sábado, 30 de julho de 2011

SACOS HÁ MUITOS

eroting shopping 
 aspe crime stories
 shumensko beer crate
 vw golf
 greenpeace
 children with autism
 stop'n'grow - nailbiter
 panadol
 cruz vermelha
 gaia - animal torture
 ReVital
 ykm - jump rope
 yulia timoshenko (p.m. ucrânia)
 blush lingerie - x-ray bag
 floating magic-i bag
 wheaties
 alinna
 tom of finland
 samsung
karl lagarfeld


LUCIAN FREUD

Em 2008, um bilionário sem ter o que fazer ao dinheiro (suspeito nº 1, Roman Abramovich) sacou de 23 milhões de euros para comprar um quadro que retrata uma chefe da segurança social com 127 kg, Sue Tilley de sua graça.
Nesse dia, foi batido o record de transação duma obra com o autor vivo. O pintor era Lucian Freud (Berlim 1922-Londres 2011), e morreu no dia 20 de Julho.
O neto do criador da psicanálise iniciou a sua carreira inspirado pelos surrealistas (em particular Magritte), mas na década de 50 aterrou no figurinismo e começou a pintar pessoas, principalmente nus. A maioria dos modelos eram amigos, conhecidos e familiares. A quem se insurgiu com as telas das filhas nuas, respondeu "o modelo e eu estamos interessados em fazer pintura, não amor".
E na prole, havia muita escolha: se o número 12 é seguro, li algures que poderá ter gerado 40 filhos, prometendo assumi-los quando chegassem à maioridade.    
Um dos quadros mais polémicos nem foi um nu, mas o retrato da rainha Isabel, que súbditos mais escandalizados disseram que parecia um travesti. Está nas colecções reais, provavelmente atrás dum régio reposteiro.
Na maioria dos casos são telas bastante empastadas, consta mesmo que Freud usava as telas para limpar os pincéis.
Um dos quadros dele (Naked girl with egg, tendo como modelo uma amante) pode ser visto agora na sede portuense da Fundação EDP, numa exposição intitulada "My choice" - com as 87 obras mais "prazeirosas" que Paula Rego (que tem evidentes traços em comum com Freud) encontrou no acervo do British Council. Até 23 de Outubro.

 Benefit's supervisor sleeping (1995)
 Naked man - back view (1992)
 Naked man on bed (1989)
 Evening in the studio (1993)
 Naked girl with egg (1980/81)
 Dormeurs

Reflection (self portrait 1985)
 Painter working, Reflection (1993)
Elizabeth II (2000/01)

terça-feira, 26 de julho de 2011

OS MEUS AVÓS SÃO MELHORES QUE OS TEUS


Os avós nunca partem, é o título dum texto (Tabu, 22.7.2011) a propósito do Dia dos Avós, 26 de Julho, também dia de Sant'Ana, a mãe de Maria.
Aí, Lídia Jorge conta que as lembranças da avó são "toques de amor que nós trazemos na mochila das reservas boas da nossa vida".
Assino por baixo.

Um casamento unia as famílias dos meus avós maternos, a assim se conheceram, na Arriaga. Namoraram em Alcântara, onde o meu avô se cruzava com uma Amália teenager a vender limões. Depois foram para África, onde ele foi Intendente, tipo responsável administrativo das terras.
Passávamos as férias grandes na casa deles em Lisboa, um andar antigo (numa das janelas, alguém riscou 1869) e gigantesco - a casa de baixo era uma pensão, dá para imaginar o tamanho -, com tectos altos de estuque e um sapateiro (o Sr. Francisco) no átrio do prédio. É impressionante a quantidade de bites que guardamos no arquivo morto, como a amnésica "peixa" do Nemo e o seu 'sidney, wallaby street', ainda sei a morada, rua vieira da silva, 119, 2º dto.
As viagens eram, claro, todos a dormir em cima uns dos outros, não havia cintos de segurança.
Não nos enchiam de prendas, eram poupados como todos nesse país a preto e branco: lembro bem a minha avó, ao regressar da rua, sentar-se à escrivaninha com a sua parker cinza a assentar os gastos todos numa agenda, parcela a parcela - herdei o móvel, a caneta e o hábito.
Lembro o fascínio das escadas rolantes do Grandella, o eléctrico 19 e os autocarros verdes de 2 andares, e recordo os mimos, as farpas do chão de soalho catadas nas mãos, os dentes arrancados a cordel, a permissão "de quando em vez" para ir buscar rebuçados à caixa verde (que, muitos anos depois, ainda conservava o cheiro) ou os Santo Onofre à mesa-de-cabeceira da bisavó, ou para comer colheradas de açucar amarelo do boião; relembro a lata de tostas e o chá de limão, a espera em frente ao grão da tv, pelo início da antena, os serões com a minha avó a fazer casacos de lã, numa cadeira de palhinha, as mini-formas de bolos para os lanches da bonecada, as rodelas de cenoura a boiar na sopa. Dias simples.
E quando vínhamos embora (ou quando eles abalavam no seu carocha), lá as 3 criancinhas choravam – como fazem os meus filhos agora, quando a avó e as tias vão embora…

Nunca os vi amuados um com o outro, a discutir ou levantar a voz, o que não sucede(u) nas gerações seguintes. Disseram um dia que não queriam ficar cá quando o outro partisse, e o grande arquitecto fez-lhes a vontade, sem pré-aviso: há 24 anos, tiveram um acidente de carro à entrada do Cartaxo (para onde se tinham mudado 1 mês antes, tinham ido mudar os BIs), ele morreu dois dias depois, pelas 6 da tarde, ela foi uma semana inteirinha depois dele, à mesma hora.
Claro que gostava que a história fosse diferente e eles tivessem cá ficado (muito) mais tempo.
Mas houve um prémio de consolação: aos 15 anos, as pessoas ainda não têm sombras, os nossos avós sabem tudo, são uns heróis sem calcanhares de Aquiles, com quem gostamos de passar o tempo, a ouvir estórias antigas, jogar krapô ou batalha naval, antes de passarmos a preferir estar com os amigos. Sem problemas, sem defeitos e fraquezas, sem as maleitas da velhice (essa kriptonite), sem precisarem eles de ajuda.
Assim, vejo-os como via aos 15 anos. Imaculados. Luminosos. Perfeitos.
Como nunca conheci outrém.

E agora, um brinde aos avós:
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domingo, 24 de julho de 2011

O MUNDO A CAMINHO DO DIVÃ


O Mundo precisa de psicanálise - bem, não é o mundo todo, só o 1º mundo. Pistas?
Marc Auge é aquele antropólogo que crismou em 1992 a expressão "não-lugar" para definir os sítios enxameados de gente mas sem malha social que a relacione, como os aeroportos. Conta ele que a modernidade está em aceleração, o mundo mais pequeno e descentrado - sejam as cidades, cujo centro esvazia, sejam os lares, em cujo centro estão a tv e o computador, o que os liga ao exterior.
O escritor Philip Roth é mais apocalíptico, ao profetizar o fim da era literária: haverá leitores em cada país, mas como um culto, a generalidade das pessoas já não terá a literacia, o 'focus' e a concentração para ler 3 horas todas as noites e acabar um livro em 2 semanas.
A palavra que retive foi a (falta de) concentração. A minha amostra faz o favor da a confirmar: as crianças têm tantos estímulos que não fixam a atenção em coisa nenhuma - nós antigamente tínhamos 2 canais e víamo-los, elas agora têm 50 e nunca param, andam num constante zapping.
A minha filha tem mais livros que uma carrinha da Gulbenkian, já vai em 2 bicicletas, 2 trotinetas, 2 pares de patins, uma playstation, um gameboy e uma nintendo, com jogos que nunca experimentou; agora, quer uma psp3. E entedia-se, não sabe o que há-de fazer.
Cheira-me que a facilidade com que obtêm tudo o que querem, à 1ª ou à 10ª tentativa, terá o seu preço...
Embora cresçam mais depressa e saibam muito mais, e de muito mais coisas, que nós quando tínhamos a idade deles, os petizes são menos independentes e preparados: mais habilitados, mais polivalentes, mais adaptados a tecnologias (para nós, tecnologia era fazer um carro de rolamentos), com mais mundo, mas sem conhecerem a limitação, o esforço e a frustração, naturais no crescimento.
Há tempos, contava a uma amiga que esta gente chega aos 23 e têm um choque, quando não tiverem emprego - é que os actuais 27.8% de desemprego da população entre 15 e 24 anos (8.5% dos licenciados), não tende a descer. Resposta, "que bom, o meu marido é psicólogo com especialidade em depressão, vai ter muito trabalho".
No dia seguinte, bem a propósito, mandou-me um texto de Eliane Brum intitulado Meu filho, você não merece nada.
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sábado, 23 de julho de 2011

OBRAS DE SANTA ENGRÁCIA





Em 1568, uma filha de D. Manuel,  a infanta D. Maria, devota de Santa Engrácia e possuindo uma relíquia dela (pois...), resolveu dedicar-lhe uma igreja fora das muralhas de Lisboa. A construção começou em 1570, mas a igreja era muita pequenina e, nos primeiros anos de 80, o invasor Filipe resolveu fazer uma coisa maiorzinha.
Em 1630, alguém roubou o sacrário da igreja-estaleiro. Nada como culpar um cristão-novo que viram por ali: Simão Solis recusou dar um álibi (estaria metido com uma monja dali perto), e foi queimado na fogueira, não sem antes praguejar "é tão certo eu estar inocente, como as obras desta igreja nunca acabarem". Foi quase.
Uma irmandade (a Confraria dos escravos do Santíssimo Sacramento, composta pelo rei e 100 nobres fidalgos, para expiar o pecado do roubo) resolveu andar com as obras para a frente, mas foi complicado: primeiro um raio deu cabo da capela-mor em 1681, voltando tudo ao início no ano seguinte, mas em maior, com o arquitecto João Antunes; depois foi João V que desviou as suas atenções para a construção do seu convento de Mafra; o Marquês de Pombal ainda mostrou interesse pela empreitada, nomeando responsável o seu irmão Paulo de Carvalho e Mendonça, mas depois da morte deste a coisa voltou a empatar.
No século XIX, surgiu a intenção de criar um panteão, para 'alojar' os heróis da Pátria. Almeida Garrett propôs os Jerónimos, mas a ideia não pegou. Com o advento da República, aí sim, decidiu-se finalmente: em 1916, a igreja de Santa Engrácia era o Panteão.
Foi feito um concurso para acabar a 'casa de todos os deuses', numa contenda entre quem queria acabar simplesmente a obra, pondo a cúpula que faltava (inspirada nos modelos francês e clássico), ou fazer um projecto mais elaborado. A falta de escudos resolveu a disputa: acabe-se o tecto.
Só havia um problema, a igreja estava ocupada... por uma fábrica de sapatos. E, no meio da guerra mundial, eram precisos sapatos para as tropas. Está bom de ver, a fábrica foi ficando.
Veio Salazar, e as obras foram-se fazendo devagarinho: o que interessava à propaganda eram os monumentos que galvanizassem a nação, associados ao nascimento de Portugal, à epopeia marítima e à restauração - essencialmente românicos e góticos, o período barroco não era prioridade.
Mas lá terminou: em 1966, temos cúpula. Nunca foi é igreja, a única missa lá celebrada durante 3 séculos foi a do 7º dia da morte de Salazar.

E lá estão os escritores Guerra Junqueiro, Aquilino Ribeiro, Almeida Garrett e João de Deus, os presidentes Manuel da Arriaga, Teófilo Braga, Sidónio Pais e Óscar Carmona, o candidato Humberto Delgado... e a Amália.
Podíamos ter aprendido com os franceses: ao início, punham e tiravam os 'restos' de republicanos (como o jacobino Marat), conforme o lado que estava na mó-de-cima, até decidiram que ninguém podia ir para o panteão até 7 anos após a morte, para a poeira assentar e ver-se a frio se merecia a honra.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

NÃO SEJAS ANORMAL!


Mordillo
  
A NORMALIDADE É TÃO SOMENTE
UMA QUESTÃO DE ESTATÍSTICA.
Aldous Huxley
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segunda-feira, 18 de julho de 2011

LIVE FAST & DIE YOUNG... (série Menina Não entra)


Esperei por ela como um amante, como um noivo antes das núpcias, calcorreando o quarto, verificando o gelo do Dom Pérignon 1953 vintage e borrifando a suite com Chanel nº 5”.
Assim descreveu Bert Stern a espera de 5 horas por Marilyn Monroe (1926-62) e pela sua cabeleireira, para uma maratona de fotografias para a Vogue, que durou 12 horas (em 1 ou 3 sessões, fiquei sem saber) na suite 261 do hotel Bel-Air, em Junho de 1962.

Nessas horas, Marilyn ‘vestiu’ colares, lenços, 2 mega-rosas fornecidas pela revista (e, a espaços, alguns vestidos), “bebeu galões de Dom Pérignon, embebedou-se e adormeceu”, enquanto Stern não largou a câmara.
A própria Marilyn rejeitou várias fotografias, traçando os negativos com uma caneta vermelha, e odiou ver a sua cicatriz na barriga, resultado duma operação recente à vesícula.
Foram mais de 2500 fotografias – numa sessão que ganhou o nome The Last Sitting - e ficaram muitos anos na gaveta. Algumas viram a luz do dia em 1982, umas foram parar à Playboy, e a maioria apenas saiu do armário no início do milénio. Cerca de 60 entraram num roadshow que passou pelo Centro Cultural de Cascais, numa exposição que acabou ontem.
São fotografias muito bonitas, um crédito do fotógrafo e da actriz. Lá estão a sensualidade, a vulnerabilidade (tendo a nudez um duplo sentido metafórico), mas em primeiro plano uma tristeza e um cansaço no olhar, físico, etílico e emocional. Por essa altura, os melhores amigos da Marilyn não eram os diamantes, eram os barbitúricos.
Curiosamente, décadas depois, outra actriz com instintos auto-destrutivos fez um remake desta sessão fotográfica, Lindsay Lohan. Sem lhe chegar aos pés.
Foi a sua última sessão: 6 semanas depois, a actriz morria de overdose*.
E assim ficou eternamente bela.

* Para os adeptos de conspirações à Oliver Stone, foi assassinada para não revelar os casos que tinha/tivera com o presidente JFK e depois com o seu irmão Bob Kennedy (procurador-geral).
A história mete a máfia que queria chantagear os Kennedys (Monroe terá encontrado na véspera, numa casa de Sinatra, o capo Sam Giancana – que também patrocinara bacanais dos irmãos John, Bob e Ted, e do seu cunhado, no hotel Carlyle de NY).
Contribui para o enredo uma ambulância que esperava à porta antes do alarme, a aus~encia de água ou copo perto dos comprimidos, a autópsia desaparecida que não encontrara nada no estômago, o último telefonema para o psicanalista, o sumiço das gravações telefónicas, as ameaças aos amigos que não ficaram contentes com a história oficial.












e o remake de Lindsay Lohan

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