...e depois, com bigodes de leite, pedem mais paciência e esforço ao povo, que a "vaca 'tá seca".

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

OS NEOLIBERAIS SÃO ULTRACONSERVADORES

Na verdade, não são neo nem são ultra. São de espécie anfíbia “liberal na conomia, conservadora nos costumes” Mas nem são asim tão liberais na economia. Nem assim tão conservadores nos costumes. São assim-assim. Mar chão. Afinal, a falta de convicção pode passar por temperança. E fazer um referendo pode passar por democracia.
O referendo foi feito para nem se fazer. Não há tempo, não há dinheiro, não há perguntas e não há pachorra. O Presidente da República poderá arquivar a intenção. Fará bem. O que não se arquiva é a manha institucional. PSD e CDS não querem a coadoção. Inventaram um expediente. A JSD serviu de barriga de aluguer, o PSD adotou e o CDS coadotou uma construção política de destruição legislativa. Quem quis? Quem impôs? Quem disciplinou? As “bases".
As bases. As bases não são o povo, são os eleitores dentro dos partidos. E os eleitores e Passos Coelho no PSD andam há muito insatisfeitos com os custos políticos da austeridade. Foram elas, as bases, que impuseram este desfecho que envergonha até deputados que ontem cumpriram a religião continente de votar como lhes mandam. A demissão de Teresa Leal Coelho não basta para ser indignação, mas chega para ser dignidade. Que dizer dos deputados que votaram contra a sua consciência? Que não a têm? Que dela abdicaram? Declarações de voto não valem um voto. A objeção ou é um exercício ou não é objeção, é plasticina. A disciplina de voto pode fazer sentido, mas não neste caso. Mas serve de capote para acomodar a cobardia política sentada no Parlamento. A disciplina de voto tornou-se a disciplina de veto. Veto à própria Assembleia, que aprovara o processo legislativo, precisamente porque então houvera liberdade de voto. Ontem não houve liberdade. Escreveu-se torto por linhas tortas. Foi tudo triste. Tudo triste.

Mais importante do que o Direito são os direitos. Mais importante do que o golpe do referendo é a lei da coadoção. A esquerda deixou-nos o desastre nas finanças públicas que continua a desmentir, msd foi sempre ela que promoveu os avanços (sim, avanços) no casamento homossexual, na união de facto, na interrupção voluntária da gravidez, na discriminilização do consumo de droga. A direita, chegada ao poder, não desfez nenhum desses dipomas. Ainda bem. Mas não tolerou que, na sua vigência, o país avançasse (sim, avançasse) na coadoção de crianças por casais homossexuais. Mais tarde ou mais cedo, esse é o curso imparável das coisas, a coadoção será legalizada. Já há crianças entregues a casais do mesmo sexo por decisão de juízes.

Olhe para a fotografia de hoje na primeira página do Expresso. A mãe, Fabíola Cardoso, lésbica, doente de cancro, levou os seus dois filhos ao Parlamento para assistirem ao debate sobre o seu próprio direito a teremo que têm: duas mães. Alexandre e Maira nunca tinham ido à “casa da democracia”. Viram a casa mas não viram democracia. Viram um golpe baço. Viram uma vergonha.»

Pedro Santos Guerreiro, Expresso 18-01-2014

Se não houvesse outras, eis uma boa razão para as pessoas serem pagas para escrever a opinião: PSG falou bem como o diabo, sem uma palavra a mais ou a menos. Talvez só lhe mudasse o título para 'Nu integral', tal a forma como o jornalista expõe as vergonhas desse partido.

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