"A VERDADE É UM VENENO"
provérbio kmer
Assunto: a propósito dum 'especial informação' da RTP em Luanda, o jornalista Pedro Rosa Mendes chamou os bois pelos nomes e criticou a deferência nacional pelo Estado corrupto de Angola, e a sua rubrica na Antena 1 foi encerrada.
Suposição: com ou sem o 'desabafo' angolano, o governo ficou melindrado e deu uma palavrinha à administração da RTP/RDP.
Um amigo, gente de bem, comentou no facebook que 'existe sempre a tentação de controlar a informação, manipulá-la, esconder as "verdades inconvenientes", e silenciar os jornalistas'.
Condordei com o texto todo, menos com a frase optimista 'Mas felizmente, os cobardes não ficam na história, nem sequer nas entrelinhas'.
E respondi-lhe: A história é feita pelos vencedores, e os cobardes estão geralmente do seu lado. Se calhar até ficam na história e aparecem nas fotografias, de onde os corajosos são apagados... (palavras de céptico)
De facto, a verdade toda só é permitida a tolos, crianças, idosos e pessoas com total independência financeira - tirando os casos em que regimes se permitiam fazer desaparecer pessoas numa cave de Moscovo ou num avião sobre os Andes.
Aliás, por cada corajoso que fica na história, e pomos galhardamente na lapela, milhares sumiram na cloaca maxima da história, e pagaram esse anonimato com a vida, a liberdade ou coisas mais comezinhas como a saúde, a carreira ou o ganha-pão.
Quanto à cobardia, é uma expressão natural do instinto de sobrevivência: o fazer de morto e a fuga ao holofote ou à confrontação protege o animal-homem (e as suas crias) do predador ou do mais forte*.
E, bónus, ajuda na progressão social: a cobardia (lado b da bajulação) é uma ferramenta dos arrivistas.
No fundo, mais que uma questão de (in)consciência, é uma questão de feitio: os bravos, que levantam o dedo e discordam, podendo ser prejudicados por isso, poderiam citar Martinho Lutero, "Aqui estou eu, não posso fazer outra coisa".
* Sobrevive quem se adapta, nem sempre o mais forte, diz a história das espécies. Ou, como propôs Descartes para a sua lápide, em tempos mais inseguros, 'Aquele que se escondeu bem, viveu bem'.
E enquanto se luta por uma causa de todos com quase ninguém ao lado os anos passam e deixa-se de viver as coisas mais simples do mundo como andar de bicicleta ou de patins ou mesmo plantar morangos na varanda...
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