sexta-feira, 31 de julho de 2015

PANCADAS DE MOLIÈRE

 
'Ao elenco da minha peça', foi o brinde que ouvira no repasto da véspera, a rematar um embargado discurso dedicado ao grupo de velhos amigos. Na altura, parecera-lhe ser o vinho a falar, mas agora, enquanto escanhoava a cara, aquilo fazia algum sentido, apesar, ou por causa, da cabeça enevoada como o espelho. 
As pessoas, pensou, são figurantes na 'nossa' peça, escrita a várias mãos (sim, rapaz, temos menos poder no guião do que pensamos): uns escolhidos por nós, outros presentes no casting original (ah, que saudades da avó!); uns protagonistas da história, outros personagens secundárias do enredo; uns heróis, outros vilões; estes com direito ao palco do abrir ao descer do pano, aqueles importantes num ou dois actos, aqueloutros com actuações brilhantes em apenas algumas cenas.
Bem, talvez fosse melhor estancar as sequelas das 5 lâminas da gillette fusion (uma revolução no mundo dos barbeados, diz a publicidade, e não há revolução sem mortes e feridas...), tomar um guronsan e deixar-se de filosofias baratas.
Amélia C. em Bocas de Cena

quarta-feira, 15 de julho de 2015

LINHAS VERMELHAS E POSIÇÕES IRREVOGÁVEIS


'Não gosto nada, mas foi o que se arranjou para evitar um desastre', foi mais ou menos o que disse agora Tsipras, o que parecia tão 'irrevogável' até ao referendo cujo resultado* não serviu de nada (é uma espécie-de-democracia).
A banda esquerda fartou-se de gozar com Paulo Portas (que disse uma coisa semelhante sobre o nosso resgate e também não usava a palavra troika, como se o vinagre fosse mais tragável chamando-lhe gelatina de ananás), por causa das suas linhas vermelhas, e agora vai por aqui um silêncio sepulcral...
Tão bem-feito!, diria, não fosse haver um povo a penar com a lírica bravata do Syriza (e, convenhamos, é pouco sensato apelidar a outra parte da negociação, a quem deve e tem que continuar a pedir ajuda, de criminosos e chantagistas).
Já agora, o Syriza aprovava este acordo 'das lentilhas' no parlamento, se estivesse na oposição e fosse a ND a negociá-lo? Pois, é mais fácil dizer mal dos outros do que meter a mão na massa, mas depois a esquerda imaculada chega ao governo e tem que ceder ao pragmatismo (um palavrão!, pensa ela), ou como dizem os gregos, realismós.

* eu tenho a ideia estapafúrdia que, bem lá no fundinho, Tsipras achava que  vitória do Sim até lhe dava algum jeito para sair do beco onde estava.