quinta-feira, 11 de março de 2010

É MUITA SIGLA


Era uma vez um general do regime (António era a sua graça), ex-governador militar da Guiné (onde bem juntou diplomacia secreta, táctica militar e respeito pela organização das etnias) e vice-cemfa, que escreveu um livro.
Nele afirmava que não havia solução militar para as colónias e advogava uma automonia progressiva, a auto-determinação das colónias e uma commonwealht tuga.
Foi demitido por recusar participar numa manifestação de apoio ao governo, que ganhou o nome de brigada do reumático.

Ao cair do pano, a 25 do 4, Marcelo Caetano, cercado no quartel da G.N.R. do Carmo, informou que só entregava o poder ao general. Os revoltosos coronéis aceitaram e, contra a ideia original, o general torna-se o presidente da junta de salvação nacional e, depois, é escolhido para presidente da república.

Havia muitas facções, o general tinha a sua, mais conservadora, com os seus ex-subordinados. O país corria para a esquerda, o que lhe fazia tremer o monóculo.
O general apelou, no campo pequeno, ao que chamou de maioria silenciosa, que não concordava com o rumo traçado. A facção tenta marcar uma manifestação de apoio ao general para 28 de Setembro, o MFA proíbe-a, as esquerdas apelam à vigilância popular contra a “maioria tenebrosa”, há barricadas e detenções, o general tenta em vão impor o estado de sítio, o MFA obriga-o a demitir 3 generais.
A 30/09/1974, o general demite-se.

O general não estava satisfeito, e juntou os amigos mais acirrados no Exército de Libertação de Portugal (ELP), para tomar o poder.
A 11 de Março de 1975, o general madruga e toma a base aérea de Tancos, o RAL é cercado por paras e atacado por aviões, a G.N.R. do Carmo subleva-se. O COPCON reage. O general tenta em vão aliciar os Comandos pelo telefone.
Há conversas e acordo às 2 e meia da tarde, os dois lados confraternizam no RAL.
A Intersindical chama o povo, há barricadas e piquetes, sedes do PPD, CDS e PDC são assaltadas, 4 oficiais spínolistas pedem asilo político à RFA. Milhares desfilam gritando "soldado amigo o povo está contigo".
O ministro do trabalho, Costa Martins*, aponta G3 a metalúrgicos enfurecidos que não deixavam sair o secretário-geral da confederação da indústria Basílio Horta (após 35 anos, continua a mandar, tudo mudou para ficar na mesma…) com “ou saem da frente ou dou-vos 2 tiros”. Funcionou.

O nosso general, a mulher e 15 oficiais fogem em 4 helicópteros para Badajoz (ainda em ditadura), mas esquece-se de descarregar a sua bagagem: uma farda, as condecorações, o bastão de general, o pingalim, os meios-óculos, umas barbas e bigodes postiços.
Irá para o Brazil, onde comandará o bombista Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP).

No dia seguinte, começa a farra: mais sedes assaltadas, é criado o Centro Contra o Boato (canal único de comunicação do MFA), casas e prédios são ocupados. A 14, é instituído o Conselho da Revolução e nacionaliza-se a Banca e os Seguros.
Por esses dias, são ilegalizados 3 partidos e Cunhal afirma que “a iniciativa privada vai desaparecer”. Vasco Gonçalves tenta compor novo governo provisório, a esquerda quer a saída do PPD e a entrada do MDP-CDE. MES e FSP também querem participar, mas sob as suas condições!
No comício de 21, la résistance PS clama “não vamos fazer sair a NATO pelo Minho para deixar entrar o Pacto de Varsóvia pelo Algarve”. Um país comunista, Dr. Cunhal? Olhe que não, olhe que não.

Com 4 ou + anos nessa altura, quem não se lembra desta marcha britânica?


* Atingiu a fama ao tomar sozinho o aeroporto da Portela no 25/4, as tropas atrasaram-se e fez bluff, dizendo que estavam cercados. Morreu esta semana num desastre de avioneta.

2 comentários:

  1. O que eu gostava do monóculo do marechal bombista! :-)

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  2. Foi o monóculo, o pingalim e a personalidade que lhe atribuíram a etiqueta de "O último marechal romântico português", como uma vez li algures.

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