Qualquer oficina que se preza tem pendurado um calendário com uma menina desnuda, junto às latas de óleo e farrapos para limpar as mãos. Mas há uma marca de pneus que edita, há muitos anos (38), um calendário de luxo, que só deve ser aplicado em oficinas da Lamborghini.
O calendário da Pirelli para 2011 cumpre as expectativas. E tudo muito cosmopolita: com fotos da autoria de Karl Lagarfeld (autor de algumas das divinas jóias), tiradas no seu estúdio de Paris, o calendário da marca italiana foi apresentado no Teatro Stanislavsky e Nemirovich-Danchenko de Moscovo, apostando a Pirelli na expansão do mercado Russo. O tema é a mitologia greco-romana, e teve a participação especial da actriz americana Juliane Moore, como Hera, mulher de Zeus.
"Para certos republicanos a República tem sido um pé de cabra com que vêem aumentando os seus haveres." Senador João de Freitas, histórico republicano, in Boletim parlamentar do Senado, 11-06-1913
...e depois, com bigodes de leite, pedem mais paciência e esforço ao povo, que a "vaca 'tá seca".
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
SINAIS DOS TEMPOS
A cimeira da Nato em Lisboa foi muito bem organizada, a ponto do Obama afirmar que tomou algumas notas, para preparar a próxima reunião, nos states. Está descoberto o desígnio de Portugal, o nosso nicho: eventos. 500 anos depois do mar, o catering.
As coisas são tão calmas por cá, que os blindados da psp podem chegar depois da festa, que no pasa nada. Um idílio numa Europa em polvorosa, com manifs violentas em Itália, França, Inglaterra, Espanha ou Grécia.
Haverá fotografias mais impressionantes, de desgraças longínquas. Mas este quadríptico (se o Mia Couto pode inventar palavras, também eu) foi o que mais me chocou em 2010.
Perguntarão os pais destas criaturas “onde é que errei?”. De facto, o que pode levar uma pessoa, numa histeria colectiva ou organizadamente (como os anarquistas black block), a destruir carros e lojas, que têm dono, dono esse que deve ter suado para tê-los, e que é alheio à especulação financeira, à subida de propinas, à redução dos salários, ao despudor do Berlusconi ou ao aumento da idade da reforma.
Mas este caso é diferente: um cidadão tentou impedir o acto de destruição, e foi ferozmente agredido. Foi uma decisão temerária e inusitada, pois o costume é a passividade das pessoas, o virar a cara e passar de fininho - como se viu há semanas, em que câmaras filmaram uma enfermeira a ser roubada e agredida até entrar em coma (e morrer) numa rua de Roma, sem que ninguém a acudisse.
Há dias, ao sair para trabalhar, ouvi um berro cavo em decrescendo, parecia uma pessoa a esvair-se. Encontrei uma senhora deitada em convulsões e semi-inconsciência. Dentes e nariz partido contra a esquina do passeio, uma larga mancha de sangue. A senhora da loja em frente, a cabeleireira Carla, conhecia a “sinistrada” de 32 anos, e telefonou aos pais (o pai não abriu a boca, ajudou a dar-lhe açúcar, a mãe abraçava-se a todos os desconhecidos, em pânico) e aos bombeiros. Que me contou ela? Já não era a primeira vez que chamava a ambulância, a rapariga era diabética, mas não comia para não engordar…
Conhecem os parques dos IKEA, onde os pais deixam as crianças, enquanto se aviam na loja? A cunhada duma das funcionárias contou-me que nunca lá põe o petiz, e porquê. Parece que muita gente, quando tem os filhos doentes, os deixa no parque; alguns, quando a temperatura começa a subir, nem atende o telefonema da loja.
Será negligência, impossibilidade de faltar ao emprego, o quê? Nada de bom será.
Se ainda andasse por aí a minha avó "in law" Clementina, diria que são sinais do fim do mundo...
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
PARA TODOS, UM NATAL COM SORRISOS
Há publicidades que marcam. Há uns 20 anos, naqueles programas sobre anúncios, deu um pacote duma fábrica de electromésticos. Um comparsa perguntava a outro como era o seu aparelho, e este respondia "É bom... mas não é um Brastemp!!!" (pela mesma altura, em Vila Real, o rapaz do videoclip dizia que um filme bom, mas não extraordinário, era "nojentinho").
Desde então, eu e a Susana dizemos que uma coisa boazinha não é um Brastemp.
Voltei agora a ouvir falar neles, através doutra publicidade engenhosa. 11 rádios de São Paulo, ao mesmo tempo, pediram a quem circulava na rua, que sorrisse para os condutores do lado. Óptima maneira de começar a manhã, sorrindo para os desconhecidos, e receber um sorriso de volta. Aqueles milhares de paulistas devem ter passado o resto do dia mais alegres.
E não custou nada.
E já agora, TENHAM UM NATAL BRASTEMP.
Desde então, eu e a Susana dizemos que uma coisa boazinha não é um Brastemp.
Voltei agora a ouvir falar neles, através doutra publicidade engenhosa. 11 rádios de São Paulo, ao mesmo tempo, pediram a quem circulava na rua, que sorrisse para os condutores do lado. Óptima maneira de começar a manhã, sorrindo para os desconhecidos, e receber um sorriso de volta. Aqueles milhares de paulistas devem ter passado o resto do dia mais alegres.
E não custou nada.
E já agora, TENHAM UM NATAL BRASTEMP.
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
ASSIM NÃO BRINCO!!!
Correio da Manhã, hoje:
O fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, que abalou o Mundo ao revelar milhares de documentos confidenciais em nome da liberdade de informação, queixa-se agora de estar a ser vítima de "fugas de informação maliciosas".
Em causa está a revelação pelo jornal britânico ‘The Guardian’ – um dos cinco jornais mundiais escolhidos por Assange para divulgar os telegramas diplomáticos dos EUA – de pormenores sobre o processo judicial em que é acusado, por duas suecas, de violação. Assange considerou isso uma traição e, ontem, numa entrevista ao ‘The Times’, criticou duramente o ‘The Guardian’, que acusou de "publicar selectivamente" partes do processo judicial contra si na véspera da sua audiência em tribunal, na semana passada. "Esta fuga de informação foi claramente pensada para prejudicar o meu pedido de libertação sob fiança", afirmou o fundador do WikiLeaks, adiantando: "Claramente, alguém com autoridade pretendia manter-me na prisão."
Ora, portanto, Assange não gosta de fuga de informações, que os jornais seleccionem o material que publicam, de acordo com o interesse jornalístico, e retirem as coisas do contexto... safados.
domingo, 19 de dezembro de 2010
KISSINGER E A PORTEIRA
O José António saraiva tinha uma crónica no Expresso em que acertava sempre, porque fazia um prognóstico e o seu contrário: fulano vai ganhar, mas também vai perder, sicrano está certo, mas também está errado, a decisão é boa, mas faz mal...
É assim que eu vejo o WikiLeaks.
É perigoso e errado publicitar quais os lugares considerados mais sensíveis para a segurança dos Estados, dirigindo-lhes os holofotes. Assim como é mais próprio de alcoviteira a divulgação de considerandos sobre a vida privada ou do carácter de políticos - que interessa o gosto do Berlusconi por boas companhias? Há ainda que ter em conta que algumas das informações podem não ser verídicas, é suposto 'checá-las' – e alguns jornais conseguiram provar a impossibilidade de algumas delas estarem correctas.
Mas há o outro prisma: confirma-se que a diplomacia (no caso, americana) também se faz com o “diz-que-disse” e conversas de alcova, que a linguagem é pouco polida - o candidato do BE/PS é chamado de Alegressaurius - e que a análise é tão profunda como a dum treinador de sofá, pois o retrato que chega a Washington é bem desfocado: desde quando é que Portas é um líder altamente respeitado (tirando os seus eleitores)?
Confirma-se ainda que a realpolitik de Henry Kissinger está vivinha da silva: já não se apadrinham golpes de estado (?), mas seguram-se regimes corruptos e autoritários em troca de negócios ou apoio logístico-militar. Um exemplo apenas: a embaixada no Usbequistão afirma que a família do presidente é fulcral no crime organizado da Ásia central, mas a prioridade é manter a aliança, pois o país é usado como plataforma logística na guerra do Afeganistão. Outro Noriega, décadas depois.
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
BOLO TÁRTARO
É possível não ser psicopata e desejar que a filha tenha um bocadinho de dor? É.
A minha 'mai velha foi ontem ao dentista. Já lá fora reparar os dentes da frente, que partiu... 2 vezes. Mas agora foi tratar a sua primeira cárie.
Nada inesperado, quase não há dia em que não coma "porcarias" (padre, pequei, porque o permiti... mas muito faço eu, que lhe como os saquinhos de rebuçados que traz das festas de anos!!!).
E sim, torci para que a experiência a afectasse, de modo a reduzir o consumo de açucar*. Mas a única reacção foi tapar os ouvidos, por causa da broca. Dor, nenhuma.
Isso era dantes, agora há compósitos, luzinhas endurecedoras, adesivos, corantes e anestesias eficazes. Antes havia umas macroseringas e uns alicates, ir ao dentista era pouco agradável. mesmo para estóicos como eu que não tugia nem mugia na cadeira. Só falar no "ferro-de-engomar" (um prédio antigo e bem apessoado no Cartaxo, triangular) petrificava.
Bem, e já que regresso à infância, havia uma palavra pior que ferro-de-engomar: Ripilau. Há palavras que vos causam calafrios? Eu tenho uma, Ripilau.
Bom aluno, não passava vergonhas. Excepto num dia de tormenta, o da festa anual das escolas num eucaliptal (ou clipal, como dizem uns quantos) perto do Cartaxo – o Ripilau – com competições desportivas interescolas. Corridas em corta-mato, ainda vá, mas porque é que haviam de colocar cordas para os meninos menos ágeis tropeçarem, para gáudio da trupe infante e de todos os paizinhos da urbe?
Não há nome mais certeiro, corrida com obstáculos. Pode um convívio ao ar livre, com direito a merenda e cheiro a resina (seguida de mais provas, chuiff…) causar lesões irreversíveis numa criança?
Talvez venha daí o meu ódio ao desporto. Como uso dizer, se há certezas quanto ao meu desfecho é que ninguém “olha, morreu a fazer desporto”. É que o desporto mata, olhem o Féher.
A minha 'mai velha foi ontem ao dentista. Já lá fora reparar os dentes da frente, que partiu... 2 vezes. Mas agora foi tratar a sua primeira cárie.
Nada inesperado, quase não há dia em que não coma "porcarias" (padre, pequei, porque o permiti... mas muito faço eu, que lhe como os saquinhos de rebuçados que traz das festas de anos!!!).
E sim, torci para que a experiência a afectasse, de modo a reduzir o consumo de açucar*. Mas a única reacção foi tapar os ouvidos, por causa da broca. Dor, nenhuma.
Isso era dantes, agora há compósitos, luzinhas endurecedoras, adesivos, corantes e anestesias eficazes. Antes havia umas macroseringas e uns alicates, ir ao dentista era pouco agradável. mesmo para estóicos como eu que não tugia nem mugia na cadeira. Só falar no "ferro-de-engomar" (um prédio antigo e bem apessoado no Cartaxo, triangular) petrificava.
Bem, e já que regresso à infância, havia uma palavra pior que ferro-de-engomar: Ripilau. Há palavras que vos causam calafrios? Eu tenho uma, Ripilau.
Bom aluno, não passava vergonhas. Excepto num dia de tormenta, o da festa anual das escolas num eucaliptal (ou clipal, como dizem uns quantos) perto do Cartaxo – o Ripilau – com competições desportivas interescolas. Corridas em corta-mato, ainda vá, mas porque é que haviam de colocar cordas para os meninos menos ágeis tropeçarem, para gáudio da trupe infante e de todos os paizinhos da urbe?
Não há nome mais certeiro, corrida com obstáculos. Pode um convívio ao ar livre, com direito a merenda e cheiro a resina (seguida de mais provas, chuiff…) causar lesões irreversíveis numa criança?
Talvez venha daí o meu ódio ao desporto. Como uso dizer, se há certezas quanto ao meu desfecho é que ninguém “olha, morreu a fazer desporto”. É que o desporto mata, olhem o Féher.
Sempre fui assim, pelos 8 anos o meu pai chamava-me juiz de linha, porque os outros jogavam à bola e eu levava uma cadeira de lona para assistir...
Pronto, psicopata não, apenas asténico.
* Não funcionou.
* Não funcionou.
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
HÁ SEMPRE ALGUÉM QUE RESISTE, HÁ SEMPRE ALGUÉM QUE DIZ NÃO
Chama-se Liu Xiaobo e devia ter ido hoje a Oslo receber o Nobel da Paz. Não foi porque está preso por actividades subversivas (crime: assinar um manifesto reclamando a democracia; pena: 11 anos), a mulher está em prisão domiciliária desde o anúncio do prémio. Daí as cadeiras vazias no palco e uma cerimónia reduzida a um austero discurso, uma leitura do homenageado e uma salva de palmas por uma plateia trajada de gala e presidida pelos reis da Noruega.
Uma pateada à China, um regime securitário onde, por azar, vive amordaçado um em cada 5 terráquios - uma boa talhada dos talvez 3 biliões que vivem em países sub-livres.
Uma vaia aos 18 países que, pressionados por carta pela China, sob pena de haver "consequências", boicotaram a cerimónia - Rússia (apenas por falta de agenda, afiançaram...), Cazaquistão, Colômbia, Tunísia, Arábia Saudita, Paquistão, Sérvia, Iraque, Irão, Vietname, Afeganistão, Venezuela, Filipinas, Egipto, Sudão, Ucrânia, Cuba e Marrocos.
São uns belos exemplos de países que a China arregimentou para provar que o prémio não representa o desejo da "maioria dos povos do mundo". Ah, e como escreveu Hillary Clinton (num dos papeis delatados pela voyerista Wikileaks), "Como é que que se consegue falar duro com o nosso banqueiro?".
Uma vênia à Noruega, que viu suspensas as negociações comerciais com a China. Só num país com eles no sítio, perdoe-se-me a grosseria, os reis, o governo e o parlamento dão a cara numa cerimónia destas. Aliás, viu-se como cá, há 15 dias, Cavaco e Sócrates estenderam o tapete vermelho a Hu Jintao, à espera de patacas. Com manifestantes suficientemente afastados.
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
O COCHEIRO MAI' RICO DO MUNDO
A última revista do JN traz uma crónica sobre Gaius Appuleius Diocles. Fica-se a saber que houve outro Cristiano Ronaldo há 1900 anos, "a" estrela do seu tempo, que trocou a paisagem lusa pelas arenas romanas, e foi mudando de camisola, primeiro os brancos, depois os verdes e finalmente os vermelhos. Cada equipa tinha hostes de fãs, e claques violentas, o circo máximo enchia (e encher quer dizer 320.000 pessoas) para ver os ídolos jogarem - a saber, darem 7 voltas à praça, sem morrer pelo caminho, debaixo duma ferradura ou duma roda.
O NOSSO homem foi o atleta mais bem pago de sempre: ganhou 35.863.120 sestércios (eta precisão!) durante a sua longa carreira, cerca de 12 mil milhões de euros, o que dava para fornecer trigo a Roma durante um ano ou pagar a pré a toda a ralé do exército imperial durante 2 meses e meio. Qual Ronaldo, qual Tigger Woods, rico era o Gaio.
A estatística ficou lavrada num monumento erguido pelos colegas e fãs, quando o corredor de quadrigas se reformou em 146dc, "aos 42 anos, 7 meses e 23 dias": parece que o campeão venceu 1462 das 4527 provas em que participou, liderou 815 corridas desde o início, em 67 vezes chegou à liderança nas últimas voltas e em 36 corridas sagrou-se vencedor na recta final.
O The Telegraph (onde o jornalista foi buscar "toda" a inspiração) cita o autor do estudo sobre Diocles, um tal Peter Struck, professor de estudos clássicos da univ. de Chicago, que afirmou que o desportista mais bem pago da história era luso-hispânico. Espanhol o tanas.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
SÃO NÚMEROS, SENHOR, SÃO NÚMEROS!!!
Reinava D. Maria a segunda, no ano da graça de 1849, quando foi criado o Tribunal de Contas. Desde essa altura que se estima o que se deve. E assim se conclui que a dívida pública actual é a mais alta dos últimos 160 anos. Mesmo em 1890, quando Portugal assumiu a bancarrota parcial, os números não tocaram o tecto. E nessa altura não havia empresas estatais e parcerias público-privadas, responsáveis hoje por mais 23 e 30 pontos de dívida, em percentagem do PIB. Como diria o Guterres, é fazer as contas, 90+23+30=143% do PIB (aqui que ninguém nos ouve, no fim do "tenebroso" consulado do Santana, a dívida estava na casa dos 60%).
E a dívida sobe a cada minuto.
É grave? Não. Sócrates acusa os jornalistas que o questionam dia-sim-dia-sim de estarem "obcecados" com as contas públicas e insiste que "Portugal não precisa de ajuda de ninguém".
Não fosse trágico, o optimismo do PM é tão hilariante como a responsável da fábrica Imperial explicar que o reinício da produção do mítico chocolate COMACOMPÃO visa um público preocupado com a saúde e bem-estar (sic). Vai-se a ver, quem perguntar se comer um papo-seco com uma talhada de chocolate não faz mal, é acusado de hipocondria...
terça-feira, 23 de novembro de 2010
PAGA E NÃO BUFA???
Há muitas razões para se participar na greve geral de 24/11, e muitas explicações para não o fazer.
Uma amiga esclareceu “fiz todas as greves dos professores no ano passado, e a maralha depois foi votar no Sócrates, quando ele voltou a ganhar prometi não fazer mais greves”. Tá certa.
Um colega respondeu “não vou deixar que o governo me retire mais um bocado do meu salário, já chega”. Há até um lado positivo, os grevistas do Estado vão ajudar a controlar o défice, são milhões de euros que o governo vai poupar por não pagar o dia aos grevistas – é uma espécie de reedição ao contrário daquele dia que o Vasco Gonçalves instituiu em 1975, em que todos os portugueses trabalhariam de graça em prol do país. E ainda vai tudo aproveitar para fazer compras pró Natal, põe a economia a carburar.
Uma operária justificou-se com um “não ganho o suficiente para prescindir dum dia de salário” e uma colega minha explicou “a greve não serve para nada, fica tudo na mesma”.
Terão todos a sua razão.
Mas conhecem a expressão “cala e não bufa”? O povo paga a crise, mas ou come-e-cala, ou reclama do preço. A greve é isso, é a alternativa mais ruidosa – das não violentas – para bufarmos.
... enquanto isso, o Estado é zeloso:
. A administradora da Fundação Guimarães Cidade Europeia da Cultura (onde o trabalho é intenso e altamente qualificado, presumo) resolveu reduzir o salário em 30%... para 10000 euros mensais.
. Um assessor dum ministério acumula o salário principesco com o subsídio de desemprego recebido por atacado para fundar uma empresa que não iniciou actividade.
. A assessora de imprensa da ministra da saúde ganha mais que a ministra, vários milhares de euros mensais.
. O PS votou uma alínea do orçamento que isenta da redução salarial o sector empresarial do Estado, dadas as suas especificidades…
Uma amiga esclareceu “fiz todas as greves dos professores no ano passado, e a maralha depois foi votar no Sócrates, quando ele voltou a ganhar prometi não fazer mais greves”. Tá certa.
Um colega respondeu “não vou deixar que o governo me retire mais um bocado do meu salário, já chega”. Há até um lado positivo, os grevistas do Estado vão ajudar a controlar o défice, são milhões de euros que o governo vai poupar por não pagar o dia aos grevistas – é uma espécie de reedição ao contrário daquele dia que o Vasco Gonçalves instituiu em 1975, em que todos os portugueses trabalhariam de graça em prol do país. E ainda vai tudo aproveitar para fazer compras pró Natal, põe a economia a carburar.
Uma operária justificou-se com um “não ganho o suficiente para prescindir dum dia de salário” e uma colega minha explicou “a greve não serve para nada, fica tudo na mesma”.
Terão todos a sua razão.
Mas conhecem a expressão “cala e não bufa”? O povo paga a crise, mas ou come-e-cala, ou reclama do preço. A greve é isso, é a alternativa mais ruidosa – das não violentas – para bufarmos.
... enquanto isso, o Estado é zeloso:
. A administradora da Fundação Guimarães Cidade Europeia da Cultura (onde o trabalho é intenso e altamente qualificado, presumo) resolveu reduzir o salário em 30%... para 10000 euros mensais.
. Um assessor dum ministério acumula o salário principesco com o subsídio de desemprego recebido por atacado para fundar uma empresa que não iniciou actividade.
. A assessora de imprensa da ministra da saúde ganha mais que a ministra, vários milhares de euros mensais.
. O PS votou uma alínea do orçamento que isenta da redução salarial o sector empresarial do Estado, dadas as suas especificidades…
. 5 milhões de equipamento de segurança chegam depois da cimeira da nato, a razão da sua compra.
. Parece que somos fiadores da Irlanda, se ela não pagar o empréstimo de 1500M€, a gente paga ahahaha.
. A pièce de résistance, Timor – um dos países mais pobres do mundo, a quem Portugal ajuda há anos – pondera investir parte do seu fundo petrolífero na nossa dívida pública. Amor com amor se paga. Não têm vergonha?
. Parece que somos fiadores da Irlanda, se ela não pagar o empréstimo de 1500M€, a gente paga ahahaha.
. A pièce de résistance, Timor – um dos países mais pobres do mundo, a quem Portugal ajuda há anos – pondera investir parte do seu fundo petrolífero na nossa dívida pública. Amor com amor se paga. Não têm vergonha?
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
SURPRESA!!!
Como dizia a mãe do Forrest Gump, a vida é como uma caixa de chocolates, nunca sabemos o que vem lá dentro. Eu diria isso dos livros, volta-não-volta temos umas surpresas. Cá vamos.
Deve acontecer com toda a gente, compro livros ou porque já li outros do mesmo escriba, ou pelas capas, ou pelo resumo, ou pelos comentários entusiastas da contracapa, ou ainda porque alguém me falou nele, ou por causa de entrevistas que calha ver.
Deve acontecer com toda a gente, compro livros ou porque já li outros do mesmo escriba, ou pelas capas, ou pelo resumo, ou pelos comentários entusiastas da contracapa, ou ainda porque alguém me falou nele, ou por causa de entrevistas que calha ver.
Pois o que estou a ler, comprei depois de ver a entrevista do Mário Crespo ao director do Expresso, Henrique Monteiro. A personagem é uma velha com 88 anos, que vai galgando assuntos, repassa uma vida intensa desde a guerra civil espanhola, enquanto vê o mar da sua cadeira.
Fui convencido quando o autor leu na SIC notícias o parágrafo que encerra um capítulo.
“É triste que não morramos duma vez, mas aos poucos. E a parte mais triste é sempre aquela que persiste em viver. A minha cabeça mantém-se fora do mar, mas quase todo o corpo já se afogou. Sou, pois, uma náufraga de mim própria, à qual, já não podendo retirar o resto do corpo da água, resta esperar que a maré suba, de modo a afogar-lhe o que falta. Ou ter a ousadia de mergulhar…”
Promete, não promete?
Estava preparado para tudo, menos para o parágrafo anterior, a razão daquela metáfora: a senhora quis tocar nas partes íntimas e deparou-se com a fralda.
Não sei se interessa para o caso, Monteiro Henrique escreveu o romance (é assim-assim) em duas quinzenas, como conta na última página…
n.r.: Salvador Dali 1929
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
CONTAS DE MERCEARIA
Seis em cada dez euros da contenção orçamental em 2011 vão ser pagos pela generalidade da população - os pensionistas e os funcionários públicos vão ser duplamente penalizados.
O Estado retrairá a sua actividade pagando três dos dez euros.
As empresas, incluindo a banca e investidores mobiliários pagarão o um euro que falta para o “bolo” anunciado.
PROMETEM EM POESIA.
GOVERNAM EM PROSA.Mário Cuomo
PROMETEM EM POESIA.
GOVERNAM EM PROSA.Mário Cuomo
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