Li algures que os miúdos gostam de ver os mesmos DVD vezes sem conta (sei na pele, há dias revi o Shreck 1, e ainda sabia as falas de cor) por conforto: têm uma sensação de segurança, pois conseguem prever as situações. O que é que tem um ogre verde a ver com a religião, tirando algumas personagens aterradoras das igrejas? A segurança.
Tenho cá a impressão que a religião foi inventada por uma mão cheia de razões, i.e, contam-se pelos dedos.
No polegar, está a tal segurança: existe um ou vários Pais poderosos, a quem podemos recorrer em apertos. Esse Pai dá a chuva se o romano matar um borrego, se um asteca degolar um homem, se pedirmos com muita força ou se prometermos algo em troca. Isso faz-me alguma confusão, é suposto o pai dar o que pode sem pedir tornas. Também me faz espécie que um Pai, ainda por cima Todo Poderoso, nos deixe dar todas as cabeçadas e deixe a conversa para o dia do Juízo Final.
A razão do indicador é vicariante, ou seja, se o medievo leva no lombo do seu bailio, “lá em cima” viverá como um nababo, o leproso ou o anão gozado pelas crianças da sua rua terão um lugar ao pé dos anjinhos, a 2 nuvens da mesa dos doces. Aguenta, que serás recompensado ou, mais bíblicamente, dos pobres será o reino dos céus.
A razão do dedo médio é inversa da anterior, será feita justiça, o amo frustrado e rancoroso há-de pagá-las – noutro lado, porque cá em baixo vai morrer velhinho a meio do sono. Aqui há um problema, vai directamente para o Inferno, sem passagem pela casa da partida, ou espera pelo dia do Juízo Final (João XXII escreveu sobre o paradoxo, e teve que se retratar no leito de morte)? Afinal, pode ser que a Justiça divina seja como a portuguesa, demora uma eternidade. Só espero que não haja prescrições…
O quarto motivo, no anelar, é a absolvição. Este é o pior argumento: é-se canalha uma semana inteira, e ao domingo come-se uma rodela de pão, pede-se desculpa, beija-se o próximo e no dia seguinte volta tudo ao mesmo. Conheço quem chegasse ao cúmulo de declarar “só peço a Deus para me perdoe o que vou fazer”, ‘tá tudo dito.
Por fim, no mindinho, está um código de conduta, a noção de Bem e de Mal. Claro que varia entre religiões e ao longo da história: como diria Pimenta Machado, o que é hoje verdade, amanhã é mentira. Julgo, porém, que nos Livros (Bíblia e Corão) a violência é má e devemo-nos amar uns aos outros. Julgo. E bastam só cinco ou seis regras: não roubar, não matar, não trair, no sentido lato, e a trilogia da revolução francesa, liberdade, igualdade entre todos (os brâmanes faltaram a esta aula!) e a fraternidade.
Mas não. O homem tomou conta, levou o Livro à letra ou viu o que não está lá, e exagerou nas regras, geralmente começadas por NÃO: não comer porco, não comer vaca, não comer durante 40 dias, não mostrar o cabelo, não dzzzz antes do casamento, não usar preservativo.
Não falo no Islão, não vá alguém ganhar 70 virgens à minha custa, a igreja católica já tem que se lhe diga: o sacerdócio exclusivo dos homens ou o celibato dos padres (só desde Gregório VII) existem porque SIM. Para não falar na resma de papas, cardeais e bispos com afilhados, alguém me garante que Pedro era solteiro, ou que Jesus não tinha uma amizade colorida com Maria de Magdala?
A propósito, a história não bate certo. Imaginem: “Zé, ‘tou grávida”, “Mas Maria, estive estes meses na Nazareth a construir zimmers…”, “Foi o Espírito Santo”, “Ah bom… espero que seja menina, queria ter uma Sandra Salomé”.
Assinado: Agnóstico às segundas, terças e quintas
P.S. Senhor, a existires, perdoa-me, a culpa é da hipoglicémia. Aliás, Bora-Bora é prova que Tu existes.
Tenho cá a impressão que a religião foi inventada por uma mão cheia de razões, i.e, contam-se pelos dedos.
No polegar, está a tal segurança: existe um ou vários Pais poderosos, a quem podemos recorrer em apertos. Esse Pai dá a chuva se o romano matar um borrego, se um asteca degolar um homem, se pedirmos com muita força ou se prometermos algo em troca. Isso faz-me alguma confusão, é suposto o pai dar o que pode sem pedir tornas. Também me faz espécie que um Pai, ainda por cima Todo Poderoso, nos deixe dar todas as cabeçadas e deixe a conversa para o dia do Juízo Final.
A razão do indicador é vicariante, ou seja, se o medievo leva no lombo do seu bailio, “lá em cima” viverá como um nababo, o leproso ou o anão gozado pelas crianças da sua rua terão um lugar ao pé dos anjinhos, a 2 nuvens da mesa dos doces. Aguenta, que serás recompensado ou, mais bíblicamente, dos pobres será o reino dos céus.
A razão do dedo médio é inversa da anterior, será feita justiça, o amo frustrado e rancoroso há-de pagá-las – noutro lado, porque cá em baixo vai morrer velhinho a meio do sono. Aqui há um problema, vai directamente para o Inferno, sem passagem pela casa da partida, ou espera pelo dia do Juízo Final (João XXII escreveu sobre o paradoxo, e teve que se retratar no leito de morte)? Afinal, pode ser que a Justiça divina seja como a portuguesa, demora uma eternidade. Só espero que não haja prescrições…
O quarto motivo, no anelar, é a absolvição. Este é o pior argumento: é-se canalha uma semana inteira, e ao domingo come-se uma rodela de pão, pede-se desculpa, beija-se o próximo e no dia seguinte volta tudo ao mesmo. Conheço quem chegasse ao cúmulo de declarar “só peço a Deus para me perdoe o que vou fazer”, ‘tá tudo dito.
Por fim, no mindinho, está um código de conduta, a noção de Bem e de Mal. Claro que varia entre religiões e ao longo da história: como diria Pimenta Machado, o que é hoje verdade, amanhã é mentira. Julgo, porém, que nos Livros (Bíblia e Corão) a violência é má e devemo-nos amar uns aos outros. Julgo. E bastam só cinco ou seis regras: não roubar, não matar, não trair, no sentido lato, e a trilogia da revolução francesa, liberdade, igualdade entre todos (os brâmanes faltaram a esta aula!) e a fraternidade.
Mas não. O homem tomou conta, levou o Livro à letra ou viu o que não está lá, e exagerou nas regras, geralmente começadas por NÃO: não comer porco, não comer vaca, não comer durante 40 dias, não mostrar o cabelo, não dzzzz antes do casamento, não usar preservativo.
Não falo no Islão, não vá alguém ganhar 70 virgens à minha custa, a igreja católica já tem que se lhe diga: o sacerdócio exclusivo dos homens ou o celibato dos padres (só desde Gregório VII) existem porque SIM. Para não falar na resma de papas, cardeais e bispos com afilhados, alguém me garante que Pedro era solteiro, ou que Jesus não tinha uma amizade colorida com Maria de Magdala?
A propósito, a história não bate certo. Imaginem: “Zé, ‘tou grávida”, “Mas Maria, estive estes meses na Nazareth a construir zimmers…”, “Foi o Espírito Santo”, “Ah bom… espero que seja menina, queria ter uma Sandra Salomé”.
Assinado: Agnóstico às segundas, terças e quintas
P.S. Senhor, a existires, perdoa-me, a culpa é da hipoglicémia. Aliás, Bora-Bora é prova que Tu existes.
Luis Duarte,
ResponderEliminarComo ateu durante toda a semana, sorri em concordância durante a leitura todo o texto.
Um senão: apenas Salsichas com Couve Lombarda me levam a ponderar a sua existência. Como é possível um tão simples prato ser divinal? a existência de deus é uma hipotese.
abraços