...e depois, com bigodes de leite, pedem mais paciência e esforço ao povo, que a "vaca 'tá seca".

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

OS NÚMEROS

Menos conhecida que a Fundação Champalimaud, a Fundação Francisco Manuel dos Santos dedicou-se às Ciências Sociais, sob a batuta de António Barreto. O seu trabalho mais visível é uma base de dados de acesso público, a PORDATA, que apresenta uma série de estatísticas oficiais desde 1960, e a edição duns livrinhos à venda a 3-5 euros, de modo a que qualquer um possa adquiri-los.
Já saíram 3, um sobre o ensino de português, outro sobre fiscalidade (de Saldanha Sanches) e, o primeiro, sobre 5 décadas de mudanças em Portugal. Justamente intitulado “Portugal: os números”, escalpeliza uma enormidade de dados sobre uma variedade de assuntos, resistindo à tentação de interpretá-las politicamente.
O que fiz foi condensar parte da informação em algumas tabelas. Cada uma delas daria pano para mangas, pela quantidade de informação: é caso para dizer que cada parcela vale por si. Mas o mais relevante é que se confirmam crenças e desfazem mitos.
Factos confirmados, há mais velhos, menos filhos, as famílias são mais pequenas e têm composição diversificada, casa-se menos e não é para toda a vida (número, 4 divórcios por cada 10 casamentos); houve um progresso notável na saúde, educação e cultura, no que diz respeito a acessibilidade, recursos humanos e gasto público.
O PIB aumentou muito (septuplicou desde 1980, esquecendo a inflação…), mas o crescimento é cada vez mais lento. Porém, os gastos sociais tiveram um crescimento exponencial, a um ritmo muito superior ao crescimento da riqueza nacional e atingindo valores insuportáveis de manter (número, rácio activo/pensionista cai de 5 para 1.7) – chegámos tarde ao estado social e ele está em vias de atrofiar. E cai o mito que o “centrão” desmantelou as "so called" conquistas de Abril e pretende acabar com o Estado Social.
O falhanço maior da democracia, a meu ver, foi a justiça, e os números são cruéis. Não só na justiça fiscal – 40% das empresas declaram prejuízo -, mas na justiça geral:
muito mais recursos humanos e financeiros, muito mais litigância, processos cada vez mais demorados, um sistema que não dá vazão. E sem justiça, não há nada.








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