domingo, 24 de julho de 2011

O MUNDO A CAMINHO DO DIVÃ


O Mundo precisa de psicanálise - bem, não é o mundo todo, só o 1º mundo. Pistas?
Marc Auge é aquele antropólogo que crismou em 1992 a expressão "não-lugar" para definir os sítios enxameados de gente mas sem malha social que a relacione, como os aeroportos. Conta ele que a modernidade está em aceleração, o mundo mais pequeno e descentrado - sejam as cidades, cujo centro esvazia, sejam os lares, em cujo centro estão a tv e o computador, o que os liga ao exterior.
O escritor Philip Roth é mais apocalíptico, ao profetizar o fim da era literária: haverá leitores em cada país, mas como um culto, a generalidade das pessoas já não terá a literacia, o 'focus' e a concentração para ler 3 horas todas as noites e acabar um livro em 2 semanas.
A palavra que retive foi a (falta de) concentração. A minha amostra faz o favor da a confirmar: as crianças têm tantos estímulos que não fixam a atenção em coisa nenhuma - nós antigamente tínhamos 2 canais e víamo-los, elas agora têm 50 e nunca param, andam num constante zapping.
A minha filha tem mais livros que uma carrinha da Gulbenkian, já vai em 2 bicicletas, 2 trotinetas, 2 pares de patins, uma playstation, um gameboy e uma nintendo, com jogos que nunca experimentou; agora, quer uma psp3. E entedia-se, não sabe o que há-de fazer.
Cheira-me que a facilidade com que obtêm tudo o que querem, à 1ª ou à 10ª tentativa, terá o seu preço...
Embora cresçam mais depressa e saibam muito mais, e de muito mais coisas, que nós quando tínhamos a idade deles, os petizes são menos independentes e preparados: mais habilitados, mais polivalentes, mais adaptados a tecnologias (para nós, tecnologia era fazer um carro de rolamentos), com mais mundo, mas sem conhecerem a limitação, o esforço e a frustração, naturais no crescimento.
Há tempos, contava a uma amiga que esta gente chega aos 23 e têm um choque, quando não tiverem emprego - é que os actuais 27.8% de desemprego da população entre 15 e 24 anos (8.5% dos licenciados), não tende a descer. Resposta, "que bom, o meu marido é psicólogo com especialidade em depressão, vai ter muito trabalho".
No dia seguinte, bem a propósito, mandou-me um texto de Eliane Brum intitulado Meu filho, você não merece nada.
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