pinto, Júlio Castro Caldas), militantes conhecidos como Leonor Beleza... e José Sócrates.
Depois, em Abril de 1978, foi Sousa Franco: 37 dos 73 deputados (António Rebelo de Sousa, Cunha Leal, Sérvulo Correia, o militante nº 2 Magalhães Mota), Jorge Miranda, Rui Machete, Êrnani Lopes, António Leite de Castro e 65 jotas. A caminho da ASDI.
Foi a dissidência a responsável pela sigla que hoje conhecemos.
A 6 de Maio de 1974, Sá Carneiro ia anunciar na RTP a fundação dum Partido Social Democrata. Mas, na véspera, outro grupo fora a Belém informar Spínola do nascimento do Partido Cristão Social-Democrata. Menos de 1 hora antes do comunicado, ao fim de vários nomes, Balsemão, Magalhães Mota e Marcelo (na redacção do Expresso) e Sá Carneiro (ao telefone do Porto) aceitaram a sugestão do escritor Ruben Andersen Leitão, que entrara no gabinete da redacção. O PCSD desapareceu ao fim de algumas semanas, mas já não havia volta, a sigla PPD era oficial.
Em 1976, a 1ª dissidência criou o Movimento Social Democrata e começou a recolher assinaturas para se transformar em PSD. Por isso, porque em todo o mundo os partidos populares eram de direita, e porque haveria indicações de que o PS iria trocar o social-marxismo pela social-democracia - Sá Carneiro propôs, numa reunião meia-vazia a 2.10.1976, trocar PPD por PSD, ou no mínimo juntar as duas siglas (na altura, António Capucho desenhou o símbolo que conhecemos).
Problema, não estariam presentes 76 membros do Conselho Nacional, limite estatutário. Nada que não se ultrapasse. Porém, contas demasiado complicadas para tão poucos votantes fizeram alguns desconfiar. Um conselheiro do fundo da sala insistiu numa recontagem; no começo a Mesa ignorou-o e simulou dificuldades de audição (Peço desculpa, não ouço o que o senhor está a dizer), mas berros repetidos impediram a manobra de distracção. Depois foi a matemática: votação para saber se o Conselho tinha legitimidade para mudar o nome do partido, 69 votos (abaixo do quórum); contagem de presenças, 77; recontagem de presenças, 76; escrutínio da proposta, 71 votos; recontagem do escrutínio, com aumento milagroso de 5 abstenções, 76 votos. À risca. Entre berros e acusações de fraude, Sá carneiro era finalmente presidente dum partido social democrata.
adaptado de Miguel Pinheiro, Sá Carneiro, pp. 474-477
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