segunda-feira, 21 de março de 2011

LIÇÃO Nº 3: COMO SE FAZ UM PARTIDO


Em 1974, os bancos foram essenciais para o PPD arranjar fundos, especialmente as famílias Mello e Espírito Santo. Mas os dirigentes precisavam de ter cuidado, porque o PCP estava a utilizar os trabalhadores bancários para tentar monitorizar os movimentos. Muitas vezes, esses meios financeiros não apareciam em cheques, mas em malas.
Logo a seguir à revolução, os pequenos empresários também ajudaram. As entregas eram feitas com a máxima discrição - sempre em dinheiro, para não deixar rasto, muitas vezes de madrugada ou no meio de pinhais no Norte do país. Na sede em Lisboa havia um cofre de um metro e meio de altura onde eram guardadas todas as notas que entravam.
Quando a situação se tornava dramática, era preciso sair de Portugal para arranjar financiamento. Jorge Sá Borges chegou a ir ao Brasil pedir dinheiro a um familiar. E Fernando Albuquerque, que emprestou 1000 contos da sua conta pessoal, foi a Paris falar com António Champalimaud. O empresário passou um cheque de 200 contos, mas fez questão de mostrar o seu cepticismo:
- Sabes, não tenho a menor confiança nesse Sá Carneiro nem nesse partido, mas conheço muito bem o teu pai e a tua mãe e gosto muito de ti.
Miguel Pinheiro, Sá Carneiro, pp. 321-323

(Emídeo Gerreiro) perante as ameaças, usava o humor. Quando Cunhal prometeu "partir os dentes à reacção", respondeu: "O problema económico ficaria completamente resolvido. Portugal tem necessidade de importar para alimentação mais de metade das suas necessidades. Com o programa apresentado por Cunhal, as pessoas, sem dentes, já não poderiam comer".
No começo de 1975, o partido recebeu a informação de que a sede do Porto iria ser invadida por militantes comunistas às 11h da noite. Emídeo Guerreiro foi jantar calmamente e, depois, convocou uns "rapazes corajosos" da JSD para o ajudarem a preparar a defesa do edifício. Ao fim de algumas horas, como não aparecia ninguém, pegou no telefone e ligou directamente para a sede do PCP na cidade:
- Então, não vêm? Estamos à vossa espera!
Perante a incredulidade do outro lado, insistiu:
Nós estamos preparados porque nos disseram que vinham cá, vocês e os esquerdistas...
O militante comunistas tentou acalmá-lo:
- Dos esquerdistas não sabemos nada, mas nós não...
Furioso, Guerreiro ainda respondeu, antes de desligar o telefone:
- Ao menos podiam ter avisado.
Miguel Pinheiro, Sá Carneiro, pp. 368-369
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