quarta-feira, 31 de março de 2010

TUDO MUDA PARA CONTINUAR NA MESMA


Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio,
fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora,
aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias,
sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice,
pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas;
um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai;
um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom,
e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que
um lampejo misterioso da alma nacional,
reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula,
não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha,
sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima,
descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas,
capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação,
da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo;
este criado de quarto do moderador; e este, finalmente,
tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

A justiça ao arbítrio da Política,
torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções,
incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos,
iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero,
e não se malgando e fundindo, apesar disso,
pela razão que alguém deu no parlamento,
de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

GUERRA JUNQUEIRO, 1896

PEDRAS NO CAMINHO


Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá a falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de
todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas
e se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si,
mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um 'não'.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...

erroneamente atribuído a Fernando Pessoa
(as últimas 2 linhas serão da autoria dum blogger brasileiro, de graça Nemo Nox)

segunda-feira, 22 de março de 2010

QUAL, AGRADEÇO E RETRIBUO

Louis Armstrong e Danny Kaye divertem-se numa desgarrada de "whem the saints go marching in".

terça-feira, 16 de março de 2010

OU HÁ MORAL, OU COMEM TODOS


Vão mas é dar banho ao cão.
Esta história do governo insistir que não aumenta os impostos, "só" reduz as deduções fiscais, como se no fim o resultado fosse outro, já me andava a irritar - há alguém que acredita neles, tirando uns deputados acéfalos que repetem o discurso (e nem esses)?

Depois foi a notícia do Estado propor um bónus pelos resultados de 2009 ao Penedos, o que saiu da REN (empresa semi-pública) por causa da face oculta, no valor de 250.000€ (mais 1 milhão para os outros administradores).

Mas hoje foi demais: depois de dizer que tinha que tocar a todos, o governo afirmou que a taxação das mais valias bolsistas teriam que ser adiadas, porque não há condições de momento. Mas o povo já tem folga, há condições para reduzir o subsídio de desemprego, de congelar pensões de 190€, de portajar estradas sem alternativa, de reduzir o que considera benefícios - a saúde, a educação, a casa, a poupança.
Alguém me explica, como se eu tivesse 3 anos, que um gajo que ganha 120.000€ na bolsa continua mais um momentinho sem pagar imposto, senão o mercado afunda, e um que labuta para ganhar 1200€ vai passar a entregar mais IRS, e ainda é considerado como tendo um "rendimento mais elevado" - praticamente rico -, razão pela qual deve contribuir mais um pouco, em nome da justiça fiscal?

Neste caso, eu tinha um problema adicional: os partidos à direita dão-se bem com o capital, tendo pruridos (ou lastro ideológico) em criticar esta injustiça. Pelo que deviam ter vergonha.
Mas fiquei aliviado (e pacificado com o meu sentido de voto), o Portas perguntou hoje na SICN que, face a um PEC (chamou-lhe programa de esfola do contribuinte) destes, se não fazia sentido pedir também um esforço ao sector financeiro. Disse aliás várias outras coisas de jeito.

ANÚNCIOS CENSURADOS (com bolinha)

Aviso: não aconselhável a pessoas susceptíveis.







domingo, 14 de março de 2010

REUNIÃO MAGNA


Como todos, provavelmente, vi bocados do congresso do PSD neste fim-de-semana. Continua a ser o partido com reuniões mais engraçadas, é consensual.
Espremido, espremido, fica o quê?
Aprovaram uma norma que proíbe críticas ao partido nos 2 meses antes de eleições – uma tolice, nunca tirarão proveito, mas levam o ferrete a fogo da fama.
A regra de 2ª volta para eleição do líder, talvez a alteração mais importante dos estatutos, não passou porque não havia quórum, fez-se tarde e os congressistas tiveram que regressar a Macedo de Cavaleiros.
Há sempre uns cromos, agora foi a presidente a prazo a levar uma cabeçada duma câmara de TV (condicionamento dos media) e o Alberto João a abandonar o palco e sentar-se ostensivamente ao lado do Rangel, amuado porque o Passos disse que o perdoava (albertices).
Fez-me lembrar quando Menezes saiu a chorar do congresso de 95, vaiado por ter criticado os "elitistas, sulistas e liberais".
A revelação do congresso foi mesmo deste ex-presidente: afirmou que Aguiar Branco tinha mais hipóteses eleitorais se fosse menos sério e apoiou Passos. Dixit.
Loas à franqueza, mas estamos conversados.

A modos que não me interessa quem ganha um partido onde não voto, mas espero que saia dali o próximo PM, é sinal que o sôr engenheiro-técnico (o que consegue não rir quando diz que os tugas não vão pagar mais impostos este ano) vai para casa.
Se escolhesse, não optava o Passos (torço sempre pelos mais pequeninos ou que estão a perder), que tem o aparelho todo atrás, os gajos que lá estão sempre para gerir prebendas e pequenos poderes.

Não votei na eleição para a minha Ordem, porque havia gente de quem não gostava em todas as listas. Acontece o mesmo aqui: todos os candidatos estão mal acompanhados (tirando o Castanheira, que não tem claque). Até o Rangel, com quem talvez simpatize mais, lá tem a Lopes de Costa e o Arnaut. Blhh.

GUERNICA EM 3D


A tela "Guernica" de Pablo Picasso, apresentado em 1937, recorda o bombardeamento nazi daquela terra, durante a guerra civil espanhola, como o pintor imaginou. A obra impressiona pelo conteúdo e pelo tamanho, 782x351 cm, ocupando uma parede no museu Reina Sofia, em Madrid.

Foi criado um vídeo académico onde, com técnicas de infografia digital, a tela é "bisbilhotada", mostrando pormenores que à partida passariam despercebidos.

É favor carregar aqui:

quinta-feira, 11 de março de 2010

É MUITA SIGLA


Era uma vez um general do regime (António era a sua graça), ex-governador militar da Guiné (onde bem juntou diplomacia secreta, táctica militar e respeito pela organização das etnias) e vice-cemfa, que escreveu um livro.
Nele afirmava que não havia solução militar para as colónias e advogava uma automonia progressiva, a auto-determinação das colónias e uma commonwealht tuga.
Foi demitido por recusar participar numa manifestação de apoio ao governo, que ganhou o nome de brigada do reumático.

Ao cair do pano, a 25 do 4, Marcelo Caetano, cercado no quartel da G.N.R. do Carmo, informou que só entregava o poder ao general. Os revoltosos coronéis aceitaram e, contra a ideia original, o general torna-se o presidente da junta de salvação nacional e, depois, é escolhido para presidente da república.

Havia muitas facções, o general tinha a sua, mais conservadora, com os seus ex-subordinados. O país corria para a esquerda, o que lhe fazia tremer o monóculo.
O general apelou, no campo pequeno, ao que chamou de maioria silenciosa, que não concordava com o rumo traçado. A facção tenta marcar uma manifestação de apoio ao general para 28 de Setembro, o MFA proíbe-a, as esquerdas apelam à vigilância popular contra a “maioria tenebrosa”, há barricadas e detenções, o general tenta em vão impor o estado de sítio, o MFA obriga-o a demitir 3 generais.
A 30/09/1974, o general demite-se.

O general não estava satisfeito, e juntou os amigos mais acirrados no Exército de Libertação de Portugal (ELP), para tomar o poder.
A 11 de Março de 1975, o general madruga e toma a base aérea de Tancos, o RAL é cercado por paras e atacado por aviões, a G.N.R. do Carmo subleva-se. O COPCON reage. O general tenta em vão aliciar os Comandos pelo telefone.
Há conversas e acordo às 2 e meia da tarde, os dois lados confraternizam no RAL.
A Intersindical chama o povo, há barricadas e piquetes, sedes do PPD, CDS e PDC são assaltadas, 4 oficiais spínolistas pedem asilo político à RFA. Milhares desfilam gritando "soldado amigo o povo está contigo".
O ministro do trabalho, Costa Martins*, aponta G3 a metalúrgicos enfurecidos que não deixavam sair o secretário-geral da confederação da indústria Basílio Horta (após 35 anos, continua a mandar, tudo mudou para ficar na mesma…) com “ou saem da frente ou dou-vos 2 tiros”. Funcionou.

O nosso general, a mulher e 15 oficiais fogem em 4 helicópteros para Badajoz (ainda em ditadura), mas esquece-se de descarregar a sua bagagem: uma farda, as condecorações, o bastão de general, o pingalim, os meios-óculos, umas barbas e bigodes postiços.
Irá para o Brazil, onde comandará o bombista Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP).

No dia seguinte, começa a farra: mais sedes assaltadas, é criado o Centro Contra o Boato (canal único de comunicação do MFA), casas e prédios são ocupados. A 14, é instituído o Conselho da Revolução e nacionaliza-se a Banca e os Seguros.
Por esses dias, são ilegalizados 3 partidos e Cunhal afirma que “a iniciativa privada vai desaparecer”. Vasco Gonçalves tenta compor novo governo provisório, a esquerda quer a saída do PPD e a entrada do MDP-CDE. MES e FSP também querem participar, mas sob as suas condições!
No comício de 21, la résistance PS clama “não vamos fazer sair a NATO pelo Minho para deixar entrar o Pacto de Varsóvia pelo Algarve”. Um país comunista, Dr. Cunhal? Olhe que não, olhe que não.

Com 4 ou + anos nessa altura, quem não se lembra desta marcha britânica?


* Atingiu a fama ao tomar sozinho o aeroporto da Portela no 25/4, as tropas atrasaram-se e fez bluff, dizendo que estavam cercados. Morreu esta semana num desastre de avioneta.

domingo, 7 de março de 2010

8 DO 3, O DIA DAS MULHERES

URSS 1932
A vermelho " 8 de Março é o dia da rebelião das mulheres trabalhadoras contra a escravidão da cozinha."
A cinzento "Diga NÃO à opressão e ao conformismo do trabalho doméstico”.

A 8 de Março de 1857, as moças dos têxteis saíram às ruas de Nova Iorque para protestarem contra as más condições de trabalho e os salários baixos. Como nunca ‘tão bem, fizeram nova manif em 1908 com 15.000 mulheres a marchar na mesma cidade, exigindo melhores condições laborais, aumento da jorna e, vejam lá o desvario, o direito ao voto.
O PS americano celebrou o 1º dia internacional da mulher (DIM) em 28/2/1909, a Internacional Socialista instituiu no ano seguinte um DIM sem data certa e, a 19/3/1911, mais de 1 milhão de pessoas em 4 países europeus celebrou o DIM.
A 8 de Março de 1917, a greve das têxteis de S. Petersburgo contra a fome, o czar e a 1ª guerra “inaugurou a revolução”, nas palavras de Trotsky.
A data teve de molho no Ocidente entre 1920 e 1960, enquanto no Bloco de Leste foi aproveitado como propaganda folclórica do regime.
Hoje a data está "sãovalentinizada", serve para umas reportagens, flores e homenagens a cada 365 dias. Como o dia da sida, dos animais, da água, do ambiente, da criança inocente vítima de agressão, da paz, do não fumador.

Agora, para relembrar o “fulgurante sucesso” das mulheres portuguesas nas últimas décadas, estatística:
- as mulheres são 67% dos licenciados, 31% dos quadros superiores e dirigentes da AP* e empresas e 6% dos administradores de empresas do PSI20 (16% na Noruega),
- nos últimos 25 anos, a diferença de ganho médio salarial em relação aos homens encolheu 10% (ah valentes, de 37 para 27%),
- a taxa de inactividade entre os 2 sexos foi aproximada desde 1983 (subiu nos homens de 21 para 30% e desceu nas mulheres de 50 para 44%).
E não reclamem, os homens trabalham 36.7 horas semanais, as mulheres 33.3 – claro, tratar da roupa e do fogão, das compras, do pó, dos miúdos, da sogra e do marido constipado (o único adulto da casa que pode ficar doente), isso não conta.
E os homens já vão dando uma ajudinha, quem é que leva o lixo, prega a moldura e grelha as sardinhas, quem é?

* Eu tenho 1 directora-geral, 1 sub-directora geral e 6 chefes subregionais. Vini, vidi, vici.

sábado, 6 de março de 2010

VAI MAS É PASSEAR!


Em Outubro, a Travel & Leisure (USA) considerou o Porto um dos destinos mais charmosos e acessíveis da Europa.
Na mesma altura, Lisboa ganhou 3 prémios no World Travel Awards, melhor destino da Europa, melhor destino para city breaks e melhor destino para cruzeiros.

Vá de férias cá dentro, é o que apraz dizer: mais 3 ou 4 fins-de-semana e chega o bom tempo, aproveitem e vão laurear a pevide.
Podia sugerir, de cima para baixo, Guimarães, Ponte de Lima, o Douro, Óbidos, Sintra e Cascais, Estremoz - óptimos destinos para conhecer ou rever.

Mas não, proponho-vos um passeio pelo Portugal que já foi importante, um país que foi povoado por causa dos mouros e de Espanha, e enquanto Espanha foi uma ameaça, até finais de setecentos (e depois Napoleão, em 1807-11, e D. Miguel, na guerra civil de 1828-1834).
Um país que ganhou forais e cartas de feira nos primórdios da nação, revigorou com milhares de judeus expulsos de Castela e definhou com as reformas administrativas de Mouzinho da Silveira e Passos Manuel, entre 1832 e 1836, quando o número de concelhos levou uma machadada – desceu de 817 para 351 – e concelhos passaram a freguesias.

É isso que proponho, uma subida às BEIRAS, uma volta pelas aldeias de Portugal, saída ao Sábado e regresso no Domingo.
Comecem por Belmonte, a terra de Álvares Cabral e “o” bastião judaico, depois Sortelha – a minha preferida, congelou no passado, calcorreámos a terra toda e só vimos 2 pessoas na porta da muralha –, Sabugal, Castelo Mendo e Almeida*: fundada no tempo dos romanos, moura e espanhola várias vezes, foi uma importante praça-militar até 1927, com as suas curiosas muralhas em estrela à volta da planalto (ou mesa, ou Talmeida em árabe).
Venha depois Castelo Rodrigo, Castelo Melhor e Marialva – prémio dado a um dos heróis da Restauração, D. António Luís de Menezes e mais conhecida pelo filho do 4º Marquês, um bonvivant que morreu na arena, durante a última corrida de touros de morte em Salvaterra de Magos.

Parece uma rota demasiado preenchida, mas as terras são tão pequenas quanto bonitas: não se compreende como vivia tanta gente dentro de muralhas minúsculas, ou como dormia tanta gente na torre de menagem – ao molho, no chão.

Dá para conhecer um tantinho de engenharia militar e aprender o que são seteiras, casamatas, portas da traição ou matacães (buracos onde se atiravam pedras ou líquido a ferver sobre os atacantes). E, last but not the least, para comer de forma opípara.
Dormida na Hospedaria do Convento de Santa Maria de Aguiar, do séc. XII, ou no quarto da coruja da Casa da Cisterna (Castelo Rodrigo), ou ainda nas Casas do Coro (Marialva). Procurem na net, os espaços são belíssimos e os anfitriões acolhedores. Não se arrependem.
Vá, mexam-se.


* Confesso o interesse: não fosse um militar qualquer, colocado em Almeida, ter conquistado a filha dum estalajadeiro de Castelo Rodrigo, no séc. XIX, o escriba não existia.

quinta-feira, 4 de março de 2010

QUOTAS


É sempre penoso ver os manifestantes entrevistados (alunos que ainda chucham no dedo e querem educação sexual, ou trabalhadores descontentes) que não conseguem explicar porque estão presentes.
É facto que as pessoas fazem greve por razões distintas, o estado do país, a (repetida) perda de poder de compra, um mau chefe, as assimetrias entre a base e o topo da pirâmide.
Hoje estou em greve. Pelo congelamento de salários e pelas novas regras de reforma. O valor sofreu mudanças ao longo dos tempos: o último salário, média dos 5 melhores anos dos últimos 10, média de toda a carreira, agora “de sopetão” o salário de 2005 com um modulador.
Ah, e por se ter mantido pessoas 13 anos como falsos recibos verdes e, agora, tê-los contratado por um período experimental de 18 meses e logo se vê (ficam caso tenham 14 valores de nota final).
Ainda hesitei fazer greve por 2 dos motivos apresentados no comunicado dos sindicatos, lutar contra as políticas de direita (ora essa!) e o fim do sistema de avaliação com quotas*.

As cedências do governo aos professores (com ou sem razão) resultaram num aumento de despesa em algumas centenas de milhões de euros na próxima legislatura. Pelo que percebi, com 2 ou 3 estrangulamentos, todos os professores chegam ao topo da carreira, os que se esforçam e os que “basta existirem”.
Quem aceda às listas mensais de aposentações do diário da república, percebe que o ministério da educação tem uma das médias mais altas de reformas, com muitos professores a receber 2500€, muito acima do comum dos mortais na AP.
A questão é que, em nenhum lado, todos os trabalhadores chegam ao topo, mais cedo ou mais tarde. Mesmo na AP: julgo que há 115 escalões, se não se for promovido “aceleradamente”, apenas Matusálem (aquele gajo da bíblia que viveu até aos 969 anos) chegaria ao topo da carreira.
Os professores que conheço estão absolutamente contra o sistema de quotas anuais, consideram um direito a promoção automática e alegam que as quotas impõem um sistema de competição com injustiças e sem obrigatório proveito para os alunos.
Quanto às injustiças, estamos conversados, “quem está mais perto da fogueira (entenda-se chefe), aquece-se melhor”, e há parâmetros subjectivos.
Um director teve a frontalidade, chamemos-lhe assim, de explicar a uma assembleia o que todos sabem: “ não esqueçam que 30% da nota depende só de mim, por melhores que vocês sejam”. E, em contra-mão, a lei prevê contratações directamente para qualquer nível da carreira e subidas "meteóricas" por decisão superior. Bar aberto para quem tiver cartão VIP...
Quanto ao proveito, há o risco dos objectivos traçados agravarem a entropia do organismo, servirem a organização, não o utente.

No entanto, eu tenho uma opinião minoritária: as quotas são um mau sistema, e podiam ser alargadas, mas todos os outros sistemas são piores.
Sou do tempo em que todos tinham muito bom, mesmo os que notoriamente eram “fraquinhos”, e não havia necessidade de mostrar serviço - 3 em 3 anos, subia-se de escalão (para subir de categoria, só por concurso).
A explicação dum meu antigo director era a seguinte: tenho que dar boas notas, pois os outros também dão, e não quero prejudicar as pessoas em concursos futuros.

P.s.: Sinto-me subitamente velho aos 38 anos. A minha nova Directora-Geral é mais nova que eu.

* Na maioria dos ministérios, há anualmente 5% de excelentes e 25% de muito bons para atribuir, que correspondem a 3 e 2 pontos, respectivamente, sendo necessários 10 para subir um degrau na carreira.