segunda-feira, 11 de julho de 2011

MNAA 1. SENHORA COM BRINCO DE PÉROLA

Finalmente.
Já o escrevi, vivi 1 ano às Janelas Verdes, muitas vezes me sentei no jardim fronteiro, com vista para o Cais da Rocha do Conde de Óbidos, e nunca entrei no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA).
Foi agora, aproveitei a proximidade e fomos turistas por uma tarde. Como se compreende, ver a Sé de Lisboa, o castelo de S. Jorge e o MNAA é uma prova de velocidade.
Por isso, posso dizer que não visitei o museu, fiz um raide de hora e meia. Dada a imensidão do acervo, foi quase uma checklist: visto, visto,...
Há um conjunto de obras incontornáveis, como os painéis de S. Vicente, os biombos Namban e o Bosch (todos eles merecem uma exaustiva exploração em quadrícula - e, quais separatas, os posts seguintes) ou os quadros que conhecemos dos livros de história, mas ainda santos de 700 anos com carunho, porcelanas e pratas, mobiliário europeu e asiático, vários séculos de pintura. Uma colecção enriquecida recentemente com a doação do espólio de Francisco Castro Pina, em exibição até Outubro. 

Fomos bafejados com um 2-em-1: decorre até 4/9/11 uma parceria entra o MNAA e o Museu de Design e Moda (MUDE), com intercâmbio de peças.
Como uma provocação, encontramos uma 'sacrílega' jarra de aço a fazer pendant com a custódia de Belém, uma pilha de gavetas usadas e presas com fita junto de contadores com pedigree, uma cadeira de peluches ao lado de vitrines de porcelanas, um tubo de canalização 'casado' com jarras de cristal, ou um vestido de Gualtier no centro da sala oitocentista doada por Antenor Patino.
Ou, o que já é devaneio, a prostração dum cão-robot aos pés dum argêntico centro de mesa com galgos e corneta, confiscado por D. José à casa ducal de Aveiro, depois de ter mandado executado a família toda - foram-se os anéis e nem ficaram os pescoços.
Vantagem, no MNAA podem tirar-se fotografias, inclusivé das peças do MUDE, que o proíbe (aliás, no sítio matriznet, o museu apresenta generosamente cerca de 2500 peças).
Bem, fui ao museu com a minha mãe, que já lá não entrava há mais de 40 anos (curiosamente, nessa altura também usava sentar-se no meu jardim, invejando os barcos que zarpavam para Angola e contando os dias até à sua vez de regressar). Gostou do sprint, mas maldisse a parceria: uma esquisitice, a presença de peças que "não têm nada a ver". Disse uma senhora que tem 3 furos numa orelha e usa 4 brincos desirmanados...    

 Retrato do Rei Dom João I, autor desconhecido 1434-50
Este retrato de D. João I (o primeiro rei de Portugal de quem se conhece um retrato pintado) apresenta o monarca em atitude de oração, com as mãos postas. O rosto, ligeiramente de perfil, encontra-se rapado até às têmporas, de acordo com a moda flamenga da época. Veste saio vermelho com gola de marta que descobre parcialmente a gola do gibão de brocado negro e ouro. Na moldura corre a seguinte legenda: "Hec est vera digne ac venerabilis memorie Domini Joannis defucti quond (am) Portugalie nobilissimi et illustrissimi Regis ymago quippe qui du viveret de Juberot victoria potitus est potentissima" (Esta é a vera imagem do defunto Senhor João, de digna e venerável memória, até há pouco mui nobre e mui ilustre rei de Portugal, que em sua vida se tornou muito poderoso pela vitória de Aljubarrota)
fonte: MNAA
Obras de Misericórdia, Peter Brueghel o moço 1601-25
 Túnica, Jean-Charkes Castelbajac 1986
 Jerónimo de Strídon, Albrecht Dürer 1521
 Cadeira banquete, Fernando e Humberto Campana 2004
 Afonso de Albuquerque, autor desconhecido 1555-1580
 S. Vicente (fólio 284, Livro de Horas de D. Manuel I)
atribuído a António da Holanda 1517-51
Armário You can´t lay down your memory, Tejo Remy 1991

Vestido L'Écume des Jours, Jean Paul Gualtier 1999
(ganga e penas de avestruz)
 Painéis de S. Vicente, Nuno Gonçalves 1467-1470
D. Sebastião, Cristovão de Morais 1572-74
 Centro de mesa, Casa de Aveiro (1729-31)
 Cão-robot Supercore AIBO, Sony Corp. 2000-02
Floreira, Caldas da rainha (séc. XIX)
Um deputado às Cortes de 1921, Domingos António de Sequeira

O Museu ocupa o Palácio Alvor-Pombal (em honra do 1º proprietário, Francisco de Távora e Conde de Alvor, e do marquês iluminado, cujas armas ornamentam os portais exteriores, tendo o irmão Paulo de Carvalho comprado o edifício em 1769), datado de 1690 e virado para a Rua das Janelas Verdes, e o terreno contíguo onde existia o convento de Santo Alberto (de carmelitas descalças) cujas ruínas foram demolidas em 1918. Esta ala, inaugurada em 1940, está virada para o jardim 9 de Abril. 
O Museu das belas-Artes e Arquelogia abriu em 1884, para albergar o acervo nacionalizado com a extinção das ordens religiosas em 1834 (imediata no caso de frades, com a morte da última residente, no caso das freiras). Em 1911 adquiriu o nome actual, tendo engordado com o espólio da casa real, em particular do Palácio das Necessidades. 

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