No final do almoço, Sá Carneiro entregou a Barbosa de Melo um maço de folhas com um projecto de programa do PPD. O texto não previa que o estado assegurasse tarefas sociais ou de transformação da sociedade; não definia que a política devia orientar a economia; e não fazia qualquer referência às colónias. “Isto precisa de levar uma demão maior” disse na altura o coimbrão. E levou os papeis para o hotel.
“Tenho muita pena, mas isto não é um programa de um partido social-democrata. O que vocês estão a fazer é um partido liberal, não é a minha opção”, comunicou Barbosa à noite, numa reunião a que Sá Carneiro faltou.
Em pânico, José ferreira Juniór ligou-lhe e, quando pousou o telefone, virou-se para Barbosa de Melo e disse “Ó pá, escreve tu umas bases programáticas como entenderes. Mas o documento tem que estar pronto até domingo”.
Barbosa de Melo escreveu o documento, mas receou que Sá Carneiro não aceitasse a “execução dum projecto socialista viável”, a “planificação e organização da economia” e a “propriedade social dos sectores-chave da economia”.
Mas Sá Carneiro aceitou tudo. Já não estava preocupado com os detalhes do programa político. Ele sabia que, para se tornar relevante, tinha que estar no primeiro governo provisório. E com força. Anos depois, Sá Carneiro explicou como conseguiu que o PPD tivesse 2 ministros, tantos como o PCP e apenas menos 1 que o PS: foi precisa “muita lata”.
Miguel Pinheiro, Sá Carneiro, pp. 261-264
1975-1976
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