De cara lavada, o palácio do Bolhão está hoje emprestado a uma escola de artes e uma companhia de teatro. Porque não são egoístas, ou precisam de estofar o orçamento, os comodatários abrem as portas para visitas teatralizadas (5€) que nos transportam para os bailes com a nata da sociedade portuense, que enchiam as páginas das gazetas.
Um dos gazeteiros e visita de casa, Camilo, escreveu sobre o 'carácter entre o severo e o risonho' do palácio, as festas onde '800 dentaduras supriam em velocidade a beleza que lhes faltava', ou o divórcio do então barão do Bolhão, o que lhe valeu uns bofetões dados pelos sobrinhos da baronesa.
O conde do Bolhão foi uma espécie de Ícaro: nascido em 1814 (já a data da morte é uma incógnita), tinha 30 anos quando mandou construir a maison, pela módica quantia de €350, à época uns mais charmosos 70 contos de réis; 'deu' a filha ao varão do duque de Saldanha; hospedou por 2 vezes D. Maria II no seu humilde lar, onde houve faustosas soirées até a mulher fugir de casa, acusando-o de tirania conjugal e maus tratos físicos; acusado de falsificar moeda no Brasil (foi absolvido no recurso), o dono de 'uma das mais sólidas fortunas do Porto' acabou por falir e entregar o palácio ao credor principal. De nada lhe valeu a estátua de Mercúrio, deus do comércio e do lucro, no frontão da casa...
Apareçam!
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