sexta-feira, 31 de maio de 2013

A COPA DA ÁRVORE

Van Gogh, c. 1888

'Girassóis, são uns girassóis, sempre virados para a luz, 'tão sempre bem com o chefe, seja ele qual fôr.', protestava alguém no outro dia. 'Eu sei, estão sempre a dar nas vistas, à volta do chefe, mesmo que trabalhem pouco e mal', arengou outro. 'O pior é que ainda dizem mal dos outros e o meu chefe 'emprenha pelos ouvidos' - é tipo uma piscina, em que nos apoiamos nos outros para ter a cabeça de fora', disse o terceiro. Foram abertas as hostilidades: toda a gente à volta da mesa conhecia colegas assim, e foi logo tema de prosa.

Imaginem dois colegas quase-quase iguais, com uma pequena diferença no instinto de sobrevivência: Dupont aproveita as ocasiões para dar nas vistas perante o chefe, e ainda lhe diz mal de Dupond ao chefe. Dupond não dá o troco, e não há contraditório.
Acham que o chefe vê os dois como iguais, mesmo que Dupond seja mais trabalhador? Nãã, manda a natureza que ninguém resista à bajulação*, e por vezes o chefe não discerne que quem lhe diz mal do seu antecessor, dirá mal dele no dia em que sair - arrivista não é leal, por inerência.
Conclusão, o chefe prefere Dupont, e até lhe perdoa algumas falhas (as que Dupont não consegue esconder, ou passar a culpa), porque este até lhe vai contando o que se passa. Tudo é pior se o emprego for competitivo, ou o chefe for mais belicoso. Aí, com o tempo, o dito passa a ter cada vez menos 'fontes' e a saber apenas o que alguns querem contar, por interesse do mensageiro, ou que julgam que ele quer ouvir.
E pronto, o sugestionável chefe fica com uma noção filtrada da realidade. Compete-lhe ver a floresta e não as árvores, não é? Pois, mas vê de cima, repara nas copas mais vistosas, e não distingue um embondeiro dum eucalipto.
Dizem.
 
* permita-se um toque de erudição: escreve Maquiavel n' O Príncipe, acerca dos lisonjeadores, 'Os homens comprazem-se tanto consigo próprios e têm ideias tão lisonjeiras a seu respeito que dificilmente escapam a esta praga'.   

domingo, 19 de maio de 2013

TUDO BEM, SE NÃO FOR COMIGO


A ELITE DO PAÍS 'NIMBY'
Henrique Monteiro, Expresso online, 17.05.2013

Vi ontem uma pequena reportagem com a Comunidade Vida e Paz, uma associação generosa, voluntária e desprendida que todas as noites distribui alimentos. Há muito que o faz, muito antes da crise, sem esperar qualquer reconhecimento, com poucas palavras, pouco protagonismo e muitas ações. Qual a novidade? Cada vez mais pessoas recorrem à ajuda alimentar levando os seus filhos, apesar de noite cerrada, porque são os pequenos quem mais necessita urgentemente de comida.
Penso que nem uma pedra fica indiferente a uma situação destas. E se a trago aqui é porque tenho a sensação de que a elite deste país é especialista no que em inglês se chama NIMBY (de Not In My Back Yard, ou não no meu quintal). Ou seja, a nossa elite, que tem acesso à comunicação, raramente fala do problema dos outros, preferindo falar dos seus. Sendo uma elite que largamente vive de reformas, fala de reformas; sendo uma elite que largamente vive do setor público, fala do setor público. Sendo uma elite que vive largamente à sombra do Estado, fala do Estado. É, por isso também largamente favorável a todo o tipo de reformas, desde que elas não atinjam o seu quintal - não no meu quintal, NIMBY.
Mas o maior problema do país não é se 10% dos reformados vai ganhar menos, ou se os professores vão trabalhar mais cinco horas. Se olharmos para estes dramas concretos que se vivem à volta de organizações como a Comunidade Vida e Paz, se recordarmos os 19, 20, ou mais por cento de desempregados, os velhos com reformas miseráveis (daquelas que não foram sequer cortadas), as famílias desestruturadas pela crise, rapidamente vemos o ridículo de um país que nunca discute estes casos no concreto, mas apenas em esquemas macroeconómicos tão manhosos como as folhas de Excel.
A questão que se coloca a cada um é o que faremos por este país? Estamos dispostos a dar? Queremos ajudar? Como podemos ajudar? Partamos deste ponto para todos os debates. O 'NIMBY' é a marca da imobilidade que nos conduziu até onde estamos.

domingo, 12 de maio de 2013

A VENDER CARNE HÁ MAIS DE 100 ANOS (II)

BUTCHERING FOR OVER 100 YEARS AGO
  
São talhos, senhor, são talhos. Com carcaças perfeitamente alinhadas e simétricas, aventais imaculados e poses sérias, pois tirar uma 'chapa' era um evento, e a imagem contava, hoje como ontem: come-se com os olhos. Poder-se-ia pensar que a carne foi quase toda trazida para a rua, de propósito para a ocasião, mas o facto é que a mercadoria era habitualmente 'exposta' aos fregueses... e às varejeiras.  
 
PORTUGAL
1908, Praça da Figueira (foto Joshua Benoliel)
 
UNITED KINGDOM
 'temos miolos frescos todos os dias', diz a tabuleta
 1888, John Eaton and his traditional Christmas show, Montgomery
 1897 (prov.), butcher's shop at the Pantiles, Tinbridge Wells
Barkaway butchers, Frank Cuningham at left 
 butcher Frank Rogers, Riverhead
 Fraser brothers., Dingwall-Scotland
c. 1900, Barwell's butcher shop, Bury St Edmunds, Suffolk
 c. 1900, Bett's butcher shop, Eastry
 c. 1900, Stevens brothers butcher shop, Cambridge street, London
 c. 1900, butcher shop, Gabalfa road, Llandaff north (Cardiff)
 c. 1900, George Edward Lear Hillier, Guernsey island
 c. 1900. Tolson & co., Kent
 1905, Cambridge st, London
 1905, Collard's butchers, Redcliffe Hill, Bristol
1906, Hammond butchers, Peterborough
1908. Tunbridge Wells butcher shop
 1909, John Hampshire Nettleton's butcher shop, in Ossett
 1910, butcher shop at Camden Road, Tunbridge Wells
 1910, Durrants butcher, Lower Edmonton
 c. 1910, Barcombe
c. 1910, Castle street, Glascow
c. 1920. Brown & co. butcher, Northampton
 
AUSTRALIA
 1878, the butcher, his wife, their twin daughters
and a friend in front of the shop, Victoria
c. 1895, butcher's shop and residence, Caboolture-Queensland
 c. 1910, James Knight's butcher shop in Christchurch (prov. High Street)

NEW ZEALAND
 
 USA e Canadá aqui 


A VENDER CARNE HÁ MAIS DE 100 ANOS (I)

BUTCHERING FOR OVER 100 YEARS AGO

São talhos, senhor, são talhos. Com carcaças perfeitamente alinhadas e simétricas, aventais imaculados e poses sérias, pois tirar uma 'chapa' era um evento, e a imagem contava, hoje como ontem: come-se com os olhos. Poder-se-ia pensar que a carne foi quase toda trazida para a rua, de propósito para a ocasião, mas o facto é que a mercadoria era habitualmente 'exposta' aos fregueses... e às varejeiras.
 
USA
 1875
Reeb's butcher shop, Hornitos-California
c. 1890, Minnesota 
 1896, Johnson Bros. meat market, Hopkins-Minnesota
 c. 1900, Minnesota
 c. 1900, students in a butchering class, Minnesota
irish meat market, c. 1901
 c. 1903-1909, Maxwell street, Chicago
 1904 Dez. Reutter's meat market, Lansing-Michigan
1900s, Chesman Masterman's market, Framingham-Massachussets 
 c. 1905, butcher shop in Watney st., Parkston-South Dakota
 c. 1905, Minnesota
 c. 1905, Nathaniel “Dan” Grosz’s butcher shop in Parkston-South Dakota
 c. 1910, butcher shop, Cambria City-Pennsylvania
 c. 1910, Minnesota
 workers and shoppers outside of 2 butcher shops, each one
serves different ethnic groups Cambria City-Pennsylvania
 early 1900s, William Carlson butcher, Minnesota
 
CANADA
 c. 1890, butchers shop, Vancouver
 1890s, Lawrence Goodacre's butcher shop at Christmas, Vancouver
 1898, Braden & Co. butcher shop, Cordova St, Vancouver
  1910, William Davies store, Toronto
 1915, civic abattoir, Toronto
 1918., butcher shop, Vancouver
Pare meat market, Bedford, Quebec

UK, Austrália e N. Zelândia aqui