quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

ANO VELHO, FLASBACK


É difícil fazer escolhas do ano de cabeça: sem jornais por perto, corre-se o risco de eleger como importante o que aconteceu no último trimestre. De qualquer forma, parece que não é um ano que se lembre daqui a 20 anos. Assim de repente:

Imagem do ano: ver acima os corninhos de Manuel Pinho:

Frase do ano: Em Portugal, rouba quem pode; o país não tem dimensão para se roubar tanto (Pedro Ferraz da Costa).
Alternativa, Rangel tem que comer muita papa maizena para chegar aos calcanhares de Basílio Horta (Pinho)

Acontecimento Nacional do ano: as 3 eleições, em que quase tudo ficou na mesma, tirando uma maioria absoluta que engelhou.

Personalidade Nacional do ano: José Sócrates, enredado na luta com os profs e em casos sucessivos - Freeport, TVI, Lopes da Costa, escutas.
Alternativa, Pinho por ter descoberto o fim da crise no olho no furacão.
Menção honrosa para Oliveira Martins do Tribunal de Contas, por vetar em catadupa negócios do Estado, falta saber é para que servem os vetos.

Acontecimento Internacional do ano: as eleições fraudulentas no Irão pré-nuclear, que espoletaram uma revolta popular crescente, por enquanto reprimida à força da bala e do cacete.
Alternativa, Venezuela de Chaves compra computadores a LinoPino.

Personalidade Internacional do ano: com uma volta de avanço, é Obama, o primeiro negro eleito nos EUA – Nobel da Paz mais pela promessa que por acções, foi a Estocolmo justificar a guerra justa. Julgo que foi Erasmo de Roterdão que disse que mais vale uma paz injusta que uma guerra justa, mas enfim.

E vocês, o que escolhiam?

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

ANO NOVO: INFORMAÇÃO QUE NÃO INTERESSA A NINGUÉM


Estamos a acabar o ano de 2009, mas nem todos. Outros há que vão mais ou menos avançados na contagem, ou celebram o novo ano noutra altura:
Calendário Chinês: o calendário é lunar e o ano dura 354 dias (a cada 8 anos acrescentam-se 90 dias) e cada ano começa com uma lua nova, entre 21/1 e 20/2.
Para baralhar, há ainda o ciclo dos 5 elementos (ouro, madeira, água, fogo e terra) que combina com o ciclo binário (anos pares yang, anos ímpares Yin), perfazendo 10 anos, e com o ciclo animal de 12 anos, num total de 60 anos (o actual começou em 1984 com Rato de Madeira e acabará no ano Porco da Água).
Calendário Maia (ainda utilizado em algumas regiões): usa ciclos de 260 dias (tzolkin, que inclui 20 trezenas de 13 dias) e anos de 365 dias (haab, que inclui 18 vintenas de 20 dias e mais 5 dias sem nome, agoirentos, quando as pessoas não saíam de casa, nem lavavam ou penteavam o cabelo). Cada dia dos 2 calendários tem um nome e a cada 52 haab correspondiam a 73 tzolkin, perfazendo uma roda calendárica ou século – o people nunca sabia se o mundo acabava no final de cada roda ou se começava outra. ´
Mas os gajos ainda tinham a “contagem longa” a partir dum dia mítico, no ano 3114 a.c., e a contagem lunar. Uma confusão.
Ah, o calendário maia acaba a 21/12/2012, considerado o fim dos tempos: alguns cientistas apocalípticos prevêem nesse dia um alinhamento da terra com o sol e o centro da via láctea, onde há um buraco negro supermassivo, blábláblá...
Calendário Judeu: o ano dura geralmente 354 dias e acerta através de 7 anos bissextos com um mês extra, a cada 19 anos (há anos defeituosos de 353 dias, regulares de 354 dias e abundantes de 383 dias).
O calendário começou com “a criação do mundo” a 7/10/3760 a.c. Vão no ano de 5769 e estamos no mês de Tevet (os 12 ou 13 meses estão desencontrados com os nossos).
Calendário Juliano: até 46a.c., o ano tinha 10 meses e começava em Março (daí Setembro ser o sétimo mês, e por aí fora). Júlio César introduziu nesse ano 2 meses, Novembro e Dezembro, empurrando Janeiro (dedicado a Jano, Deus das portas, passagens, inícios e fins) e Fevereiro para o ano seguinte (45 a.c. ou 708 da era romana).
Augusto (em 8 d.c., embora ele não soubesse) impôs um ano bissexto a cada 4 anos, aproximando o calendário das estações do ano – é o calendário actual.
Calendário Gregoriano: em 1582, o Papa Gregório afinou o calendário Juliano, fez sumir 10 dias e fixou o início do ano a 1 de Janeiro. As novas regras foram adoptadas primeiro pelos obedientes países católicos e só mais tarde pelos outros (Alemanha em 1700, Inglaterra em 1751 pela Inglaterra, China em 1912, Rússia em 1918, Grécia em 1913).
Uma explicação do dia das mentiras: o rei de França declarou em 1584 o 1/1 como o início do ano, mas alguns franceses ainda comemoravam a data antiga: o ano acabava a 25 de Março, quando chegava a primavera, e as festas demoravam até 1 de Abril – os brincalhões convidavam os resistentes à mudança para festas nesse dia, festas que não existiam.
Calendário muçulmano: começa com a hégira, a fuga de Maomé de Meca para Medina, a 6/7/622 d.c.. Como o ano tem menos 11 dias que o nosso, hão-de nos apanhar. Cada ano começa a 1 de Muharram, e o nosso próximo 1 de Janeiro será 15 de Muharram de 1431 para os islâmicos.
Eu cá acho o nosso calendário mai’ simples. E toda a gente o conhece.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O FUTURO É DAQUI A NADA


A avó da minha mulher identificava cada cataclismo, assalto violento, crime sexual e “avanço civilizacional” como sinais do fim do mundo.
Este planeta não é eterno, mas espero que o ocaso ainda demore. É que já me habituei à ideia de que vou morrer novo, aos 109 anos, ainda com 2 ou 3 órgãos originais e acabamentos de titânio, depois de nadar 3 km e a dormitar numa praia em Porto Santo – exílio da resistência* ao faxismo (regime onde a licenciatura é tirada por fax) instaurado pelo velho ditador beirão José Sócrates, nessa altura hospitalizado após queda duma segway.
E claro, morro depois de deixar parte dos meus milhões à Casa do Funcionário Público (imaginam, haverá reformas, de sobrevivência, entre os 85 e os 95 anos).

Não pirei, é mesmo aí que quero chegar: tirando a parte de eu fazer desporto, TUDO É POSSÍVEL, a ciência ultrapassa a imaginação (de gente pouco criativa, como eu, pelo menos).
Vejamos alguns avanços no entretenimento, ambiente e medicina, em 2009 (cortesia da Visão, 26/11/09):
1. A nova consola Microsoft não tem comando e interpreta os movimentos e voz, através de câmaras e microfone (a personagem copia-nos).
2. A lâmpada LED Philips de 10W, equivalente à lâmpada comum de 60W e com duração de 25.000 horas, permite poupar biliões de euros anualmente.
3. As telhas solares da Dow Chemical são 10-15% mais baratas que os painéis e são fáceis de aplicar (faça você mesmo).
4. A digitação de mensagens apenas com o pensamento (vá, com ajuda dum capacete que detecta alterações da actividade cerebral, quando o cientista da U. Wisconsin se concentra num letra a piscar no ecran) perspectiva a comunicação para pessoas com paralisia quase total.
5. Um processador do MIT, implantado no globo ocular de cegos, recebe imagens de óculos com uma câmara e transmite ao cérebro, permitindo a recuperação parcial da visão.
6. A prótese de joelho Jaipur Foot, feita em nylon com óleo e autolubrificado, flexível e estável, custa apenas 15€, em vez dos 7000€ da prótese de titânio. Vêm a vantagem?
7. O ecógrafo portátil da GE tem o tamanho dum telemóvel, é eficaz como um aparelho hospitalar, mas leva-se até às aldeias mais remotas.
8. A máquina digital Fujifilm a 3D, com duas lentes separadas por distância parecida à dos olhos, cria a ilusão de profundidade.
9. Foi conseguido o teletransporte de dados entre dois átomos a um metro de distância (um átomo transforma outro, que actua como o original), importante na criação de computadores ultra-rápidos. Não é o mesmo que o teletransporte do Spock na nave entreprise, mas p’ra lá caminha.

Em 2010 haverá outras novidades fantásticas, imaginem em 2020. E falta pouco: como disse o nosso AMI Fernando Nobre, “quem tem filhos a chegar aos 30, sabe que 10 anos é um instante”.

* chefiada pelo guerrilheiro, grande democrata e já formolizado Alberto Jonas, o Savimbi da floresta Laurissilva.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

UM SANTO NATAL

Acabou o martírio. Feitas as compras e as sobremesas (coube-me fazer o pudim francês e ficar na looonga fila do bolo-rei sem frutas, que me faz sempre prometer que é a última vez), falta só mesmo o Natal com os "meus" durante as próximas 33 horas (somos 13, como na última ceia, mas em 2 mesas para não dar azar). Venha a bonança, e prendas, que me portei bem este ano.
Depois é ver se chego mais cedo que os outros ao papelão e, amanhã, pensar onde arranjo espaço para os brinquedos.
Uma prenda já temos: passou hoje a proposta de Obama sobre um sistema de saúde para os 30 milhões de americanos sem seguro. Não é a que ele queria e está muito longe do sistema de saúde europeu, mas já pode ir embora, que fica na história.

Deixo-vos um vídeo com 9 Davids Fonsecas e uma música pirosa, mas que lhe(s) deu um trabalhão.

Postal de Natal 2009 - Merry Christmas! - Videos David Fonseca

À Joana, à Fátima, à Margarida, ao Carlos, ao Luís, ao Nuno, ao João, ao Pedro, ao Paulo e a todos os que passaram por aqui, o meu brinde com vinho do Porto. Feliz Ceia e uma saraivada de prendas.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

NATAL DO PASSADO (M/30)

Estou agora a ler Oliver Twist. Bate certo com as séries da BBC que passaram há uns 25 anos na RTP, sobre a obra de Charles Dickens: há sempre crianças maltratadas e para lá de pobres, órfãos, adultos maus e exploradores com roupa andrajosa e cartolas sujas, trabalho insalubre, vielas escuras e húmidas, uma Londres imunda e fétida*. Não me lembro se já eram a cores, mas as imagens que retenho são em tons de cinzento e castanho.

Dickens criou outro livro adequado a esta época: escrito em menos dum mês, para pagar dívidas, o Cântico de Natal tem como protagonista Ebenezer Scrooge, um homem avarento (inspiração do Tio Patinhas) que odeia o Natal e é visitado por 3 espíritos, representando os natais passados, presentes e futuros. O 1º mostra o Scrooge miúdo que gostava do Natal, o 2º mostra o Natal pobre mas feliz do empregado de Scrooge, o 3º mostra a sua morte solitária.
Aqui vai um bocadinho de Natal do Passado (no final dos vídeos, há mais arqueologia gira, e os gatos a imitarem o "veio o cãozinho...").
Um bom Natal.





* A temática das suas obras tem um quê de auto-biográfico: Dickens teve uma infância mais que remediada, mas a família endividou-se, mudou-se para um bairro popular e, aos 12 anos, Charles colava rótulos em frascos de graxa, para sustentar a família que vivia na prisão de devedores (e onde ia dormir); a mãe não o retirou logo da fábrica, quando recebeu uma herança, o que enfureceu o petiz.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

É MENTIRA


Jesus não nasceu a 25/12 do ano 1. Nasceu no reinado de Herodes magno (que morreu em Abril de 4 a.c.), durante o recenseamento do governador da Síria Quirino (em 7-6 a.c.) ou do legado imperial na Palestina Sentius Saturninus (8-6 a.c). De acordo com outros dados, o nosso menino pode ter nascido entre 13 e 3 a.c. Que feio, a roubar na idade…
Quanto ao dia do ano, apenas se sabe quando não foi: haveria pastores nas redondezas e a pastorícia decorria entre Março e Novembro, i.e., o miúdo não nasceu em Dezembro.
A estrela de Belém pode ser a estrela de Kepler, conjunção astral que ocorre a cada 794 anos e apareceu 3 vezes a 7 a.c. (29/5, 1/10 e 5/12), ou o cometa que passou entre 13 e 27 de Abril de 5 a.c.
Nos primórdios, o Natal celebrou-se em Maio (20), Abril (19 ou 20) e Janeiro. Até que, em 354 d.c., os cristãos parasitaram uma festa pagã romana dedicada ao regresso do sol (dies natalis solis invicti, depois do solstício de Inverno, quando os dias voltam a crescer), para a celebração não dar nas vistas ou para ocupar uma data já conhecida.

E os magos (não reis, mas homens sábios ou astrónomos), entre 2 e 12, conheceram Jesus já a caminho dos 2 anos, depois da sua apresentação no templo. Lá se vai o dia de reis, quando os espanhóis distribuem as prendas.
Os nomes dos ditos só apareceram uns 700 anos depois da babyparty, mas já com pormenor: diz S. Beda que Melchior tinha 70 anos e vinha do Iraque (ofereceu ouro, símbolo da realeza), Gaspar tinha 20 anos, era robusto e vinha do Mar Cáspio (incenso, fé ou divindade) e Baltazar era mouro do Golfo Pérsico, tinha 40 anos e barba cerrada (mirra, resina antiséptica usada no embalsamento, morte ou humanidade). Quem conta um conto, aumenta um ponto, parece.

É compreensível a confusão*, os 4 evangelhos canónicos não batem totalmente certo entre si: o evangelho mais antigo data de 70 d.c. e o (talvez) autor Marcos apenas escreveu o que ouviu de Pedro, como bem mais tarde Lucas fez com Paulo, i.e., diz que disse; Mateus e João eram apóstolos, mas os seus livros datam de 80 e 100 d.c. (décadas depois da morte de Jesus), a memória do velho cobrador de impostos e do pescador já não ‘tavam frescas, pela certa. E há mais centenas de evangelhos apócrifos (censurados pela igreja primitiva, como os de Filipe, Tomé, Pedro, Judas e Maria Madalena) que ajudam à cacofonia.
Vai-se a ver e a única verdade é que o pai Natal existe.

* Há versões para todos os gostos, até para cépticos. O livro judeu Talmud refere Jesus como ben Pantera, ou filho de Pantera, e Celso escreveu em Contra os Cristãos: "Começaste por fabricar uma filiação fabulosa, pretendendo que devias o teu nascimento a uma virgem. Na realidade, és originário de um lugarejo da Judeia, filho de uma pobre campónia que vivia do seu trabalho. Esta, culpada de adultério com um soldado, Pantero, foi expulsa por seu marido, carpinteiro de profissão. Expulsa assim e errando aqui e além ignominiosamente, ela deu-te à luz em segredo. Mais tarde, constrangida pela miséria a expatriar-se, foste para o Egipto; aí aprendeste alguns desses poderes mágicos de que os Egípcios se gabam, voltaste ao teu país e, inchado com os efeitos maravilhosos que sabias provocar, proclamaste-te Deus."
Um caluniador, este Celso. Não entra no céu nem com uma máquina Nespresso.

domingo, 20 de dezembro de 2009

BALANCETE




Speaker's Corner, Hyde Park

Chegados às 5000 visitas e 450 posts, desde 21 de Julho, é TEMPO DE BALANÇO e de uma palavrinha aos accionistas e clientela.

O elenco escolhido é variado, com gente ligada ao teatro, arte, imprensa, design, gestão de empresas, agro-pecuária, computação (?) e saúde.
Um raide pelos posts confirma que houve (muita) política, Cartaxo, (muitíííssima) música, poesia e livros, pintura e fotografia, drogas e gripe, casamento e divórcio, natalidade e natal, trabalho e religião, curtas-metragens e bd, tropa e vinho, difamação e mortalidade, natureza humana e Nobel, turismo e ambiente, casamento homosexual e igualdade de género, tourada e corrupção, história e filosofia, publicidade e net, economia e banca, meteorologia e agricultura, TGV e TV.
Houve várias coisas giras, acho. E discórdia, discussões mais acesas, clientes mal servidos que escreveram no livro de reclamações e ofensas anónimas na porta da WC.

Conseguiu-se uma TERTÚLIA com um pequeno núcleo duro de 30 pessoas (como o Quo Vadis primitivo, lembram-se?), à custa da colocação diária de novos posts.
Ainda assim, as 5000 próximas visitas merecem uma variedade maior e mais equilibrada de temas, que haja sobretudo mais palavra e que todos (os 10) se cheguem mais perto do balcão (eu, o Luís e o Carlos arranjamos espaço) e sejam um niquinho mais assíduos.
Senhores accionistas, a falta de tempo ou de assunto não é desculpa: há sempre 10 minutos nas 168 horas da semana, para falar sobre qualquer coisa ou sobre coisa nenhuma (a minha especialidade). Todos vocês têm algo interessante a contar, nem que seja sobre a última viagem a Cabo Verde, a sogra (dum amigo, claro), o actual projecto de trabalho, argila e grés, a assembleia municipal, medicamentos revolucionários, os reis magos. Ou sobre o Sócrates, tema mais prolífero que o Santana, quem diria.

Quanto ao número de comentários, em particular dos não-residentes, é quase nulo: Visitas da tertúlia, há que consumir e fazer despesa, i.e., participar comentando.
Será insuficiência nossa (mea culpa) não provocar-vos a vontade em deixar umas palavras, mas a vossa prestação (também) melhora o ambiente da casa. Isto é como no SPEAKER'S CORNER, todo o pregador precisa de assembleia, nem que seja para dizer apenas “apoiado” ou “xúú, vai-te embora”. Disparatem, faz favor.
Haja diálogo. Multiálogo, se a palavra existir.

sábado, 19 de dezembro de 2009

PORTUGAL AMARROTADO


Com o país distraído com listas de natal e copenhaga, foi provada a intervenção de Lopes da Mota no processo Freeport: no mesmo dia em que teve uma reunião com o ministro da justiça Alberto Costa, Lopes de Mota contactou os 2 magistrados responsáveis pela investigação, invocando os nomes do ministro e de Sócrates, e instigando-os a arquivarem o processo, ou sofreriam represálias (nomeadamente, indemnizações caso o PS perdesse as eleições).
Costa diz-se ofendido pelas notícias do seu alegado envolvimento…
Não sendo anjinho, sei que neste país as coisas andam e param com sugestões, cunhas e pressões. Mas aqui está envolvido outro poder, e a justiça deve ser cega e independente. Não é isto funcionamento (ir)regular das instituições, quando o governo quer interferir no poder judicial?
Lopes da Costa foi suspenso por 30 dias. Bastava 1 dia, para haver alguma justiça (falta o resto, quem encomendou o serviço?). Mas a pena, para ser “adequada, proporcional e dissuasora”, devia ser muito maior - querem interferência maior no Estado de Direito?

E os intervenientes têm curricula: são a turma que condiciona a sobrevivência do jornal Sol (via BCP) se não omitir o Freeport, e que recebe sucateiros apenas para indicar o nº de porta da EDP.
Alberto Costa foi demitido* em 1988 de secretário de justiça de Macau, por ter sido provada em inquérito disciplinar uma conduta imprópria porque em 2 ocasiões “interveio” junto do juiz José Manuel Celeiro, para que libertasse o presidente da TDM e arquivasse o processo que envolvia a televisão de Macau e a empresa “socialista” Emáudio (Costa tinha como chefe de gabinete António Lamego, que participou nas conversas e também foi exonerado). A justificação do Costa é que deu só “uma opinião jurídica”.
É o mesmo argumento de Lopes da Costa, o mesmo que foi identificado (mas não comprovado) como a fonte que alertou Fátima Felgueiras, antes da mesma fugir para a “sua” terra.
Os dois reincidentes. Nas suspeitas, porque não há provas e, se houver, estão naquele papel térmico das portagens, a tinta desaparece com o tempo.

* O Governador Melancia revogou o despacho de demissão que fundamentava a mesma - considerando que o mesmo “menciona desnecessariamente vários factos” não justificativos de procedimento disciplinar -, mas manteve a exoneração “por simples conveniência de serviço”.
Costa recorreu, a exoneração foi anulada e ainda foi indemnizado, por vício de forma, i.e., demissão não fundamentada.
Recordo, Macau era na altura o refúgio dos socialistas (como Jorge Coelho ou Maria Belém, esta na TDM), durante o longo Inverno cavaquista.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

CULTURA POPULAR


O Galo de Barcelos é o nosso avançado centro, um pilar da nação. Um pilar kitsch, mas pilar. Kitsch, enquanto “arte autêntica e verdadeira, que favorece o elemento decorativo e multi-color, a não-funcionalidade e a trivialidade, apelando ao sentimentalismo”, não como símbolo excessivo e de gosto duvidoso (para quem?) da pretensão de classes emergentes pouco aculturadas, pois não há nada de pretensioso num galo de Barcelos. Eu cá tenho um dentro do armário.

Todos conhecem o bípede, mas e a razão da sua existência?
A lenda do Galo de Barcelos narra a intervenção milagrosa dum galo morto na prova da inocência de um homem.
Reza assim : os habitantes de Barcelos estavam assustados com um crime. Um dia, prenderam um suspeito galego, a caminho de Compostela, que clamava inocência. Condenado à forca, o homem pediu que o levassem à presença do juiz, sendo levado a casa do magistrado, que nesse momento se banqueteava com alguns amigos. O galego voltou a afirmar a sua inocência e, perante a incredulidade dos presentes, apontou para um galo assado que estava sobre a mesa e exclamou: "É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem." O juiz não revogou a sentença, mas não tocou no galo e, quando o peregrino estava a ser enforcado, o dito galo assado ergueu-se na mesa e cantou. Compreendendo o seu erro, o juiz correu para a forca e descobriu que o galego se salvara graças a um nó mal feito.
Há variações que metem um(a) estalajadeiro(a) a denunciar o galego para ficar-lhe com a rica trouxa, uma peça de prata dum rico proprietário, o cesto com o galo cozinhado na sala do tribunal, dois galegos e a frase atribuída ao Juiz “para declarar o seu filho inocente era preciso que este galo se levantasse e cantasse 3 vezes”, Santiago salvando o condenado.

Tudo por causa dum cruzeiro seiscentista com um galo (associado à negação de S. Pedro) e um condenado suspenso da forca por Santiago. Inventam cada coisa…

CULTURA DE ALMANAQUE


Há uns bons anos, fui convidado para substituir um Professor em licença sabática, na cadeira de Agricultura Geral. Agradeci o convite, dizendo que não percebia patavina sobre o assunto. Aprendes, foi a resposta do Sr. Professor. “Para dizer só o que está escrito nos livros, não é preciso um professor, basta ler; critiquei os meus professores que não sabiam mais nada, não faria o mesmo”, disse. Ia lá passar vergonhas com alunos que sabiam certamente mais sobre fresas que eu.
Se não me engano, tirei a minha nota mais baixa em agricultura, sou nisso um zero à esquerda*, e pareço um queijo suíço para reter a informação. Porque faço visitas a explorações pecuárias, para fazer conversa, bem dava jeito conhecer os "artefactos" e saber ao menos as alturas de sementeira, monda ou colheita do milho, da aveia, do feijão, da batata. Olhem, sei da cereja, que se apanha lá para Maio.
Está confessada a ignorância. Procura-se almanaque.

Tenho um grande respeito pelos agricultores que visito, para os quais essa informação não é uma incógnita, faz parte do ADN.
Respeito pelo que fazem de sol-a-sol, ao estio e à geada, e pela falta de retorno, pois o minifúndio está ligado à máquina, definhando lentamente: não dá rendimento (as rações multiplicaram o preço, mas os animais vendem-se a preços de há 8-10 anos – como o custo subiu no talho, ‘tá-se a ver quem aumenta o lucro, o intermediário pois então) e têm uma vida realmente LI-XA-DA, que se vê na pele curtida, nas costas curvadas, nas mãos calejadas e artríticas.
Os filhos não querem saber dessa vida (quem os critica?), os pais mantêm os campos por uns parcos subsídios e porque é o que fizeram toda a vida. A pequena lavoura vai morrer com esta geração de heróis, é uma questão de tempo. E o problema é de todos, por 2 ou 3 motivos: soberania alimentar e défice externo, ordenamento do território, permeabilidade dos solos e prevenção de incêndios. Chega-vos?
Nós, “urbanos terciários”, criticamos os agricultores porque pedem dinheiro pela seca e pela cheia, pelo calor e pelo frio, mas a verdade é que o trabalho não depende só deles: 2 dias de granizo podem destruir meses de trabalho.

* Sobrevive-me uma planta em casa, resistente a ataques nucleares. Ainda me ofereceram-me certa vez uma “Alegria do Lar”, mas – ironia – morreu por falta de empenho e competência.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

FRASES ASSASSINAS


“A única garantia dos cidadãos contra o arbítrio é a publicidade”
Benjamim Constant

"Nós enforcamos os ladrõezinhos e indicamos os grandes ladrões para os cargos públicos"
Esopo

“O PS divide-se em 2 grupos: os incapazes e os capazes de tudo”
Anónimo

“Eu próprio, às vezes, me questiono se votaria num cidadão condenado nas minhas circunstâncias” Isaltino Morais
“Se Isaltino consegue fazer esta obra e ainda leva dinheiro para casa, é um homem notável” Otelo

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

FOI ASSIM, FOI


Somos uma geração privilegiada. Durante séculos, as pessoas viveram como os seus tetravós, mas o mundo acelerou e nós vimos mudar muita coisa.

Eu ainda sou do tempo do autocarro verde de 2 andares e de haver um só canal a preto e branco (lembro-me de ficar frente a um ecrãn com grão, à espera da abertura da emissão) – o "Marco" que nunca encontrava a mãe por uma nesguinha (foste embora mamã, não me deixes aqui!) era considerado violento, havia 1 só novela, às 3ª havia entrevista, às 4ª havia filmes, e eu via mais televisão.
Víamos mais televisão, mas - PERIGO!!! - passávamos a vida na rua, até ficar escuro, onde partíamos a cabeça a correr em tábuas com rolamentos "home made" ou saltávamos à fogueira - sem que os nossos pais fossem apelidados de incompetentes.
Sou do tempo de vintages como os LP a 45 e 71 rotações, do zx spectrum que se usava com uma cassete barulhenta (quantas vezes falhava a entrar...), das bonecas espanholas de perna aberta colocada na cama. E o menino da lágrima era um must, a fazer pendant com o vidro às cores que se punha frente ao televisor, para colorir a imagem.
Havia uma só auto-estrada no país, entre Lisboa e Porto, mas não chegava lá. Faltavam anos para a via verde, claro.
Não havia Multibanco e tínhamos que trocar dinheiro no banco para ir a Badajoz, e voltar ao banco para converter a sobra de pesetas – com comissões.
Os trabalhos da escola obrigavam a ir à biblioteca ou, luxo, recorrer à enciclopédia luso-brasileira do pai. Agora está à distância dum clique, tudo o que se quiser saber, haja sorte e capacidade de seleccionar as fontes.
Tiravam-se cursos para saber usar uma máquina de escrever, a duas cores, com papel químico para fazer cópias, sem corrector de erros, e rezávamos para não nos enganarmos em nenhuma letra.
Não havia multiplexes, as salas de cinema eram grandes e as pessoas envolviam-se na história: no Cinema do Cartaxo, quando o Rambo IV deu cabo do russo, houve uma salva de palmas.
Se recuar mais, as fraldas eram de pano, a maioria das fotos era a preto-e-branco (mães mais jeitosas pintavam-as), fotografias rápidas eram polaróides, desfocadas e irreproduzíveis.
A anos-luz da rotundomania, havia poucos carros no Cartaxo e mulheres ao volante eram uma raridade.
Antes da febre dos relógios digitais, os relógios eram umas cebolas que mudavam a cor com a direcção da luz.
E um maço de Kentucky custava 4 escudos.

Agora há de tudo um pouco. É difícil de explicar aos miúdos que houve um mundo em que os produtos eram chamados pelo nome duma marca, porque era a única: ajax para os vidros, vim para o chão, forza para o forno, pirata ou gorila para as pastilhas, viarco para lápis (com tabuada impressa), gillette para as lâminas da barba, yoplait ou vigor para iogurtes (tam'ém se faziam em casa), laranjina para laranjada, Majora para jogos, nívea para o protector solar ou bronzeador (ninguém falava em cancro da pele), o boca-doce para os pudins, savora para mostarda. Vick era sinónimo de descongestionante nasal, esfregado no peito, e comia-se pão com chocolate, o Comacompão ou coisa assim.
E, finalmente, a minha preferida, batata frita era pala-pala.
 



domingo, 13 de dezembro de 2009

Jantar de Natal obrigatório


Estamos na altura dos jantares de Natal dos empregos, onde convém comparecer. Uma amiga foi ao jantar da Câmara onde trabalha, porque “levam a mal” se faltasse.
No meu caso, foi almoço. Vários colegas explicaram a sua presença porque querem subir as suas más notas (necessárias à progressão na carreira), ou para "não sofrerem retaliações". Ao que chegámos...
Eu recuso-me a ir, como a maioria. Confraternização vem de fraterno, que pressupõe irmandade, afecto e união: 364 dias de chicote e 1 de cenoura é piada de mau gosto.
Pelo menos, este ano não insistiram para cada pessoa ir (no ano passado, um desculpou-se com a vinda dum amigo da Venezuela, disseram para levá-lo...), pois não havia “artista convidado” da direcção central e não era necessário mostrar a casa composta, em sinal de união.
Salvaguardadas as devidas diferenças, é como o marido que não estima a mulher, mas comemora o aniversário de casamento e ainda convida o chefe da repartição.

Como a mim calha aos pares, também falto a outro almoço de natal para o qual sou convidado. Há 9 anos, o administrador duma empresa (com a intervenção do comendador – há sempre um comendador envolvido – da Agros) conseguiu, por meios pouco simpáticos, que fosse “removido” do local de trabalho, pelo meu zeloso cumprimento da lei. Esse “saneamento” acabou por ser muito frutuoso, devia estar agradecido.
Mas a vida dá mesmo muitas voltas e deu-se o caso de sermos agora considerados inimigos pela mesma pessoa – o que, na sua mente, nos torna aliados e mesmo amigos (sic). Vai daí, tenho anualmente mais um convite a recusar.

VOSSA MERCÊ


Eu cá não ligo nada aos prefixos, embora reconheça que o dôtor (parece que agora toda a gente é) mantém distâncias necessárias a funções de autoridade. Podem tratar-me pelo nome (tenho 7 à escolha), basta que não me chamem palavrões ou ofendam a minha mãezinha – o que deve suceder muito, já que sou uma espécie de fiscal, e não sou conhecido como “um dos porreiros”.

Ainda me lembro de escrever nos envelopes “Ex.ma Sra. D. …”. Pensava que o uso de Dona estava ultrapassado (tirando a nobreza), pertencia ao tempo das criadas e das proprietárias. Como é muito comprido chamar Senhora Dona qualquer-coisa, e como as pessoas já não são donas de nada, optava por Senhora, o que julgava não ser ofensa – à conta dessa minha proletarização, levei um puxão de orelhas da minha mãe… e não só.
Pois na minha Direcção existe uma Dona Isabel, muito sensível ao assunto. Acontece que, vim a descobrir, ganhei uma inimiga porque a tratei por Senhora, e não por DONA. Uma catástrofe!

A mudança de Director revelou o carácter das pessoas e a fraqueza humana (para boiar, é necessário empurrar o ombro vizinho para baixo?), promoveu a delação, afastou amigos, aproximou desavindos e provocou alianças inesperadas.
Soube por terceiros que a Dona-Isabel se chateara comigo, da mesma forma que soube por terceiros que passara a ser muuuito minha amiga, desde que foi proscrita. Repito, as voltas que a vida dá.*
O mai’ curioso é que a nossa Paula Bobone da etiqueta à moda antiga, no conforto da sua quase reforma, mandou directamente o Sr. Director “à p. que o pariu”.

* Eis a ligação com o post anterior. Já perceberam, eu sou como os velhotes que começam a falar numa coisa, divagam, e acabam a falar noutra. Tenham paciência.

sábado, 12 de dezembro de 2009

CONTRA-REVOLUÇÃO



A frequente “troca de cromos” musicais deste blogue põe-me um bocadinho de lado, pois não sou entendido no assunto, nem sequer conheço parte das bandas. Infelizmente, na minha casa ouve-se mais música infantil.
Vou participar na brincadeira (“deixem-me brincar”, diz o miúdo posto de parte), de forma pontualíssima, e em CONTRA-MÃO.
Na minha humilde opinião, o que vos trago não tem comparação com a (melhor) música contemporânea - quantas delas sobreviverão 200 anos?

Os japoneses adoravam a Amália, mesmo sem perceberem português, pois havia a voz e a emoção. O mesmo se passa com a Ave Maria de Schubert, no alemão original ou em Latim: aperta cá dentro, percebamos ou não.
Há interpretações muito melhores, mas deixo-vos uma mais profissional e outra atraente pela frescura, insegurança e ar angelical da estudante.
Escolham uma e fechem os olhos, ou minimizem e continuem a trabalhar.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

BATATINHA CHAMA PALHAÇO A COLEGA

Zangam-se as comadres, sabem-se as verdades!
Inimputáveis

AH AH AH AH AH AH AH

Presidente há 30 anos, José Eduardo dos Santos pretende adiar as eleições (as últimas foram em 2002) por mais 3 anos, para alinhar com legislativas e, assim, “poupar tempo e dinheiro”.
O pai da dona de metade de Angola e de uma talhada da Galp foi agora reeleito com 98.7% dos votos no congresso do MPLA, onde:

- apelou aos políticos para se guiarem “por comportamentos e procedimentos éticos” e falou no dever de "não pactuar com a corrupção ou com a apropriação indevida de meios do erário público”.

- declarou “uma espécie de tolerância zero face à corrupção” e notou no MPLA “timidez” na fiscalização do governo – “esta circunstância foi aproveitada por pessoas irresponsáveis e por gente de má fé, que esbanja recursos e pratica actos de má gestão ilícitos e mesmo danosos e fraudulentos”, avaliando que os recursos petrolíferos estão a ser esbanjados em fraudes e desperdícios dos fundos públicos.

- ao fim de 3 décadas no poder, afirmou ser hora de governar para os 60% de angolanos que são muito pobres.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

QUEM MAIS TEM, MAIS QUER...


Os meus filhos foram dormir a casa de 2 amigos da escola, que vivem numa vivenda. Quando os fui buscar, a Inês veio a queixar-se que gostava de viver na casa do Tiago, e perguntou, com ar acusatório, porque é que vivíamos num apartamento: “Não tens dinheiro? Não tens 2 mil euros?” (a sua noção de capital tem dioptrias, o avô deu-lhe 25€, o que achava suficiente para uma casa e um carro).
Tentei explicar-lhe que os pais dos amigos tinham salários melhores (“mas a mãe do Tiago é professora!”) e que, em todo o mundo, a maioria das pessoas vive em casas piores, ou não tem sequer casa, ou água potável, ou luz, ou aquecimento.
Não a convenci, continuou amuada, como se fôssemos culpados do seu "azar".

Acabei de ver o final duma reportagem da Cândida Pinto sobre SIDA em Moçambique - primeiro, uma mulher HIV+ desempregada a viver com 3 filhos e 6 netos, que comiam 5 pães no mata-bicho; depois, 4 irmãos orfãos, que sobreviviam a plantar mandioca, milho e feijão, e vendiam cocos no mercado. O sonho deles era ter uma bola para jogar futebol.
Ao mais velho (13, 15 anos?), a jornalista perguntou "o que é que vos faz mais falta?". Resposta “Só… nada, nada, nada. Tá tudo bom”. E um sorriso envergonhado.
‘Tava a almoçar e fiquei engasgado.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

MÃE, OBRIGADO PELO FERIADO


Ontem, comentei com um colega mais velho que era uma maravilha aparecer um feriadito de vez em quando, mesmo sem saber a razão da data. “É dedicado a N. Sra. da Conceição e, no meu tempo, era este o dia da mãe”, foi a resposta-esclarecimento.
A melhor imagem que me ocorre para ilustrar o dia da mãe é a Pietá de Michelangelo, encomendada pelo Cardeal Lagraulas em 1498, no melhor mármore de Carrara, e pronta no ano seguinte.
Tive a graça de ver a estátua ao vivo - tira o fôlego pelo detalhe dos corpos e dos tecidos, o semblante puro e resignado de Maria, a perfeição da forma como a mãe abraça totalmente o seu filho adulto (mediante desproporções). M. justificou o rosto jovem de Maria com “as pessoas apaixonadas por Deus não envelhecem”.
A hiperpolida escultura foi atacada a martelo por um louco em 1972, sendo desfigurada no olho e nariz. Desde então, está protegida por um vidro.
Querem acreditar que o estafermo do Buonarroti conseguiu uma das maiores obras-primas da história (e várias são dele, como a capela sistina) com 23, repito, 23 anos?

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

JÁ VEM DE LONGE...


Disse o Tribunal de Contas: na década passada, a Parque Expo adjudicou 32M€ de obras ao sucateiro dos robalos, a maioria por ajuste directo.
No caso mais risível (1997), houve um concurso limitado para a construção dos parques de estacionamento – ganhou a empresa de Godinho, que 1) não constava na lista de empresas inicialmente convidadas, 2) nem tinha sequer alvará para essa actividade, 3) não evidenciava qualquer experiência no ramo e 4) cuja proposta revelava sérias lacunas técnicas (sic).
Dois meses após o início da obra, a empresa demonstrou incapacidade em prosseguir com a obra, o contrato foi renegociado e a empreitada reduzida em 2 terços; a obra foi entregue 3 meses depois do contratado, sem accionamento de penalizações.
O cheque final subiu dos 9M€ (proposta que fez vencer o concurso) para 10.6M€, apesar dos trabalhos terem sido bastante reduzidos e o prazo não ter sido cumprido.

Depois pedem sacrifícios à maralha!!!
Podia dizer que isto enerva a minha costela de esquerda (uma das flutuantes, que são as mais 'queninas), mas a questão não é ideológica, é de pudor.

QUE TAL OFERECER LIVROS-TIJOLOS?

CHURCHILL é talvez, a minha personalidade preferida do século XX. É, com Mark Twain, Millôr Fernandes e Grouxo Marx, autor duma série de frases célebres. Algumas mostram o seu sarcasmo: certa vez, uma Senhora retorquiu numa discussão “Você está bêbado!”, ao que Winston respondeu “E você está feia, a minha vantagem é que amanhã passa-me”.
Mesmo P.M., usava as manhãs todas para dormir e começava o dia com uma charutada e com o primeiro de muitos copos de gin ou wisky, já não me lembro. Essa parte dá-lhe patine - duvidai é dos ascetas, digo-vos.
Qual Cassandra, foi o primeiro a alertar que a complacência da Europa estava a alimentar um monstro, Hitler. Foi um óptimo estratega na 2ª guerra, mas perdeu as eleições meses depois da vitória. Por compensação, ganhou inexplicavelmente o nobel da literatura, pelas suas Memórias da 2ªG.M. É esta que vos recomendo este Natal (Ed. Nova Fronteira).

Estaline, a corte do czar vermelho (Ed. Aletheia) é outra biografia que requer fôlego, pelo tamanho do tijolo (é uma empreitada!) e pela sua loucura: em 1939, o Zé já levava vários milhões de mortos de avanço sobre Hitler. As purgas atingiam oposicionistas ou camaradas, de forma quase igual (por vezes, desapareciam metade dos membros em congressos do PC sucessivos, fisicamente e dos registos), nem os amigos do peito escapavam, dada a sua desconfiança patológica. O historiador Simon Montefiori viu este seu livro consagrado, e com razão.

Mais um par de contemporâneos: César de A. Goldsworthy (A Esfera dos Livros) e Cícero de A. Everitt (Quetzal). É impressionante como há tanta informação sobre gajos mortos há 2000 anos e como sobreviveram documentos originais.
Em ambos os casos, a história foi feita parcialmente pelos próprios, o que os beneficia: César ditou as suas Campanhas na Gália, Cícero (um advogado não-patrício que chegou à distinção máxima, Pai de Roma) seria poeira, não fosse deixar-nos a sua muita correspondência e os discursos (à custa do seu secretário, Tiro, talvez o primeiro estenógrafo oficial). Quem gostar de Roma antiga, leia Roma e os “policiais” de Steven Saylor.

Finalmente, saiu agora uma História de Portugal com 2 trunfos: é em boa parte dedicada à história contemporânea e já tem um distanciamento temporal suficiente da ditadura e da revolução (os historiadores não devem participar na História).
Pena que os livros sejam caríssimos - falta de escala, dizem os livreiros, mas fica uma pescadinha de rabo na boca -, estes um pouco mais. Mas ficam bem no sapatinho do papá.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

COMPRA LIVROS, OFERECE SONHOS

Praga
U. Coimbra

A culpa é minha, que sou básico.
Lembro-me de adormecer no cinema uma vez. Tinha-me levantado cedo e ido do Cartaxo a Braga arranjar o meu primeiro trabalho, na minha politraumatizada R4, ‘tava cansado.
À tarde, passei no Porto e fui ver o filme do Manuel de Oliveira com o Malcovich e La Deneuve. Bem, aquele leeeeeento passeio no convento da Arrábida, sem falas, a ouvir o vento e o roçar das folhagens das árvores, foi tiro e queda.
Fui com o nosso Pedro. À saída, perguntei-lhe o que achara da película: “Hum, deixa-me digerir o filme”.

Eu sou mais básico, não mastigo os filmes ou os livros, gosto ou não.
Também não sou daqueles que choram a ler livros ou a ver filmes – como o mundo é feito de compensações, a minha mulher até chora no Bamby, verte uma lágrima em qualquer fim de filme com um draminha e música a acompanhar.
Eu não me envolvo nos filmes ou nos livros a esse ponto, consigo distanciar-me q.b. e não esquecer que é uma história apenas, e que qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência – claro, quando não é baseado uma história real.

O intróito serve para Vos dizer, se tiverem chegado aqui, que há 3 livros que me enervaram, o que só credita os seus autores.
A Desgraça (do mais tarde nobelizado J. M. Coetzee) foca um professor desempregado e a sua filha, na África do Sul, e traça um retrato ácido das tensões pós-apartheid, da nova hierarquia instaurada e da apatia das personagens perante a violência e humilhação a que são submetidos: Lucy é violada na própria casa e torna-se uma escrava impotente do seu violador negro. Irritou-me profundamente a prepotência de uns e a fraqueza de outros. Recomendo apenas a estômagos fortes – o livro devia trazer uma bolinha vermelha.
A Catedral do Mar (Ildefonso Falcones) tem como cenário a construção da Catedral de Santa Maria del Mar, no séc. XIV - erigida pelo povo e para o povo, num bairro de pescadores em Barcelona (caso raro, demorou apenas umas dezenas de anos a construir e é monoestilística). O livro segue a ascensão de Arnau de Estanyol, de servo a barão, num carrossel de tristezas e sucessos, permanentemente sabotado. O primeiro leitor descontente que se acuse.
Por fim, confesso envergonhado que fui alertado para Os Pilares da Terra (Ken Follett) pelo entusiasmo da Júlia Pinheiro de Chicago, a Oprah. É uma saga de 2 tomos, tendo como fio condutor a construção de outra Catedral, Kingsbridge, no séc. XII. Há várias personagens centrais, há clero corrupto, nobreza prepotente, prima-nocte, traição, morte, amor, inveja, sabotagem. Uma epopeia (caso gostem, Até ao fim do mundo pega na descendência, 200 depois). Façam-me o favor, leiam.
Ou ponham no sapatinho de alguém, são os 2 livros prendas seguras.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

IMAGINEM


Imaginem um país solarengo – para facilitar, chamemos-lhe Papua.
Imaginem agora que uma lei exige há QUINZE-anos-QUINZE que os, digamos, brinquedos sejam TODOS testados para detectar materiais perigosos.
Imaginem lá que a lei nunca foi cumprida, apesar das “recomendações” da aliança de países onde a Papua está integrada (organização de cooperação económica Ásia-Pacífico?) e que, na primavera de 2007, a autoridade nacional competente (AC) decidiu que a pesquisa sistemática nos tais brinquedos deveria começar obrigatoriamente nos meses seguintes.
Imaginem ainda que (como o tempo passa depressa) a aquisição do equipamento teve o seu calendário burocrático e a data para o início dos testes diários arrastou-se, sendo adiada para 1/11 (impreterivelmente!) e depois para 1/12/2009 – o mês com mais vendas no sector dos, digamos, brinquedos...
Imaginem que a AC enviou com tempo faxes para as indústrias, relembrando o prazo e recomendando que efectuassem testes experimentais, para as indústrias ganharem rotina, antes do arranque a sério da testagem.
Agora imaginem que, chegados a Dezembro, um industrial diz “este mês ainda é à experiência, há mais produção de (digamos) action men, e ainda calham 3 feriados”.
É para, finalmente, começar, mas devagarinho… É mesmo à papuense.

Por fim, imaginem que a AC generosamente forneceu o equipamento, parte dele avariado, e reagentes cuja validade expirou em Fevereiro de 2008.
Imaginem lá.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

CONJURADOS


Em 870 anos de Portucale enquanto Estado-nação, há 3 datas maiores, uma espécie de trindade:

1. A fundação do reino, dividida em 3 fases, a auto-proclamação de Afonso Henriques em Bragança a 1/11/1139 (após a batalha de Ourique em Agosto), o reconhecimento pelo Primo Afonso VII de Leão e Castela em Zamora, a 5/10/1143 (o nosso 1º cinco de Outubro), e o reconhecimento internacional da altura, via papado, em 23/5/1179, com a bula Manifestis Probatum dum tal Alexandre III.

2. A batalha de Aljubarrota a 14/8/1385, que não foi uma novidade militar, repetindo tácticas antigas de Alexandre magno e decalcando Crécy e Poitiers, 30 anos antes, quando a infantaria dum exército pequeno venceu a cavalaria dum exército muito maior (Inglaterra 2-França 0). 6500 lusoingleses venceram 30000 francocastelhanos, à conta duma frente de batalha estreita, covas-de-lobo e paliçadas romanas. No rescaldo, firmou-se a aliança luso-inglesa, João I desposou Filipa de Lencastre e nasceu a ínclita geração, que iniciou a gesta dos descobrimentos ou, à brazileira, dos achamentos.

3. A RESTAURAÇÃO, a 1 de Dezembro de 1640.
Denominador comum, poucos fizeram a história e o destino de muitos.

A Espanha estava envolvida na guerra dos 30 anos, que opôs Suécia, Holanda, França e alemães reformistas à Espanha e sacro-império. Filipe IV tentava segurar a Flandres, territórios italianos e o ultramar luso.
A Portugal, “herdado” em 1580, foi imposta uma enorme carga tributária e intensificado o recrutamento militar, para financiar o esforço de guerra de Filipe IV.
A 12 de Outubro de 1640, no palácio de D. Antão Vaz de Almada, reuniram-se 40 conjurados, entre os quais o octagenário D. Miguel de Almeida (que, como José Relvas, fez a proclamação na varanda), Jorge e Francisco de Melo, António Saldanha, Estêvão da Cunha, Carlos de Noronha, Francisco de Melo, João de Sá de Meneses, Tristão da Cunha de Ataíde, Luís Godinho Benavente, padre Nicolau da Maia e o Dr. João Pinto Ribeiro (intendente da casa de Bragança).
A Fidalguia decidiu enviar Pedro de Mendonça a Vila Viçosa, propondo ao Duque de Bragança que aceitasse a coroa após a declaração da Independência de Castela, ao fim de 60 anos de Filipes.
João estava indeciso. Questionado pelo secretário António Pais Viegas se tomaria o partido do país ou dos castelhanos, respondeu “hei-de acostar-me ao que seguir o comum do País” (mariavaicomasoutras). A sua mulher espanhola, Luísa de Gusmão, invectivou-o, julgando “mais acertado, ainda que a morte fosse consequência da coroa, morrer reinando que viver servindo”, mais tarde transformado em mais vale rainha uma hora que duquesa toda a vida.
João aceitou, mas disse que negaria a participação, caso a intentona falhasse…*

Houve novas reuniões a partir de 21 de Novembro, com hesitações e planos, terminando a 30 com a decisão de avançar, a redacção de testamentos e encomendas de missas.
Às 9 da manhã dum sábado, os conjurados e arregimentados, num total de 120-150 pessoas, juntaram-se na praça do comércio. João Pinto Ribeiro terá respondido a um amigo, que lhe perguntou onde ia, “vamos ali abaixo à sala real, e num instante tiramos um rei e pomos outro…”.

Não houve quase resistência no Palácio da Ribeira. O Secretário de estado, Miguel de Vasconcelos (que soubera da conjura, mas não acreditara nela), foi morto no pequeno armário onde se escondera e defenestrado (atirado pela fenétre, a bem-dizer).
À vice-Rainha e Duquesa de Mântua (Margarida da Áustria), foi negado falar ao povo - “se não quiser utilizar aquela porta, (será forçada) a sair por aquela janela” - e obrigada a ordenar a rendição das guarnições.
Durou 2 horas e 3 mortos, 6000 soldados espanhóis incrédulos e estuporados e 2 ou 3 galeões na zona de Lisboa capitularam sem resistir. Ao início da tarde a justiça fazia-se em nome doutro rei, sem qualquer sobressalto. A vida continuava (e o povo é sereno, já dizia o Pinheiro de Azevedo).
Como um rastilho, todas as cidades e vilas aclamaram D. João IV**, assim como todos os territórios ultramarinos – excepto Ceuta, que ainda continua espanhola...
Os espanhóis fugiram todos: alguém escreveu que “em menos de 15 dias não sobrava cá nenhum, que não estivesse preso”.
Seguiram-se ainda 28 anos de escaramuças (entretanto, a aliança luso-inglesa foi renovada e mandámos a Infanta Catarina de Bragança, a do chá das 5, a Carlos II de Inglaterra) e, se Espanha não estivesse ocupada com a França de Richelieu-Mazarino até 1659, e com a sedição da Catalunha, que precedeu a nossa alguns meses, a história podia ter sido diferente. Viva Barcelona.

* Hábito seu, fazer de morto: adiou enquanto pode o périplo pelas praças-fortes, suspeitando de cárcere itinerante, alegou contratempos para participar na guerra franco-espanhola, resistiu a mudar-se para a corte de Madrid e assobiou para o ar quando lhe propuseram o vice-reino de Milão.
** Consta que João IV ainda teve que prometer que, caso D. Sebastião (desaparecido mais de 60 anos antes em Álcacer-Quibir…) voltasse do nevoeiro e aparecesse, lhe devolvia o trono…

A LISTA DOS VALENTES, FORAM ELES:


D. Antão Vaz de Almada, D. Luiz de Almada
D. Álvaro Abranches da Câmara
D. Miguel de Almeida
D. Francisco Coutinho, D. Jerónimo de Atayde (armados pela mãe Filipa de Vilhena)
D. António de Alcáçovas Carneiro
D. António da Costa, D. João da Costa
D. Gastão Coutinho
D. António Álvares da Cunha, D. Luiz da Cunha de Atayde, D. Nuno da Cunha de Atayde, D. Rodrigo da Cunha, D. Tristão da Cunha de Atayde, Estevam da Cunha
Rodrigo de Rui de Figueiredo Alarcão
Gomes Freire de Andrade
D. António de Mascarenhas
Francisco de Mello, Jorge de Mello, Luiz de Mello
António de Mello e Castro
Martim Affonso de Mello
Pedro de Mendóça Furtado, Tristão de Mendóça
D. Afonso de Menezes,
João de Saldanha da Gama
D. António Luiz de Menezes
D. António Tello
D. Manuel Childe Rolim
D. Carlos de Noronha, D. Francisco de Noronha, D. Thomaz de Noronha
Dr. João Pinto Ribeiro (intendente de João de Bragança)
Luís Godinho Benavente
D. João Rodrigues de Sá e Menezes,
Ayres de Saldanha, António de Saldanha, Sancho Dias de Saldanha
João de Saldanha e Souza
Francisco de São Payo
D. Francisco de Souza, Tomé de Souza
António Telles da Silva, Fernão Telles da Silva,
D. Francisco de Mello e Torres
Padre Nicolau da Maia
E ainda outros bravos da restauração… Luiz da Cunha, Luiz Alvares da Cunha, D. Paulo da Gama, Gaspar de Brito Freire, Miguel Maldonado, D. Rodrigo de Menezes, Rodrigo de Rezende Nogueira de Novais, D. João Pereira, João Rodrigues de Sá Gonçalo Tavares de Távora, D. Fernando Telles de Faro.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

terça-feira, 24 de novembro de 2009

vinte cinco barra onze

Estávamos em 1975. Chegara o mês de Novembro e a confusão mantinha-se com o espectro da guerra civil a pairar. Era o tempo de Pinheiro de Azevedo (o “bardamerda-para-isto-tudo”) e do sequestro da Assembleia da Republica. Um país partido ao meio, dividido entre o Norte e o Sul. Em cima, os "tradicionalistas", e em baixo os “progressistas”. Rio Maior e as suas mocas, faziam a fronteira. Um dia o governo decide cortar o pio à Rádio Renascença (a rádio mais vermelha e a emitir em roda livre!), como não tinha militares do seu lado para o fazer (tal era a balbúrdia!) pede a um pequeno grupo operacional que opta por dinamitar a antena emissora. Entretanto, os Paraquedistas que controlavam aquela rádio, decidem ocupar as bases aéreas expulsando todos os oficiais, enquanto Otelo (o romântico) distribui G3’s por toda a extrema-esquerda (incluindo civis). E aqui começa o contar de espingardas. De um lado, Paraquedistas, Policia do Exercito e Fuzileiros estavam com a esquerda, apadrinhados por Otelo que ainda comandava o COPCON. A direita militar tinha Eanes (o homem dos óculos escuros que nunca ria) e os Comandos de Jaime Neves (o valente). No dia 25 de Novembro, Jaime Neves e os Comandos atacam e neutralizam a Policia do Exército na Calçada da Ajuda, onde morreram duas pessoas. As outras bases militares foram sendo ocupadas e controladas pelos Comandos, sem violência. Na RTP-Lisboa, um oficial barbudo ainda anunciava a vitória e a grandeza do poder popular, até começar a esbracejar indignado, sendo “substituído” no ecrã por um filme emitido a partir do Porto. Tinha acabado a revolução, o PREC e com isso toda uma época de rebaldaria. E começou um novo ciclo em Portugal, a democracia, que permitiu até que o PCP continuasse a existir (Melo Antunes, o iluminado). Por tudo isto e muito mais, 25 de Novembro sempre!


Entretanto, Otelo abandonava a tropa e abraçava uma carreira no terrorismo, em prol da classe operária. Mas isso já é outra conversa...

Nuno V. Leal

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

PRETO E BRANCO


"O mundo moderno está dividido entre conservadores e progressistas. O negócio dos progressistas é insistir em cometer erros, o negócio dos conservadores é evitar que os erros sejam corrigidos." G. K. Chesterton

O MANIQUEÍSMO é a doutrina religiosa pregada por Maniqueu (ou Menes, ou Mani) na Pérsia, no séc. III. É uma filosofia dualística que divide o mundo entre bem, ou Deus, e mal, ou o Diabo. Advoga a fusão entre espírito (intrinsecamente bom) e matéria (intrinsecamente má). Originalmente, trazia uma mensagem de tolerância e conciliação.
Hoje, o maniqueísmo significa uma divisão entre dois campos, opostos e exclusivos - o do bem e o do mal –, uma visão redutora e protofanática: parafraseando, é o Narciso que acha feio o que não é espelho.
O maniqueísmo vê um mundo bipolar. Quer a direita católica americana, quer a esquerda caseira fazem uma divisão infantil do mundo e das pessoas, atirando para a outra banda todos que tiverem outra escala de valores morais. Não só vêem o mundo a preto-e-branco como, em qualquer posição que tomem, estão arrogante e absolutamente certos de detêm a razão: a esquerda defende a liberdade, os oprimidos e os pobres, a direita os opressores e os ricos (li há dias num blogue “qualquer ditadura é de Direita, a do Pinochet, a do Fidel, a do Kim Il Sung…” e ouvi só meio a brincar, “no CDS não há pessoas boas”, pois).
Infelizmente, não há um risco entre o bem e o mal, o mundo é mais complicado. Não é a preto-e-branco, tem muitos cinzentos.
Em quase todas as questões, seja no posicionamento político, seja de costumes, há argumentos válidos, ou pelo menos a considerar, nos dois lados da barricada. A esquerda tem bons argumentos e a direita as suas incongruências, e vice-versa – todos temos as nossas incoerências, menos Álvaro Cunhal. Pretender o contrário é simplista e prepotente; como aqui escrevi, não há os elucidados e a canga retrógrada, como não há os defensores da vida e assassinos de bébés. And so on.
O mais curioso é que, sendo a esquerda que enche a boca com a palavra tolerância, tenha tão pouco respeito pela opinião diversa, ou de quem não assina logo por baixo.
E então quando precedido de “isso nem parece duma pessoa de bem”…

terça-feira, 17 de novembro de 2009

+ opinião


O país foi a votos em Outubro, cerca de 55% dos portugueses votaram em partidos que claramente disseram ser favoráveis a casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Os deputados estão claramente mandatados para decidirem esta questão.

A questão da igualdade perante a lei parece já não ser questionada, ah e tal, podia-se chamar nhac em vez de casamento, dizem alguns, mas a verdade é que parece que desta vez a igualdade perante a lei e a separação entre césar e deus está quase a chegar. Os argumentos contra já só passam pelo nome jurídico do contrato... aconselho a pesquisarem os argumentos esgrimidos aquando do passo que se deu ao permitir casamentos apenas no civil. É que no virar do século XIX para o XX os argumentos foram os mesmos... a malta até aceita um casamento sem padre, mas chamem-lhe outra coisa, ok?.

Levanta-se agora a questão que ainda não o é, pois o PS é pela igualdade mas, todos somos azuis, mas há uns mais azuis que outros, pelo que descansem as alminhas de deus, que virá uma cláusula a proibir a adopção.

A questão é pois a adopção e sobre ela tenho a seguinte opinião:

Estamos a falar de crianças institucionalizadas, sem pai nem mãe (ambos têm 3 letrinhas apenas). Acaso alguém pode dizer que são educadas mais equilibradamente num orfanato que com apenas uma mãe, apenas um pai, dois pais ou duas mães? É que sobre a questão das referências é falada como se os seres humanos fossem uma ilha, sem familia, relações sociais, como se vivessem isolados do mundo e que a familia nuclear fosse a única referência no crescimento de uma criança.

A criança vai sentir-se diferente das outras e isso vai afectá-la para sempre, ou será gay ou traumatizada! Eis o regresso do velho argumento que já conhecemos e que foi usado no passado contra os pais divorciados, contra os casamento interraciais e contra as mães solteiras. Neste argumento trata-se de descriminar para salvar da discriminação... como sabemos, os filhos de divorciados, solteiras e pais de étnias diferentes são ou gente sem sentido de familia, ou traumatizados ou vítimas destes progressismos que ninguém sabe onde vai parar.

Por mim, reforço que somos todos iguais perante a lei e que não existe nenhum estudo que diga que uma criança é mais feliz e mais equilibrada numa instituição que com um pai, uma mãe ou um casal que a ame, proteja e prepare para a vida.

Pedro Mendonça

OPINIÃO


Fátima, era um assunto que já se estava à espera.
Pois bem, eu tenho a dizer:

No meu segundo post, sobre a tourada, escrevi que poucos assuntos me levam a tomar uma posição apaixonada ou “bélica”. O casamento gay não é um deles, EU NÃO QUERO SABER, façam o que entenderem.
Eu não lhe chamava casamento – igual o que é igual, diferente o que é diferente -, mas não insisto muito, tudo bem por mim. Devo afirmar que não tenho nada a dizer sobre a homossexualidade, não é doença nem peçonha.
Quanto à adopção, tenho alguma dúvida, apenas no que diz respeito às crianças. Se há tantos que não saem do armário, por opção própria, vão levar as crianças a sair do aparador, numa sociedade fechada? E acho pessoalmente que uma mãe faz sempre falta, "com 3 letrinhas apenas se escreve a palavra, que é das mais pequenas, a melhor qu eo mundo tem", era a lengalenga. Pelo outro lado, é preferível isso a fazê-las crescer num lar público, ou deixá-las num lar disfuncional, dizem com razão os progressistas.

Mas não posso acabar sem uma grande provocação aos caros combatentes, desculpem.
Levemos à frente o raciocínio e quebremos todas as convenções: quaisquer 2 pessoas, adultas, de forma consciente e voluntária, podem casar. Concordam?
Então, porque é que um pai não pode casar com uma filha adulta, se ambos quiserem de plena vontade? Ou irmãos, como os faraós? Mãe e filha? E um homem e três mulheres, se todos estiverem de acordo?
Digam lá porque não - qual é o argumento (e não venham com a genética)? É com eles.
É um problema, quem decide e qual o limite, porque inevitavelmente há um.

Adenda: Johanna Siguidardottir é primeira-ministra da Islândia, por acaso lésbica. A parada gay de 2008 juntou 70.000 pessoas, 23% do país, e transformou-se numa festa das famílias.
Lá, este assunto já não é assunto, porque há anos muitas pessoas deram a cara e a situação tornou-se natural.

domingo, 15 de novembro de 2009

DEJA VU

Peço a V. atenção para alguns NÚMEROS:
9.2% de Desemprego (média OCDE 8.6%),
63.7% de Taxa de cobertura das importações pelas exportações (défice anual de 9.2% do PIB),
Défice público acima dos 8% no triénio 2009-2001.
Previsão para 2011: dívida pública a crescer até 91% (14% em 1974, 58% em 85, 50% em 2000, 64% em 2008), défice externo acima dos 10% do PIB, endividamento externo de 120% do PIB (97% em 2008, o maior da UE27).
A cada hora, mais pobres e endividados. ALEGREMENTE, A CAMINHO DA FALÊNCIA.
Bem, nem todos: em 2008, Fernando Gomes ganhou 4.000.000€ na GALP (mais 90000€ de PPR); Silva Lopes, aquele que propõe congelamento de salários, tem reforma de governador do Banco de Portugal, saiu do Montepio com 400.000€ de indemnização e é agora administrador da EDP renováveis. De ramo em ramo...

Escrevi aqui que, dos 17 PM da N. democracia, este é o que tem o curriculum mais nebuloso. Foi o Sócrates-Independente, o Sócrates-mamarrachos, o Sócrates-TVI, o Sócrates-Freeport, agora é o Sócrates-escutas. Um jornal já chegou ao ponto de escrever na 1ª página “Sócrates mentiu” - um patamar acima do usual e prudente faltou-à-verdade-que ou da é-uma-inverdade. Esta legislatura promete…
Um Juiz determina escutas ao telefone de Vara e apanha conversas com o PM, que justificam o envio de 11 certidões para a PGR, por indícios de “atentado contra o Estado de Direiro” por Sócrates, punível até 8 anos de prisão. O STJ já mandou destruir as primeiras 6 escutas, para cumprir a lei que impede escutas do PM (mesmo sendo outro o alvo da escuta, perguntam muitos?). Paradoxo, o Estado de Direito protege quem atenta contra o próprio.
As mesmas garantias do cidadão (compreensíveis no rescaldo duma ditadura, mas que levam à prescrição de processos…) impedem o PS de aceitar a CRIMINALIZAÇÃO DO ENRIQUECIMENTO ILÍCITO, para não inverter o ónus da prova e manter o princípio constitucional de presunção de inocência - esses senhores “tudo fará para que o Estado democrático vigore em Portugal”. Dixit.
Ah, a administração do BCP decidiu manter o salário do auto-suspenso Vara, enquanto não esclarecer o seu envolvimento no processo de corrupção sucatagate.

A presidente da única câmara do BE era arguida relativamente a funções camarárias. Agora é o vereador de Olhão do BE, envolvido em queixas-crime, transacção de terrenos alheios, dívidas ao fisco, falsificação de cheques, burla. Assim de cabeça, o moralista e justiceiro BE talvez seja o partido com maior proporção de edis a contas com a justiça.
Azar, o BE é como os outros.

A IGAI tem 7 carros, mas só 4 estão ao serviço dos inspectores, para efectuar diligências em todo o país, os outros 3 estão afectos ao trio dirigente.

SERÁ KARMA? Vá lá, não esperem muito de um país que começou com um gajo que batia na mãe, ainda por cima bastarda.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A POSTERIDADE E O ANONIMATO

Ouvi alguém dizer que permanecemos vivos enquanto se lembrarem de nós.
Pois tenho em casa uma série de fotografias de antepassados a que nem consigo atribuir um nome (para evitar outras “mortes”, cravei a minha irmã para saber os nomes das pessoas emolduradas na casa da minha tia-avó e escrevê-los no verso, antes da última fonte da informação desaparecer).
Daqui a 100 anos, é possível que ninguém saiba que existimos (tirando uns trinetos, que guardarão alguma lembrança nossa) ou quem fomos, o que fizemos, rimos e chorámos. Talvez fique um nome e 2 datas - quem sabe o nome próprio dum dos 32 tetravós?, digam lá.
Eu cá já me dava por satisfeito se me associassem o nome à cara.

Soube hoje (eis a razão do post) que Mozart vendeu as suas obras para pagar os remédios da sua mãe, e foi enterrado numa vala comum para indigentes (conta a lenda que a mulher descobriu a vala porque o cão de Mozart morreu congelado sobre a campa).
Muitas personagens célebres tiveram vidas miseráveis. Camões e Pessoa passaram as passas do Algarve, e acho que não trocava o sucesso pela cegueira ou até pela surdez de Beethoven.
Valerá a pena haver posteridade, pagando na hora, com uma vida f…anhosa?, pensei. Cá p’a mim, "vai-se a ver" e se calhar é melhor uma vida anónima, mas satisfeita.

terça-feira, 10 de novembro de 2009


O fim do Muro de Berlim representou simbolicamente o fim da Guerra Fria. Com a derrota das cruéis ditaduras comunistas através também das revoluções de rua os cidadãos de Leste enterraram regimes que não quiseram um socialismo livre, com liberdade além de igualdade, com representatividade, respeito pelas minorias, pelo direito à greve, ao sindicalismo, à liberdade de expressão e obviamente ao multipartidarismo. Com o fim do Muro, parecíamos assistir também ao "fim da história" onde o capitalismo liberal vencia e arrastava consigo a democracia parlamentar para o bem de todos, esta recente crise do capital prova que não é bem assim...

Há vinte anos foi o começo de um mundo novo. É possível ser comunista depois da queda do muro? Sim, claro que sim, se um comunista considerar a sua ideologia como uma religião dogmática, afinal séculos depois da Inquisição ainda existe Igreja católica.
É possível ser capitalista depois da crise sistémica actual? Sim, claro que sim, não só pela razão do comunista continuar comunista, como pela razão de o capitalismo ser mais mutável, adaptável a novas realidades, mas a questão não deveria ser mitigar os problemas destes sistemas que controlaram o século XX, deveria ser o bem geral, sem proteger os dogmas que o afectam.

Considero que a queda do muro da vergonha, representa um oportunidade para o Socialismo e não mais o Comunismo se apresentar como contraponto ao Capitalismo. Só em Liberdade com Igualdade, só respeitando as diferenças e os direitos humanos se pode tentar transformar a sociedade e não administrar uns analgésicos às dores que o capitalismo e o Comunismo provocam ou provocaram nas sociedades.

Do lado da Esquerda não soviética e anti-estalinista, há uma mudança que se vai construindo em Portugal com o BE, em França com a Liga anti-capitalista, na Alemanha com o Die Linke, na Grécia e em vários países de Leste da Europa... e do lado da Direita há algo novo ou continuam a dar-nos os valores católico com uma mão e os cifrões da bolsa com a outra?

Ontem festejei o fim daquela aberração histórica, festejei porque sou de Esquerda e para mim nada se constrói contra a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade.

Pedro Mendonça

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O POVO SOMOS NÓS

Caiu o muro há 20 anos. Na verdade, foi uma CORTINA DE FERRO que cedeu, não num dia, mas durante o ano de 1989: em Fevereiro, o governo polaco aceita negociar com o sindicato Solidariedade de Lech Walesa; em Maio, a Hungria abre a fronteira com a RFA, permitindo o êxodo dos alemães de leste, os ossies; em Junho, o Solidarnosc ganha as eleições na Polónia; em Outubro, o homem que acreditava num socialismo com democracia (Gorbatchov, sem o qual o muro não cairia) visita a RDA e diz a Honecker que as tropas soviéticas não o apoiam em nova repressão, como fizeram na Hungria (1956) e Checoslováquia (1968); em Novembro, cai o regime de Praga, crescem as manifs na RDA; um porta-voz do governo de Berlim diz que as fronteiras leste-oeste serão abertas, e por gaffe diz que tal entra em vigor imediatamente (viram as caras desconcertadas dos guardas fronteiriços, ao deixarem passar o povo?); em Dezembro, na única revolução violenta, é a vez da Roménia.

É óptimo que a rapaziada mai’ nova, atraída pelo colectivismo dos meios de produção, veja os bons comentários que têm passado na TV e saiba como foi*, pois não caíram só ditaduras, mas todo um sistema económico. Saberão que gémeos são a melhor amostra para estatística, pois eliminam-se muitos viezes: a comparação entre as duas alemanhas até 89 (cujas diferenças tardarão a desaparecer) uma viçosa, outra anémica, é prova do efeito do domínio do Estado na economia.
O POVO SOMOS NÓS foi o slogan de Leipzig, e diz tudo sobre o falhanço dos totalitarismos de esquerda, quando uma vanguarda pretende representar o povo mas não o deixa escolher, ou sequer falar - governo do povo, pelo povo, contra o povo.
O que mais me impressiona é como proliferavam os informadores das secretas, como os mais de 100.000 bufos da Stasi alemã, por uma miríade de motivos: cobardia, chantagem, inveja, dinheiro, carreira, … podia ser o vizinho insuspeito, o colega, o cunhado, o irmão.

O caso mais esquizofrénico é o da ROMÉNIA, onde Nicolae e Elena Ceauşescu atingiam o delírio, com ordens para a espionagem dos próprios filhos e para a destruição do cocó do secretário-geral (para espiões não descobrirem as suas doenças), a limpeza de mãos com toalhetes após cumprimentar dirigentes africanos, o envenenamento, tortura e internamento em hospícios dos pseudo-inimigos de Estado, a construção do 2º edifício maior do mundo, a seguir ao pentágono (1100 salas, sobre os escombros de 28 igrejas e 30.000 casas). Isto num país onde as patas de porco eram as “patriotas”, porque toda a restante carne era exportada, para minorar as necessidades de caixa.
Eu, contra a pena de morte, assisti contente ao julgamento sumário e fuzilamento subsequente deste casal. A ser alguma coisa, foi tarde.

* Uma deputada nova do PCP respondeu, em entrevista, nunca ter ouvido falar em GULAG... sinto-me bem representado, e vocês?