"Para certos republicanos a República tem sido um pé de cabra com que vêem aumentando os seus haveres." Senador João de Freitas, histórico republicano, in Boletim parlamentar do Senado, 11-06-1913
...e depois, com bigodes de leite, pedem mais paciência e esforço ao povo, que a "vaca 'tá seca".
sexta-feira, 20 de maio de 2011
E O CONSERVADOR SOU EU? EEEEE...
Pinto Leite diz que a saída de Portugal não é a via neoliberal, mas antes uma visão neosocial. O trajecto terá trilhos comuns - o emagrecimento severo do Estado ou o princípio do utilizador-pagador (deixando a isenção/minoração apenas para quem não pode), mas a conotação é muito diferente, em particular para a esquerda.
A caminho das urnas, há um facto com a leveza do mármore: a festa acabou (mesmo pobrezinha, à base de "cocrete", como gozam os braileiros), este Estado-social morreu. Há que inventar outro, que seja possível sustentar com a riqueza produzida.
E o que pensam os principais players?
O PCP e o Bloco estão contra os 'atentados' ao Estado social pela direita e pelo PS, afinal o Estado social que essa direita e esse PS construiram nestes 36 anos, não eles. É como a Constituição, defendem a versão actual contra qualquer alteração, como defenderam a anterior contra a actual. Pois é a isso que se chama conservadorismo, querer preservar o que está.
Esquecem-se é de dizer que o Estado social cresceu exponencialmente, mais depressa que a riqueza gerada. Infelizmente (sem ironia), não é possível manter todas as 'conquistas', porque já não há dinheiro debaixo do colchão e, azar, a demografia é chata: cada vez mais idosos e reformados significa menos contribuição e mais despesa.
Depois há o PS, o 'defensor' do estado social contra a direita que o quer destruir.
Conversa tipo chuva "molha-tolos": foi com ele que se introduziram portagens apesar de promessas em contrário, subiram as taxas moderadoras, taxas de justiça e os impostos to-dos, desceu o ADSE, benefícios fiscais, a comparticipação de medicamentos, abonos de família e outros apoios sociais) e os salários, se flexibilizou a lei laboral, se preparam para congelar salários e pensões, facilitar o despedimento (e reduzir em 1/3 as indemnizações, passando o trabalhador a pagar metade!), reduzir o tempo e valor do subsídio de desemprego, reduzir em 33% os custos com transportes de doentes (como?).
E o hospital de Braga, de construção e gestão privada, não é privatização da saúde, é parceria...
Sobra a tal 'direita', a única que não finge querer manter um Estado social que jaz morto e enterrado. Com uma visão mais liberal e arrojada, como parece ter hoje o PSD (permitindo alvitres sobre a privatização da CGD e das Águas de Portugal, a baixa do salário minimo ou a penalização nas reformas de quem esteve desempregado), ou pregando uma matriz social-cristã mais moderada - involuntariamente centrista, por ultrapassagem à direita, e menos escrutinada, porque não é candidata à vitória.
Há é duas coisas que todos os eleitores comungam, à esquerda e à direita:
1. É fácil para Catroga, Mira Amaral, Silva Lopes e muitos jovens turcos do PSD (sendo que parte trabalha ou trabalhou na esfera pública ou em empresas que cresceram em parceria com o Estado, ou acumula belas reformas do defunto Estado social), dizer que os portugueses vivem acima das suas possíbilidades. E ofensivo.
2. Há muito por onde o Estado pode começar antes de diminuir a protecção social, como o gasto rigoroso de cada cêntimo, a oneração da banca, o controlo da evasão fiscal, a extinção de organismos, a despolitização da AP ou o corte nas parcerias, consultadorias e prebendas, a taxação da valorização urbanística (ideia do BE), o não favorecimento de alguns grupos económicos.
A propósito, para alguns parece quase um pecado, mas não é problema haver grupos económicos, até devia haver mais, pujantes e independentes do Estado, que agora tivessem capital suficiente para comprar as participações que o Estado vai ser obrigado agora a vender em saldo. Esse é um dos nossos problemas, a falta de empreendedorismo, iniciativa e cultura de risco - sem esperar pelo Estado-pai, para ter um subsídio ou um negócio.
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Olá Duarte
ResponderEliminarNão gosto muito de escrever mas de discutir estas "coisas" mas ao ler esta reflexão além de concordar com ela no geral não deixou de me chamar a atenção uma idéia que vejo dita e escrita algumas vezes por aí e que é: "a direita, a esquerda e o PS".Será porque o PS é o partido que vive à rico gastando o que não tem,aumenta a pobreza e depois diz que vai cuidar dos pobres?
Na verdade, o PS conseguiu o sonho de Soares, ser o centro da política portuguesa - o coração à esquerda, a cabeça à direita. Tirando as questões fracturantes, o PS governa como qualquer partido que tenha que gerir a res publica. Pode é governar mal, e ter um apetite exagerado pela tomada do Estado para os seus.
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