Na verdade, não são neo nem são ultra. São de espécie anfíbia “liberal
na conomia, conservadora nos costumes” Mas nem são asim tão liberais na
economia. Nem assim tão conservadores nos costumes. São assim-assim. Mar chão.
Afinal, a falta de convicção pode passar por temperança. E fazer um referendo
pode passar por democracia.
O referendo
foi feito para nem se fazer. Não há tempo, não há dinheiro, não há perguntas e
não há pachorra. O Presidente da República poderá arquivar a intenção. Fará
bem. O que não se arquiva é a
manha institucional. PSD e CDS
não querem a coadoção. Inventaram um expediente. A JSD serviu de barriga de
aluguer, o PSD adotou e o CDS coadotou uma construção política de destruição
legislativa. Quem quis? Quem impôs? Quem disciplinou? As “bases".
As bases. As
bases não são o povo, são os eleitores dentro dos partidos. E os eleitores e Passos Coelho no PSD andam há muito
insatisfeitos com os custos políticos da austeridade. Foram
elas, as bases, que impuseram este desfecho que envergonha até deputados que
ontem cumpriram a religião continente de votar como lhes mandam. A demissão de
Teresa Leal Coelho não basta para ser indignação, mas chega para ser dignidade.
Que dizer dos deputados que votaram contra a
sua consciência? Que não a têm? Que dela abdicaram? Declarações de voto não valem um voto. A
objeção ou é um exercício ou não é objeção, é plasticina. A
disciplina de voto pode fazer sentido, mas não neste caso. Mas serve de capote
para acomodar a cobardia política sentada no Parlamento. A disciplina de voto
tornou-se a disciplina de veto. Veto à própria Assembleia, que aprovara o
processo legislativo, precisamente porque então houvera liberdade de voto.
Ontem não houve liberdade. Escreveu-se torto por linhas tortas. Foi tudo
triste. Tudo triste.
Mais
importante do que o Direito são os direitos. Mais importante do que o golpe do referendo é a lei da coadoção. A esquerda deixou-nos o desastre nas finanças públicas
que continua a desmentir, msd foi sempre ela que promoveu os avanços (sim,
avanços) no casamento homossexual, na união de facto, na interrupção voluntária
da gravidez, na discriminilização do consumo de droga. A direita, chegada ao
poder, não desfez nenhum desses dipomas. Ainda bem. Mas não tolerou que, na sua
vigência, o país avançasse (sim, avançasse) na coadoção de crianças por casais
homossexuais. Mais tarde ou mais cedo, esse é o curso imparável das coisas, a
coadoção será legalizada. Já há crianças entregues a casais do mesmo sexo por
decisão de juízes.
Olhe
para a fotografia de hoje na primeira página do Expresso. A mãe, Fabíola
Cardoso, lésbica, doente de cancro, levou os seus dois filhos ao Parlamento
para assistirem ao debate sobre o seu próprio direito a teremo que têm: duas
mães. Alexandre e Maira nunca tinham ido à “casa da democracia”. Viram a casa
mas não viram democracia. Viram um golpe baço. Viram uma vergonha.»
Pedro Santos Guerreiro, Expresso 18-01-2014
Se não houvesse outras, eis uma boa razão para as pessoas serem pagas para escrever a opinião: PSG falou bem como o diabo, sem uma palavra a mais ou a menos. Talvez só lhe mudasse o título para 'Nu integral', tal a forma como o jornalista expõe as vergonhas desse partido.