Armory, Julião Sarmento
Venho já
disse ao plúmbeo gato
enquanto com ternura
o enxotou com o sapato.
Deu 3 voltas à chave
abriu a porta desbotada
saiu para o patamar
e encetou a caminhada.
Nas mãos, as suas 'facturas':
cartas com lágrimas passadas
natais em papel mate
garrafas a tilintar gargalhadas.
Com a vontade por alavanca
que torna leve o mundo
galgou o terceiro andar
e logo chegou ao segundo.
Mas a carga pesada
- tanta tralha
deus lhe valha -
esmoreceu-lhe a passada.
Aqui e ali
apoiada no corrimão
cada vez mais devagar
chegou ao rés-do-chão.
Pela última vez
passou a porta carcomida
e foi ao lixo.
Pôr a vida.
Aos que guardam tudo, recibos da sua existência
Sem comentários:
Enviar um comentário