Tenho para mim que os comentadores são escolhidos, não porque nos dão novas (tirando o Marques Mendes), mas porque sistematizam de forma eloquente o que nós já pensamos.
Li Pedro Adão e Silva, no último Expresso, com essa sensação.
PAS começa a sua crónica, intitulada 'Reformistas de todo o país, uni-vos' sacando de um livro ('Revolução ou Reforma?', 1974) que contrapõe o neomarxista Marcuse, advogado duma revolução que transformasse radicalmente a estrutura social, e Karl Popper, 'para quem a busca de uma sociedade utópica era perigosa, entre outras razões, por implicar que se aceitasse sacrificar indivíduos concretos para o bem duma humanidade abstracta'.
Adão e Silva não pretendia falar do passado, mas do presente, porque encontra analogias com os revolucionários de direita (tão perigosos como os de esquerda, digo eu) que insistem, aumentando a dosagem, numa 'hiperausteridade que manifestamente não funciona', esperando resultados diferentes: 'O espírito é típico do de uma cruzada, uma fé inabalável em amanhãs que cantam. Para os arautos do 'capitalismo científico', pouco importa a destruição social. Um dia, sobre as cinzas do desemprego, emergirá uma nova sociedade. quando? Ninguém sabe.'
Esse é o ponto: pessoas de pouca fé (que não devia ser para aqui chamada), precisam de ver alguns resultaditos para acreditar numa pregação messiânica, comunista ou hiperliberal. E está na cara que não se 'orçamenta' um homem novo, como está na cara que, por este pedregoso caminho, os amanhãs serão muito desafinados.
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