Qual Bela e o Monstro, um dos noticiários da TSF abriu com a decoração do hemiciclo para a tomada de posse do PR – entrevistando uma floral designer (florista em moderno) sobre as rosas, crisântemos e orquídeas expostas – e seguiu para a venda de mais 1000M€ de obrigações de tesouro, num dia com novos recordes dos juros da dívida (7.81% a 5 anos, 7.70% a 10 anos), devido ao nervosismo dos investidores. Eu diria que o nervosismo é do Estado, os investidores estão placidamente a negociar, podem pedir o que quiserem aos aflitos que não podem regatear.
É que nenhum país aguenta muitos meses com os juros da dívida acima dos 7%, passa a trabalhar só para pagar juros, até não poder pagar a conta. E os credores só emprestam a um juro que incorpore, ou compense, o risco de incumprimento - ou o juro é aliciante, ou aplicam o dinheiro noutro lado. E, sem dinheiro vivo para ir pagando a dívida que vence, a juros comportáveis (pagáveis), o risco de incumprimento aumenta, blábláblá. Uma pescadinha de rabo na boca.
Depois a Alemanha não quer que a EU empreste dinheiro aos parceiros em apuros com juros baixos, ou atractivos, para obrigá-los a mudar de vida – um pormenor, o governo alemão existe para defender os alemães, que o elege (numa sondagem do Inst. Toluna, publicada hoje, 60% dos alemães estão contra ajudas). Disse o ministro das finanças teutónico, Wolfgang Schauble: não pode haver cedência nas condições do Fundo Europeu de Estabilização Financeira aos EM que precisem de se refinanciarem, os juros podem mesmo subir – para os países que falhem a consolidação das suas contas públicas e precisem de pedir ajuda, “essa ajuda não pode ser atractiva”. A puxar para juros mais baixos estão a Grécia e a Irlanda, pois nem os empréstimos da União acalmaram os mercados – aliás, nada acalma os mercados, nem diminuição da despesa, redução de salários, nada.
Somos um país Zézé Camarinha, pouco atractivo, pronto.
O governo vai amanhã a Bruxelas tentar uma saída, mas terá que apresentar medidas (são 50 que apresentaram hoje no CCS), que significam mais aperto e mais abrandamento da economia. Mais do mesmo, até ao PEC seguinte, pois mesmo a despesa corrente primária (sem juros) não retrocede.
Uma mudança de governo chega para aliviar a pressão, o que não aconteceu na Irlanda? Só com mais austeridade, e a valer, tipo nós é que apertamos o cinto "como deve ser".
Um feliz segundo mandato, Senhor Presidente.*
* Os deputados do BE (que enchem a boca com Democracia, mas parece não gostarem dos seus resultados) não participaram nos cumprimentos ao PR, no final da tomada da posse. Isso não é coerência, radicalismo ou irreverência, é apenas falta de educação.
Mark Twain tem frases para tudo, para este caso também : boa educação consiste em esconder o bem que pensamos de nós próprios e o pouco bem que pensamos dos outros.
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