segunda-feira, 30 de agosto de 2010

MORTE À MONARQUIA



Ora vejamos: um Rei que não governa (limitado nos seus poderes desde 1834, a monarquia constitucional era na prática uma república com rei), um regime moribundo e o partido no poder ganha todas as eleições, até ser trocado pelo monarca, numa base rotativa. Preparados para a confusão de nomes de ruas?
Os republicanos não só não foram inibidos, como foram favorecidos no jogo partidário. O Centro Republicano (criado em 1876, animado pela implantação da república espanhola em 73) foi protegido pelo governo regenerador do Fontes Pereira de Melo, para desgastar os progressistas, ajudando o republicano José Elias Garcia a chegar à presidência da câmara de Lisboa (a Bernardino Machado, FPM diria “A República virá, mas tarde; não precisamos dela, porque fazemos tudo o que ela faria”). Depois foram os progressistas de Braamcamp, em 81 e em 90, de volta à oposição, a votar nos candidatos republicanos, para fazer mossa nos regeneradores.
Entre 1893 e 1906, o regenerador Hintze Ribeiro e o progressista José Luciano de Castro governavam à vez, chegando a distribuir previamente os deputados, trocando votos nas eleições e partilhando a gamela – perceberam, como disse Luciano, “a conveniência de ser feita a eleição pacata e sossegadamente por combinação entre todos”. A la-ta.
A correr por fora (mesmo titubeante e não concorrendo a eleições entre 1900 e 1904), o populismo nacionalista e anticlerical dos republicanos capitalizou os votos de protesto, com uma organização eficaz e agitprop, enquanto os dois principais partidos se pulverizaram em facções.
Depois havia os dissidentes, ora veladamente apoiados pelo partido grande do outro campo (Luciano emprestou deputados ao ex-regenerador João Franco), ora patrocinadores dos republicanos, como o ex-progressista José de Alpoim – inimigo do meu inimigo, meu amigo é. “A República não pode vir dum assalto dos republicanos, poderia vir do esfacelamento dos partidos constitucionais”, bem escreveu Oliveira Martins em 1889.
Agora junte-se um país atrasado e analfabeto, com as finanças públicas sempre no vermelho, o vexame do tal mapa cor-de-rosa com a Inglaterra, um rei mal amado (“tudo o que se faz de mal, é o rei quem o faz”, diziam os descontentes) que precisava de “adiantamentos” para pagar as contas - o subsídio real, muito baixo, não era aumentado desde 1821.
Em 1907, João Franco não é demitido por D. Carlos, para surpresa dos progressistas que lhe tiraram o apoio parlamentar, e ainda suspende o parlamento (o que não era inédito), governando por decreto – i.e., ditadura. Os políticos do Centrão viram-se ao fim de décadas apeados do poder e semearam protestos e vaias ao rei, e alguns declararam-se republicanos. João Franco insistiu em liquidar mais empréstimos à casa real, os malditos “adiantamentos”. D. Carlos avisou o ditador, “estamos diante de uma fogueira que desejamos apagar, e não se apaga fogo lançando-lhe lenha”. Meu dito, meu feito, a 1 de Fevereiro de 1908, era morto na Praça do Comércio.

Voltaram os governos dos 2 velhos partidos, agora fragmentados em 7 grupos, e o despeito de quem ficava de fora – só eram monárquicos os políticos a quem o rei confiava o poder, disse um diplomata em 1909 (D. Carlos, parece, dizia haver uma monarquia sem monárquicos). E deixaram um galvanizado partido republicano crescer em votos, ganhando a câmara de Lisboa com 8000 votos, em 450000 habitantes.
Na noite de 3 de Outubro de 1910, umas centenas de militares saíram à rua, ninguém defendeu a monarquia. Um par do reino aceitou a república justificando que “a monarquia que existia não merece o sacrifício” de ninguém.

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