Há uns meses, ligaram do banco a propor-me a aplicação de boa parte do meu pequeno pecúlio em obrigações do Benfica. Agradeci e declinei a sugestão, com um argumento singelo, só se fosse maluco é que emprestava dinheiro a um clube de futebol.
- E não há por aí outra alternativa?, perguntei.
- Sim, uma obrigações do BES a 5 anos.
- Qual é o risco de perder o dinheiro?
- Só se o banco falir!
- Então vamos nessa.
Ia lá imaginar que o Espírito Santo podia ir ao charco, estando tão perto de Deus e de César...
Pois. As acções do BES caíram para metade num mês e as transações foram ontem suspensas na bolsa, no mesmo dia em que o banco de Portugal emitiu um comunicado, dizendo que a situação do BES é 'sólida', o banco comunicou ter folga financeira para acomodar perdas pela exposição ao GES (1082M€)que podem passar os 1000M€, Ricciardi escreveu aos colaboradores e parceiros do BESI a expressar confiança no futuro do BES (mas vendeu as acções que tinha no banco, ficando apenas com 100 'papéis' para participar na AG).* Já hoje, Passos Coelho garantiu que os investidores no BES podem estar tranquilos, porque o BES e o GES são coisas distintas (isto, apesar de todas as empresas do grupo terem sido bem entretecidas - afinal, não a fio de seda, mas de estopa**).
Faz lembrar o ministro da informação de Sadam, Muhammad Saeed Al-Sahhaf, para quem a vitória era certa (os inimigos 'fogem', 'suicidam-se às centenas' e 'estão longe da capital'), quando os 'infiéis' já tinham entrado em Bagdade e estavam a centenas de metros da conferência de imprensa.
Faz lembrar o ministro da informação de Sadam, Muhammad Saeed Al-Sahhaf, para quem a vitória era certa (os inimigos 'fogem', 'suicidam-se às centenas' e 'estão longe da capital'), quando os 'infiéis' já tinham entrado em Bagdade e estavam a centenas de metros da conferência de imprensa.
É impressão minha, ou já se ouve a morteirada?
* O BES vai pagar ao 'despejado' Ricardo Salgado 900.000€/ano de reforma, mais seguro de saúde. Prova de prosperidade do banco e dos valiosos serviços de Salgado, sabendo que o BESA (onde o BES tem 55% do capital) tem um buraco negro de 5,700Md, e a ESI - a holding que controla a área financeira (BES) e não financeira (Rioforte) do GES - tem capitais próprios negativos de 2500M€, e devia no final de 2013 mais de 7300M€.
** Escreve-se hoje no Público 'É verdade que os rácios de capital do banco são sólidos. Mas o problema do BES resulta de uma intrincada teia de holdings: a ES Control, o quartel-general da família, detém 56,5% da ES International, que, por sua vez, é dona de 100% da Rioforte, que, por seu lado, controla 49% da ESFG, que é o maior accionista do BES, com 25% do capital. Estas empresas da família têm todas relações entre si, emprestam dinheiro e compram coisas umas às outras numa relação que ontem um colunista do Financial Times qualificava de “terrivelmente incestuosa”.É uma espécie de matrioska financeira. E no final há uma boneca pequenina que está falida. Aliás, uma das justificações dada pela Moody’s para baixar o rating da ESFG é precisamente a “falta de transparência em torno não só da situação financeira do Grupo Espírito Santo, mas também da amplitude das ligações intragrupo”.'
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