quinta-feira, 4 de março de 2010

QUOTAS


É sempre penoso ver os manifestantes entrevistados (alunos que ainda chucham no dedo e querem educação sexual, ou trabalhadores descontentes) que não conseguem explicar porque estão presentes.
É facto que as pessoas fazem greve por razões distintas, o estado do país, a (repetida) perda de poder de compra, um mau chefe, as assimetrias entre a base e o topo da pirâmide.
Hoje estou em greve. Pelo congelamento de salários e pelas novas regras de reforma. O valor sofreu mudanças ao longo dos tempos: o último salário, média dos 5 melhores anos dos últimos 10, média de toda a carreira, agora “de sopetão” o salário de 2005 com um modulador.
Ah, e por se ter mantido pessoas 13 anos como falsos recibos verdes e, agora, tê-los contratado por um período experimental de 18 meses e logo se vê (ficam caso tenham 14 valores de nota final).
Ainda hesitei fazer greve por 2 dos motivos apresentados no comunicado dos sindicatos, lutar contra as políticas de direita (ora essa!) e o fim do sistema de avaliação com quotas*.

As cedências do governo aos professores (com ou sem razão) resultaram num aumento de despesa em algumas centenas de milhões de euros na próxima legislatura. Pelo que percebi, com 2 ou 3 estrangulamentos, todos os professores chegam ao topo da carreira, os que se esforçam e os que “basta existirem”.
Quem aceda às listas mensais de aposentações do diário da república, percebe que o ministério da educação tem uma das médias mais altas de reformas, com muitos professores a receber 2500€, muito acima do comum dos mortais na AP.
A questão é que, em nenhum lado, todos os trabalhadores chegam ao topo, mais cedo ou mais tarde. Mesmo na AP: julgo que há 115 escalões, se não se for promovido “aceleradamente”, apenas Matusálem (aquele gajo da bíblia que viveu até aos 969 anos) chegaria ao topo da carreira.
Os professores que conheço estão absolutamente contra o sistema de quotas anuais, consideram um direito a promoção automática e alegam que as quotas impõem um sistema de competição com injustiças e sem obrigatório proveito para os alunos.
Quanto às injustiças, estamos conversados, “quem está mais perto da fogueira (entenda-se chefe), aquece-se melhor”, e há parâmetros subjectivos.
Um director teve a frontalidade, chamemos-lhe assim, de explicar a uma assembleia o que todos sabem: “ não esqueçam que 30% da nota depende só de mim, por melhores que vocês sejam”. E, em contra-mão, a lei prevê contratações directamente para qualquer nível da carreira e subidas "meteóricas" por decisão superior. Bar aberto para quem tiver cartão VIP...
Quanto ao proveito, há o risco dos objectivos traçados agravarem a entropia do organismo, servirem a organização, não o utente.

No entanto, eu tenho uma opinião minoritária: as quotas são um mau sistema, e podiam ser alargadas, mas todos os outros sistemas são piores.
Sou do tempo em que todos tinham muito bom, mesmo os que notoriamente eram “fraquinhos”, e não havia necessidade de mostrar serviço - 3 em 3 anos, subia-se de escalão (para subir de categoria, só por concurso).
A explicação dum meu antigo director era a seguinte: tenho que dar boas notas, pois os outros também dão, e não quero prejudicar as pessoas em concursos futuros.

P.s.: Sinto-me subitamente velho aos 38 anos. A minha nova Directora-Geral é mais nova que eu.

* Na maioria dos ministérios, há anualmente 5% de excelentes e 25% de muito bons para atribuir, que correspondem a 3 e 2 pontos, respectivamente, sendo necessários 10 para subir um degrau na carreira.

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