Pode ser vista em Serralves uma exposição antológica de Julião Sarmento (n. 1948), que inclui técnicas como a pintura e o desenho, a escultura, o cinema e o vídeo, a instalação e a performance.
Fui bisbilhotar a, até à data, retrospectiva mais completa do artista português (dos que cá moram) mais internacional da actualidade - quem, como ele, está no MoMA, Guggenheim, no Georges Pompidou e na Staatsgalerie de Munique?
Se gostava de ter algumas peças dele, gostava (podia ser uma das suas mulheres sem cara, feitas de resina e fibra de vidro).
Mas sou demasiado 'telúrico' para desvendar, como o comissário da exposição, a 'metonímia das várias bibliotecas' que a obra revela, a sua 'cosmogonia particular', a 'textualidade' ou os 'sinédoques do corpo ora revelado, ora ocultado'. Uma parte do texto eu percebi, quando João Fernandes escreve que a obra de Sarmento é uma permanente encenação do desejo e das suas circunstâncias. Está lá, repetidamente, a nudez, os seres andróginos, o sexo, a mulher, a mulher. Freud teria tanto para dizer!
Dizem os entendidos, a escolha das peças teve como leitmotiv a casa; eu, que percebo pouco de arte, vejo como cerne da obra o desejo sexual. Ligação entre uma e outra coisa, talvez encontrasse o jornalista Pinto Coelho, naquela sua cadência tão singular: casa, abrigo, domesticidade, mãe-mulher, fêmea, sexo...
O meu catraio não gostou de algumas peças (como os 44'22'' do filme super8 'Faces', onde uma boca explora uma cara e recua com um fio de saliva) e ficou desconcertado com outras - 'Pai, olha, a senhora tem um balde com um líquido vermelho entre as pernas'. Também não percebeu os gemidos monocórdicos e sem emoção que saíam da reduzida casa alentejana...
Eu sou um bocadinho mais crescido, mas continua a surpreender-me o conceito criativo duma tela texturada integralmente pintada de castanho, uma série de fotografias com 3 bolas vermelhas no céu azul, um vídeo com uma pessoa muda e queda, outro com uma rapariga que se vai despindo enquanto lê Anotações Sobre as Cores de Wittgenstein, ou uma instalação feita com uma cortina, um holofote e um fado a tocar. Mea culpa.
Bem, tudo somadinho e cito outro jornalista, Mário Crespo: é absolutamente a não perder.
faces (detalhe), 1976
forget me (with buckett), 2006
a human form in a deathly mould, 1999
licking the milk of her finger, 1998
a subjectiv dialectic of prohibition, 2004
une femme seule dans uns bibliotèque, 2011
sofrimento, desespero e ascese, 1997
sofrimento, desespero e ascese, 1997 (detalhe)
plaisir, 1989
salto 1986
descem por ela as mãos da noite, 1987
ataque, 1994
ataque, 1994
white exit, 2011
estratégias de sobrevivência, 1984
fado da Carminho (instalação na capela)
Gostei imenso do seu 'post' - informativo e divertido em simultâneo, o que não é coisa fácil. Tomei a liberdade de o citar, fã que também sou do JS.
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