quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A GERAÇÃO SEGUINTE



Não a despropósito, “Uma no bravo e outra da ditadura” é o novel documentário-filme de André Valentim Almeida, sobre a geração nascida por alturas do 25 de Abril. Uns 4-5 anos mais nova que nós, que “já estávamos em algum lugar no 25 de Abril”, como diria o herman.
Também eles são do tempo em que havia menos de tudo: estradas, marcas, canais de tv, jogos, até restaurantes étnicos. Eles foram os últimos a entrar mais ou menos rapidamente no mercado de trabalho, os últimos que “cresceram a ver as mesmas coisas”: havia 1 canal e ½ e a televisão era o centro da casa (com dias e horas, o telejornal demorava 30 minutos, dava a novela e o filme começava às 9.30 – uma horário de jeito), todos viam o mcgyver e aquele carro comandado por um piroso que dizia kit-te-necessito, todos assistiam à votação de Faro no festival das canção. Enfim, todos partilhavam um “património de referências comuns” – nesse aspecto, era uma geração monolítica.
Padecendo de saudosismo precoce, são os últimos que se lembram vagamente de antiguidades como o beta e o vhs, os telefonemas na cabine, as calças boca-de-sino, o calcanhar do Madger: “Passaram da idade da pedra para a supermodernidade"* disse Hugo Mãe, e nem o mais crente acreditava que todos teriam pc e que todos os computadores iam estar ligados - "é uma geração que não é completamente antiga, mas também não é completamente moderna, como aqueles cidadãos sem-pátria” definiu Pedro Mexia.
A geração pisang ambom, como lhe chama Pedro Ribeiro (pois esse tantum verde era a bebida mais radical que havia), a quem foi permitido ser infantil até muito tarde, teve mais anos de escola para tentar chegar a ter tanto como os pais, privatizou a felicidade e substituiu as grandes aspirações e causas da democracia e liberdade (a maioria dos pais não as tinha, mas isso é outro rosário…), por problemas banais da vidinha de cada um – mas isso é bom!, é sinal que os grandes problemas estão resolvidos, acha João Pereira Coutinho.
Bem, é 1 hora de película. Vá, abdiquem dum episódio de novela ou do CSI.

* O sentimento não é original. O escritor Ramalho Ortigão sentiu o corte com o passado, em 1887: “Dir-se-ia que os nossos pais morreram para nós muito mais completamente do que morreram para eles os seus avós e os seus bisavós, levando consigo, ao desaparecerem, tudo quanto os rodeava na vida: a casa, o jardim, a rua que habitavam.”

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