Não sejamos só nós a ficar de castigo,
seja também Sócrates *
Parte A. - A teoria, O GOVERNO FEZ O QUE PÔDE
A culpa não é da crise financeira, esta apenas destapou os problemas de Portugal, disse o porta-vos da UE, Amadeo Altafaj.
Paul Thomson, do FMI, afirmou que o acordo não é uma versão do PEC IV, pois faltavam medidas mais específicas, havia falhas em termos de reformas estruturais e no sector financeiro e o PEC IV não conseguia "bem" cumprir o objectivo do défice.
Mais o ouvi dizer que o atraso no pedido de ajuda atrasou a recuperação, pagaram-se juros muito altos e usou-se dinheiro da banca que podia ter sido emprestado à economia.
E o representante da UE, Jürgen Kröger (são só nomes lindos), disse que a ajuda devia ter sido pedida mais cedo, e talvez as medidas fossem mais brandas.
Lapidar.
Sem espinhas, mas de forma muito diplomática (dado o período eleitoral e a delicadeza da questão), a argumentação de Sócrates, repetida ad nauseum, é demolida pelos "Senhores dos anéis".
Parte B - A prática, e CONTRA FACTOS, NÃO HÁ ARGUMENTOS
Passo a palavra a Álvaro Santos Pereira **:
1) Na última década, Portugal teve o pior crescimento económico dos últimos 90 anos;
2) Temos a pior dívida pública (em % do PIB) dos últimos 160 anos. A dívida pública este ano vai rondar os 100% do PIB, não incluindo as dívidas das empresas públicas (mais 25% do PIB nacional) e os 60 mil milhões de euros das PPPs (35% do PIB adicionais), que foram utilizadas pelos nosso governantes para fazer obra (auto-estradas, hospitais, etc.) enquanto se adiava o seu pagamento para os próximos governos e as gerações futuras. As escolas também foram construídas a crédito;
3) Temos a pior taxa de desemprego dos últimos 90 anos (desde que há registos). Em 2005, a taxa de desemprego era de 6,6%, em 2011 a taxa de desemprego chegou aos 11,1% e continua a aumentar;
4) Temos 620 mil desempregados, dos quais mais de 300 mil estão desempregados há mais de 12 meses;
5) Temos a maior dívida externa dos últimos 120 anos, e a nossa dívida externa bruta é quase 8 vezes maior do que as nossas exportações;
6) Estamos no top 10 dos países mais endividados do mundo em praticamente todos os indicadores possíveis; desde 1995, a nossa dívida externa bruta subiu de 40 para 230% do PIB, e a dívida externa líquida passou de 10 para 110% do PIB;
7) As dívidas das famílias são cerca de 100% do PIB e 135% do rendimento disponível;
8) As dívidas das empresas são equivalentes a 150% do PIB;
9) Cerca de 50% de todo endividamento nacional deve-se, directa ou indirectamente, ao nosso Estado;
10) Temos a segunda maior vaga de emigração dos últimos 160 anos, e a segunda maior fuga de cérebros de toda a OCDE;
11) Temos a pior taxa de poupança dos últimos 50 anos;
12) Nos últimos 10 anos, tivemos défices da balança corrente que rondaram entre os 8% e os 10% do PIB;
13) Há 1,6 milhões de casos pendentes nos tribunais civis. Em 1995, havia 630 mil. Portugal é ainda um dos países que mais gasta com os tribunais por habitante na Europa;
14) Temos a terceira pior taxa de abandono escolar de toda a OCDE (só melhor do que o México e a Turquia);
15) Temos um Estado desproporcionado para o nosso país, um Estado cujo peso já ultrapassa os 50% do PIB;
16) As entidades e organismos públicos contam-se aos milhares. Há 349 Institutos Públicos, 87 Direcções Regionais, 68 Direcções-Gerais, 25 Estruturas de Missões, 100 Estruturas Atípicas, 10 Entidades Administrativas Independentes, 2 Forças de Segurança, 8 entidades e sub-entidades das Forças Armadas, 3 Entidades Empresariais regionais, 6 Gabinetes, 1 Gabinete do Primeiro Ministro, 16 Gabinetes de Ministros, 38 Gabinetes de Secretários de Estado, 15 Gabinetes dos Secretários Regionais, 2 Gabinetes do Presidente Regional, 2 Gabinetes da Vice-Presidência dos Governos Regionais, 18 Governos Civis, 2 Áreas Metropolitanas, 9 Inspecções Regionais, 16 Inspecções-Gerais, 31 Órgãos Consultivos, 350 Órgãos Independentes (tribunais e afins), 17 Secretarias-Gerais, 17 Serviços de Apoio, 2 Gabinetes dos Representantes da República nas regiões autónomas, e ainda 308 Câmaras Municipais, 4260 Juntas de Freguesias. Há ainda as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional, e as Comunidades Inter-Municipais;
17) Nos últimos anos, nada foi feito para cortar neste Estado omnipresente e despesista, embora já se tenham cortado salários, subido impostos, reduzido pensões e impostos (perdoe-se a repetição) vários pacotes de austeridade aos portugueses. O Estado tem ficado imune à austeridade.
Isto não é política. São factos. Interessa perguntar: como é que foi possível chegar a esta situação? Quem conduziu o país quase à insolvência? Quem nada fez para contrariar o excessivo endividamento do país? Quem contribuiu de sobremaneira para o mesmo endividamento com obras públicas de rentabilidade muito duvidosa? Quem fomentou o endividamento com um despesismo atroz? Quem tentou (e tenta) encobrir a triste realidade económica do país com manobras de propaganda e com manipulações de factos? As respostas a questas questões são fáceis de dar, ou, pelo menos, deviam ser.
* ... opinião minha, pelos vistos - a sondagem de hoje da Eurosondagem revela que 23% dos consultados ainda estão indecisos e que 32,5% ainda querem premiar Sócrates como o seu voto!!!
** No blogue Desmitos. ASP é professor na Universidade de Vancouver, Canadá e autor de Os mitos da Economia Portuguesa, Medo do Insucesso Nacional e, publicado há dias, Portugal - na hora da Verdade
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