A última vez não foi excepção.
Depois dum extenso relambório acerca da sua falta de pachorra para as chefias e para a decadência do serviço, perguntei:
- Então, sempre vai avançar com o pedido da reforma?
- Fui buscar os papeis há umas 2 semanas.
- E então, tanta pressa e não os mete?
- Acontece que peguei neles e o título era pensão de velhice. Deu-me cá uma alergia que nem consegui preenchê-los. Não estou preparado para ser oficialmente velho.
Realmente, podiam chamar-lhe qualquer outra coisa, prestação retributiva ficava melhor.
Cumprindo o guião, a seguir veio a crise: 'Parece que nada muda: quando era criança, pedia um brinquedo e a minha avó dizia agora não posso, os tempos não estão para isso. Passaram 50 anos e voltámos ao mesmo'.
Não vale a pena explicar que mudou e muito - os avós não tinham esgotos, água canalizada, telemóveis, máquina de lavar e de secar, 3 televisões e 2 carros.
Mas o que enerva mesmo o Saraiva são as pessoas que, não só não poupam, como desbaratam o dinheiro. Então as mulheres solteiras que saem à noite, vão a discotecas (não entram de borla) e gastam dinheiro em tabaco e cervejas... O problema maior é serem do género feminino, desconfio.
O busílis é que o Saraiva conhece umas mulheres desempregadas que deixam as crianças em casa e vão divertir-se (um pecado!!!), e no dia seguinte vão buscar comida ao banco alimentar - uma questionável administração do parco rendimento, talvez.
A situação fez-me recordar um caso paradoxal, dum par alfacinha, que tem estado a recorrer às reservas que têm no banco, desde que ele ficou desempregado. Acontece que ele tem um escape, é leitor-barra-comprador compulsivo de livros e arranja pechinchas todas as semanas.
Um dilema, alguém imagina ser censurável a leitura?
LER É SONHAR PELA MÃO DE OUTREM.
Fernando Pessoa
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