Hieronymus Bosch (ou Jeroen van Aeken, como lhes chamaram os pais) foi o primeiro surrealista, meio milénio antes de nascer esse termo. O holandês viveu entre 1450 e 1516, o que foi demasiado cedo: a sua mania pela alquimia não caíu muito bem na inquisição. Curiosamente um dos seus maiores fãs foi Filipe II de Espanha, o super-religioso neto dos reis católicos, preocupado com o destino das almas.
Os seus quadros (bidimensionais, numa altura em que o renascimento italiano já recorria à perspectiva), geralmente com temática religiosa, aludem à luta entre o bem e o mal e fazem uma crítica aos costumes sociais e fraquezas humanas, à devassidão, cobiça e loucura - alguns podiam ser o cenário dos Autos de Gil Vicente. Um deles, a nave dos loucos (ou nau dos insensatos), poderá ter sido inspirado numa sátira de Sebastian Brant, onde a partes tantas se escreve "é melhor seguir sendo laico do que comportar-se mal dentro das ordens".
Vi algumas das suas peças no Museo del Prado, em Madrid, onde está a maioria das melhores obras do pintor (e 3 dos apenas 7 quadros com autoria confirmada; há cerca de outros 20 suspeitos). Como aquela gente traduz tudo, lá conhecem-no por El Bosco.
Fui sozinho, o que tornou possível "estacionar" em frente a cada quadro: somos quase obrigados a fazer um scaner milimétrico, dada a quantidade de pormenores (dá para aumentar as imagens seguintes).
As Tentações de Santo Antão, Museu Nacional de Arte Antiga
A Morte e o Avarento, Galeria Nacional de Arte, Washington
O Carro de Feno, Prado
A Nau dos Insensatos, Louvre
O Jardim das Delícias, Prado
Idem, painel esquerdo, O Céu
Idem, painel central
Idem, painel direito, O Inferno
Idem, pormenor do painel direito, o diabo
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