...e depois, com bigodes de leite, pedem mais paciência e esforço ao povo, que a "vaca 'tá seca".

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

DESTA VEZ, NÃO GANHARAM TODOS


Costuma-se dizer que, nas autárquicas, todos ganham, mesmo perdendo. Esta vez foi um bocadinho diferente, mas ainda assim:
Houve 308 vencedores, mas alguns deles perderam votos e maiorias, como Medina, o que lhe amargou a noite.
Moreira ganhou, mas 'cavacou' com um discurso vingativo. Pior que a acidez dum derrotado (vão-se arrepender, disse Jerónimo aos eleitores trânsfugas), é a acidez dum vencedor.
O PS deu uma abada, ponto final parágrafo (o país está enamorado dele, sim, e há um padrão nos resgates: um partido passa por ele, mesmo sem ser responsável por ele, o outro partido ganha a seguir, há retoma e ganha de novo, com maioria). Problema, não festejou como deve ser, para não insultar o aliado vermelho. Aliás, assobiou para o ar e fez de conta que não se passou nada.
O PSD  ganhou 98 câmaras, perdeu 8 no total, tem o pior resultado de sempre e saíu humilhado nas 2 'capitais'. Por más escolhas, porque Passos nunca aceitou ser atirado para a oposição e porque ninguém gosta dum aprendiz de Cassandra, para mais um agoirento que não acerta (pelo menos no calendário).
O PCP ganhou 24 câmaras, perdeu 1/3 das suas câmaras (nunca teve tão poucas) e percebe que sobreviveu durante 40 porque resistiu a misturas com o PS. Um abraço de urso que vai ter consequências delegadas nos sindicatos.
Lá para trás, o CDS chegou à meia-dúzia de micro e pequenas câmaras. Cristas roubou a maioria ao PS e teve um resultado maravilhoso para a sua escala; a segunda, ou primeira dos últimos, pulou mais que o presidente eleito com o dobro dos votos. Claro que a maioria destes foi emprestada e volta à procedência logo que o PSD arranje um candidato mediano.
Portas ganhou porque a sua decisão de sair foi acertada, perdeu porque Cristas mostrou isso mesmo a bold.  
O BE não tinha nada para perder, e assim continuou. Elegeu um vereador em Lisboa e bebeu espumante, talvez 'venda' caro a maioria a Medina, mas apanhou um susto: o que viu acontecer ao PCP é uma antevisão do que lhe pode suceder nas legislativas. 
Os partidos minions ganharam onde se puseram às cavalitas ou na lapela dos vencedores (o NC ganhou 1 câmara com um dissidente laranja).
Em Oeiras,  ganhou Isaltino e perdeu-se qualquer coisa importante que não sei precisar.
Inês de Medeiros ganhou a câmara de Almada, mas ninguém a avisou que isso podia acontecer. Estava-se tão bem no Inatel....

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

NÃO COMES A SOPA, CHAMO O SÍRIO


O partido alemão eurocéptico e anti-imigração recebeu um em cada 8 votos. O resultado não  é só um susto, foi por susto.
Primeiro, não os chamemos logo de estúpidos, lembremos o provérbio inglês 'não julgues um homem sem andar uma milha com os seus sapatos'. Caso o nosso rectângulo interessasse a alguém e viesse aí uma horda de emigrantes, sendo a maioria muçulmana, ou caso fosse mais despesa que receita, se calhar havia muita gente respeitável a, no segredo da cabine, votar num qualquer pnr cujo slogan fosse Portugal para os portugueses, ou Portugal uber alles.
Posto isto, ou eu ou esses 13% estão equivocados: a Alemanha é um dos países que mais lucra com o mercado único e, distanciada, com o euro; o resgate dos países 'calaceiros' foi em boa parte o resgate dos bancos alemães credores; a Alemanha é rica, está próxima do pleno emprego e envelhecida, não só pode como precisa dos imigrantes.
Há dias, li uma crónica onde um alemão dos Alpes dizia que ia trocar o SPD pela AfD (Não caçam votos só à direita, são transversais como a Marine), por causa dos imigrantes - perguntaram-lhe se já tinha visto algum por aquelas bandas, disse que não....
Lá terão as suas razões para votarem assim, mas eu suspeito que acreditam no papão!
Mas quem sou eu para julgar, não uso calções tiroleses.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

DEU RAIA!

Ainda não tinham chegado os romanos e já a espécie de promontório sobre o Guadiana era ocupada, por causa das vistas únicas, pois dava para topar a vinda dos 'maus' a quilómetros.
Enquanto houve maus, Juromenha mereceu a atenção de califas e reis, e chegou mesmo a ser palco duma dupla boda real: Afonso IV recebeu a tia de Afonso XI e, em troca, deu a este seu sobrinho a sua filha, a 'fermosíssima' Maria.
Depois acabou o perigo de invasões que mantinha o interesse das terras-sentinela e, em 1836, mais de metade dos concelhos desapareceu do mapa - quem foi fagocitado,  definhou. Juromenha foi um deles, incapaz de resistir ao darwinismo social (um excelente exemplo para a recente fusão de freguesias, esperem uns 40 anos) e a fronteira passou a ser apenas o interior.
Em 2 séculos, resta 1/7 da população e toda fora das muralhas. Lá dentro, a bandeira é nova, mas o resto são ruínas e despojos de festarolas - percebo que tenham deixado garrafas para trás, mas peúgas?
A vista continua linda.







segunda-feira, 24 de julho de 2017

Uma cidade invicta?


O burgo medieval de Tallin ainda conserva a cerca exterior e uma muralha interior, que separava o poder da populaça e era trancada à noite: na parte superior, habitavam os invasores, à vez, senhores teutónicos ou nobres dinamarqueses; em baixo, os locais.
Pois a baixa do Porto está a transformar-se numa espécie de Toompea Hill: em vez de invasores a brandir espadas, as hordas de turistas empunham selfie sticks, e 'empurram' os nativos para a periferia; em vez duma recepção hostil, é hostel.
O que alguém disse sobre Lisboa, também serve a norte: qualquer dia, os turistas vêm cá ver-se uns aos outros. Com a desertificação do centro, não tardará a que os curiosos se escondam atrás de arbustos, como um David Attemborough, à espera de captar um tripeiro. Hoje, os indígenas são como uns figurantes num parque temático, com tuk tuks, teleféricos, barcos, autocarros descapotáveis e lanchas, o último must no douro.
E a gastronomia local: pizzas, hamburgers (são aos magotes, as novas hamburguerias), tapas e pratos que levam menos tempo a deglutir, que a ler o nome na ementa (espuma de __ em cama de __ albardado com __ selvagem, é favor preencher a gosto), em restaurantes de nascidos e criados na Baviera (lá está, teutões). Tipicíssimo!
É, para o Porto ser igual aos outros, só falta um hard rock cafe e uma roda gigante. Corrijo, falta a roda.
A cidade perdeu a alma? Não, esta terra de mercadores vende o que puder, seja lã da Covilhã, vinho da Régua ou cogumelos Portobello em leito de qualquer coisa.
É mau? Não propriamente, apesar das vítimas colaterais, e o que é bom é para se mostrar.
E eu, sempre que posso, pago na mesma moeda, quando invado as terras deles com a minha lança de 13 megapixels.
Apareçam, cabem mais uns :)

quinta-feira, 23 de março de 2017

Egogeometria


      Eu sou a soma 
      de todos os meus dias.
      Eu sou a bissectriz 
      entre como eu 
      e os outros me vêem.
      A.C.