Volta-não-volta, há provocações destas.
Há 12 anos, foi o filme Branca de Neve, que João César Monteiro resolveu fazer praticamente sem imagem: levou pancada, mas também recebeu elogios da vanguarda esclarecida - a culpa será minha, mas não encontro nenhuma 'inovação na eloquência da fórmula encontrada, o ecrã preto', nem atingi que se procurasse 'alcançar um nível de semelhanças, analogias ou isomorfias de ordem estrutural e técnico-formal' entre as artes.
Porque é que fez o filme assim, perguntou um jornalista. Porque não pude fazer o filme assado, não estamos a brincar com coisas sérias, respondeu o realizador. A outro entrevistador, disse 'eu quero que o público português se foda'. Pormenor de só-menos importância, Monteiro recebeu do erário (desse) público quase €800.000 para realizar 75' de rádio-cinema, uma súbita versão diferente da sua ideia original.
Agora foi a exposição
Invisible Art of the Unseen, 1957-2012, encerrada há dias na londrina Hayward Gallery. Está bom de ver, a obra é o que existe - um quarto escuro (intitulado The Ghost of James Lee Byars), um supercarro invisível numa linha de partida, quadros em branco, superfícies pintadas com ondas cerebrais (?), telas virgens, pedestais vazios. Parece que a 'musa' da exposição é um tal de Yves Klein, que criou The Void em 1957: uma galeria vazia, mas que estaria supostamente impregnada pela sensibilidade artística do próprio...
Pois há quem consiga discorrer longamente sobre a mais-valia da exposição, a desmaterialização da arte, o desafio aos cínicos, a presença do autor, a pobreza do artista que o fez escrever o diário com água, porque não tinha tinta; em suma, não são os objectos visíveis que interessam, o que conta é a ideia. Não estou a inventar, isto foi escrito por Laura Cumming, crítica do The Observer, e por Jonathan Jones do The Guardian - este crítico, que achou a exposição brilhante, lembrou-se da série Seinfeld, que é sobre nada. Bem visto.
Repito, a culpa é minha que sou ignorante, quando olho para uma parede vazia, só vejo uma parede vazia.
Ignorante e pouco criativo, parece.
p.s.: até era gajo para adquirir uma das peças. com dinheiro invisível.
Witche's Curse and Pedestal 1992, Harry Handelsman
The invisible 1998, Carsten Holler
Magic Ink 1989, Gianni Motti
Unusual things happen (its all there) 2012, Bruno Jakob
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