...e depois, com bigodes de leite, pedem mais paciência e esforço ao povo, que a "vaca 'tá seca".

terça-feira, 20 de abril de 2010

LEGO DE PALAVRAS

Há uma música de Chico Buarque da Holanda particularmente bem conseguida. O poema chama-se "Construção" e é um jogo com as palavras: Buarque conta uma história e depois repete-a várias vezes, trocando os adjectivos.
A versão seguinte é acelerada (o original tem mais 2 minutos), mas serve.
Prestem atenção.



CONSTRUÇÃO, Chico Buarque

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse único
E atravessou a rua com seu passo tímido

Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo por tijolo, num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima.

Sentou para descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado

E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido.
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contra-mão atrapalhando o tráfego.

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado

Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo por tijolo, num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego.

Sentou para descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música

E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido.
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contra-mão atrapalhando o público.

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou para descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe.
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado.

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