...e depois, com bigodes de leite, pedem mais paciência e esforço ao povo, que a "vaca 'tá seca".

quarta-feira, 9 de março de 2011

O JANTAR ESTÁ NA MESA


"Às 7.30, os filhos tinham que sair da cama. E a correr, porque eram muitos e precisavam de se arranjar rapidamente. Levantavam-se todos com uma precisão militar (…). Às 8.30 estavam na copa a tomar o pequeno-almoço e seguiam para as aulas, que começavam às 9 horas. O almoço era às 13. E não se admitia atrasos de um segundo a ninguém, nem ao pai. Quem não estivesse a tempo não almoçava. O jantar exigia uma logística mais complicada. A freira que fazia companhia à avó Judite comia às 19; às 19.30, era a vez das criadas; às 20.15 dava-se o primeiro toque no badalo, para as crianças lavarem as mãos e se pentearem; às 20.30, o segundo toque, para estarem todos à mesa. Até à primeira comunhão, os filhos jantavam na copa, vigiados pelas criadas. A partir daí, recebiam um relógio de pulso e permissão para tomar as refeições na sala de jantar. (…) Enquanto não lhes dirigissem a palavra, as crianças deviam ficar caladas."
Miguel Pinheiro, Sá Carneiro

Cá em casa, é um rosário sentarmo-nos todos à mesa, há sempre vários "já vou" - depois vêem os "usa a faca", "senta-te direito", "come" e "despacha-te". Daí o fascínio com a organização (e a disciplina) das famílias grandes. O trecho de Miguel Pinheiro recordou-me o meu bisavô Mário: quem não estivesse à mesa quando ele se sentasse, não comia. Mas em vez do badalo, soava a voz da criada Amélia, a comida 'tá na menja!, para irritação da dona da casa.

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