A fundação
EDP tem uma exposição sui generis chamada ‘7000 milhões de outros’, respostas
sucintas de mais de 6000 pessoas, de 84 países, às mesmas 45 perguntas.
É engraçado
como, do Montenegro ao Mali, do México ao Afeganistão, somos todos iguais
(prova, a sucessão de gente que, em criança, gostava de ser piloto) e tão
diferentes - à pergunta ‘O que é que o chateia?’, respostas à miss universo
(ganância, estupidez, injustiça, fome, atirarem o lixo pela janela do carro)
são mescladas com outras mais pessoais (a artrose, comer pouco e engordar, ter visto
o pai a bater na mãe, ou uma viúva palestiniana a quem censuram sair à rua ou
querer usar roupa menos ortodoxa).
Sobre as
lembranças mais antigas, aparecem respostas giras: o aldeão maliano que se
lembra duma praga de grilos que destruiu as sementeiras, sustento da família, o
francês de Nantes, cuja irmã avisava da chegada dos aviões nazis antes das
sirenes, ou o canadiano que dizia que o papá não era o senhor que chegara da
guerra da coreia, esse tinha o cabelo branco e o papá da fotografia, que
beijava todas as noites, não.
Houve quem
dissesse que era feliz porque tinha água, quem apresentasse uma solução genial –
tenham menos problemas! -, quem quisesse comer até não poder mais, para nunca mais ter
fome, e quem (a minha preferida) afirmasse que, se voltasse atrás, faria tudo
igual, só que com outro marido.
Também há
testemunhos nacionais: uma senhora, julgo que sobre imigração, disse ‘O nosso
país está cheio de toda a gente’, uma frase involuntariamente maiúscula, outro
assumiu que era calão, e por isso ria muito, porque rir envolve poucos
músculos, e uma cara feia usa muitos mais.
Na secção ‘medos’,
ao natural receio da solidão, apareceu uma sequência gira: um peruano disse ter
medo que Deus não exista, o seguinte disse que o seu medo era que Deus exista…
Eu sou como o outro que quer uma barrigada, para não ter mais fome - o meu FDS lisboeta chegou
para ver outras 2 exposições temporárias imperdíveis: Tesouros dos palácios
reais espanhóis, na Gulbenkian (como uma abelhinha, andei a rondar uma guia da
casa e o seu bocejante grupo; notas, os habsburgos e os bourbons eram feios com otudo, e o Escorial está cheios de tesouros lusos pilhados pelos filipes) e parte do espólio de Franco Ricci (no MNAA), um
colecionador italiano que vai abrir o seu próprio museu em Parma, no próximo
ano.
3 gostosas sugestões, digo eu.